O veto da Rússia e China
A reação do imperialismo ao veto foi delirante. A representante dos EUA na ONU, Susan Rice, declarou que “aqueles que bloquearam o último esforço para resolver pacificamente esta questão terão as suas mãos manchadas pelo sangue que se verterá no futuro” (CNN, 5.2.12). Além de confirmar que se verterá mais sangue com uma “solução” não pacífica – na qual os EUA assumirão o seu habitual papel de primeiríssimo plano – a sra. Rice não conhece o sentido do ridículo. Representa um país que tem, não apenas as mãos, mas todo o seu corpo submergido em caudalosos rios do sangue de muitos milhões de mortos e vítimas dos seus crimes de guerra.
O cada vez mais patético secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, afirmou que o veto “enfraquece o papel da ONU e da comunidade internacional” (“Televideo RAI, “4.2.12). Faz de conta que não sabe que o preâmbulo da Carta da organização a que preside começa dizendo: “Nós, os povos das Nações Unidas estamos determinados a salvaguardar as gerações futuras do flagelo da guerra…”.
Durante o seu mandato, Israel lançou o criminoso ataque militar contra a faixa de Gaza, sem que BKM tenha achado seu dever intervir ativamente pela paz. Na sua recente passagem por Gaza, BKM foi acolhido por “dezenas de palestinos num protesto hostil […]. Muitos eram familiares de presos palestinos nos cárceres de Israel, zangados com a recusa de Ban Ki Moon em se encontrar com eles para discutir as condições dos presos. Alguns atiraram-lhe sapatos e mostravam cartazes onde se lia “chega de favorecimento de Israel” (BBC, 2.2.12).
Ouvem-se pias afirmações de que a resolução agora vetada não previa uma intervenção militar e já não continha passagens apelando a uma mudança de regime. Também a resolução 1973 sobre a Líbia não dizia nada disso. “Apenas” decretava um embargo de armas, a interdição aérea, falava em proteger civis e em soluções pacíficas. Mas Sirte e outras cidades foram arrasadas pelas bombas da NATO. Houve dezenas de milhares de mortos.
O “New York Times” (21.1.12) agora confessa que o linchamento de Kadafi teve a participação dos “drones” (aviões não tripulados) dos EUA, que estiveram em ação “até ao último dos ataques, que atingiu a caravana do Coronel Kadafi no dia 20 de Outubro e levou à sua morte”. A imprensa ocidental confessa agora (só agora) que os “rebeldes” que a Otan colocou no poder torturam sistematicamente.
Até a organização Médicos sem Fronteiras se retirou da “livre” cidade líbia de Misrata por achar que “a nossa missão é dar cuidados médicos a feridos de guerra ou presos doentes, e não tratar repetidamente os mesmos doentes por entre sessões de tortura” (“ Independent”, 27.1.12).
Quem estiver impressionado pela desinformação sobre a Síria deve recordar as mentiras – monumentais – com que nos venderam todas as anteriores guerras imperialistas. Lembrar que o embaixador de Portugal em Tripoli desmentiu, aos microfones da “Antena 1” no dia 23.2.11 as “notícias” de massacres a partir de aviões – citados como fatos na Resolução 1973 da ONU, que o governo Sócrates votou favoravelmente – tal como o Governo Passos-Portas fez agora – numa clara afronta à nossa Constituição.
Deve dar ouvidos às denúncias dum ex-agente da CIA, Philip Giraldi (na revista “American Conservative”, citada em “globalresearch.ca”): “Aviões da Otan sem identificações estão a chegar às bases militares turcas perto de Iskenderum, na fronteira síria, transportando armas dos arsenais do falecido Muamar Kadafi, bem como voluntários do CNT líbio […]. Iskenderum é também a sede do Exército Livre Sírio, braço armado do Conselho Nacional Sírio. Instrutores das forças especiais francesas e britânicas estão no terreno, assistindo os rebeldes sírios, enquanto a CIA e Forças Especiais dos EUA fornecem equipamento de comunicações e informações para ajudar a causa rebelde, permitindo aos seus combatentes evitar concentrações de soldados sírios”.
A agressão externa já começou. O imperialismo em profunda crise está a atear fogo ao planeta. O veto na ONU foi positivo. Mas cabe aos povos a palavra decisiva em defesa do seu futuro coletivo.