Edíria Carneiro, uma mulher avançada e combativa
Em 1946 frequenta o curso livre de Artes Gráficas da Fundação Getúlio Vargas, onde foi aluna de Axl Leskoschek (xilogravura), Carlos Oswald (gravura em metal) e Santa Rosa (pintura).
Seu comprometimento artístico, no entanto, tinha uma característica avançada, revolucionária mesmo. Nos anos seguintes passou a ilustrar jornais e revistas como A Classe Operária, órgão central do Partido Comunista do Brasil, fundado em 1925, o Momento Feminino, e participou ativamente da confecção de cartazes e folhetos políticos. Em 1960 e 1961, frequenta o atelier livre de pintura da Prefeitura de Porto Alegre, onde estudou com o artista Iberê Camargo. Nessa década de 1960 participou do Núcleo de Gravadores de São Pulo (Nugrasp), desde a sua fundação.
Companheira de João Amazonas, Edíria sofreu as agruras e vicissitudes do trabalho clandestino sob as ditaduras. Em função do arbítrio do regime militar que passou a dirigir o governo brasileiro através do golpe de 1964, já de 1976 a 1981 foi obrigada a se exilar em Paris, França, quando o Brasil vivia sob as restrições violentas à democracia. Foi então que Edíria frequentou o famoso “Atelier 17” de S. W. Wayter. Nesse período também participou de estágios nos ateliers de Henri Goetz e Joelle Serve.
Suas principais exposições foram em 1969, na X Bienal Internacional de São Paulo, e na seguinte, realizada em 1971. Depois participou da II Bienal de Artes Plásticas da Bahia; da Bienal de Santos; da Bienal Nacional de São Paulo; de 1963 a 1968, do Salão Paulista de Arte Moderna; e do Salão Paulista de Arte Contemporânea, de 1969 a 1974. Entre 1977 a 1981, Edíria apresentou obras no Salon D’Autone, em Paris, no Salon dês Artistes Français, e no Salon Internacional del Grabado, em Madri, Espanha.
Outras exposições importantes das quais participou foram em Washington, nos Estados Unidos, em 1961, em São José dos Campos, em 1969, em Santo André, também em 1969, no Rio de Janeiro, em 1971, em São Paulo, em 1972 e em 1974, em Paris, na França, em 1981, em Havana, Cuba, em 1991, em Taiwan, China, em 1991, em Madri, Espanha, por três anos seguidos, de 1994 a 1998, em São Paulo, 2005, em Brasília, em 2006, em Campos do Jordão, interior de São Paulo, em 2006 e em Campina Grande, Paraíba, em 2008.
Edíria Carneiro ainda tem obras nos acervos do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), no Museu de Arte Moderna de Skoplje, na Iugoslávia, no Museo del Grabado, em Buenos Aires, Argentina, e no Cabinet D’Estampes de la Bibliothèque National em Paris, França. Ao lado desta intensa atividade artística nacional e internacional, nossa Ediria dedicou-se intensamente à luta política, participando de várias organizações de base do Partido, desde a base da sede nacional no Rio de Janeiro até a tarefa de professora de cursos de formação política junto à organização dos portuários e trabalhadores da construção naval em Niterói.
Mas Edíria nunca deixou de fazer seu trabalho de gravurista renomada, até quando teve forças para tal. Depois, com a dificuldade de trabalhar com uma prensa que exigia muita força física, passou a desenhar aquarelas e pinturas a óleo. Sempre com a temática da denúncia da situação social do povo, das mulheres em especial, para as quais dedicou exposições inteiras. Reuniu forças, inclusive, para elaborar texto teórico sobre sua concepção de arte moderna na revista Princípios, da qual era uma de suas colaboradoras, assim como da revista Presença da Mulher, onde desenhou várias capas de suas edições. Sua última exposição, aliás, ainda está montada no salão da sede nacional do Partido no bairro República, em São Paulo.
Uma de suas derradeiras tarefas foi a de criar seu cartão de final de ano, que ela todo mês de novembro fazia questão de pintar e ceder à direção de seu Partido, o PCdoB.
Seu exemplo de simplicidade pessoal, capacidade intelectual, brilho artístico e dedicação à causa do socialismo estará sempre presente entre nós.
* Renato Rabelo é presidente do Partido Comunista do Brasil