Sou daqueles que acha que criticar a sociedade é culpar as vítimas. Os responsáveis por esse crime precisam ser claramente apontados. Não é tarefa fácil. Somos, todos — uns mais outros menos, uns bem mais e outros bem menos —, impregnados de idéias machistas. Somos frutos de séculos de usos e costumes que nos legaram e nos moldam, transmitidos em bancos escolares, filmes, livros mostrando feitos caricaturados dos Vikings, das legiões de César, de guerras de conquistas e vai por aí afora.

Raramente vemos coisas de Joana D’Arc; de Norma Rae; de Dolores Ibárruri Gómez (La Pasionaria); das brasileiras heroínas de Tejucapapo, em Pernambuco, contribuindo para expulsar de nosso solo os invasores holandeses; da esposa dedicada de Felipe Camarão, Clara Camarão, lutadora destemida; da grande mineira, inspiradora e dirigente da Inconfidência Mineira, Bárbara Heliodora; e das grandes combatentes da independência, Joana Angélica e Maria Quitéria, que deram seu sangue nas lutas da revolução de Dois de Julho na Bahia.

Não esqueçamos o vulto invulgar da grande gaúcha Anita Garibaldi, que tantos sacrifícios soube enfrentar, juntamente com seu marido, nas lutas dos Farrapos, em 1842. Todos esses são vultos que enchem as páginas de nossa história, além de centenas de outras mulheres que contribuíram, anonimamente, para a formação do povo brasileiro.

Creio ser tarefa de todos nós, homens e mulheres, desmascarar essa farsa que a mídia tenta montar para isentar os verdadeiros criminosos. Não é só um problema pessoal de quem quer que seja. É um problema social, que precisa ser devidamente apontado, apresentado soluções para ele. E a solução, além da exigência de punição exemplar, é ir à raiz da estrutura dessa sociedade, que precisa ser demolida para em seu lugar erguer um país de justiça, de igualdades e de liberdades iguais para todos, efetivamente.

Fonte: O Outro Lado da Notícia