Cracolândia
 

A Cracolândia, lugar imaginário e real, era coberta pela névoa
paulistana. Muitos barcos singravam tais “águas” turvas e vaporosas.
No comando de cada  timão, apenas o destino. Os fluidos que
sustentavam os barcos, misto de névoa e água pareciam de pouca
densidade, porém assim mesmos os tripulantes, qual espíritos
desencarnados,  não tinham massa nem peso. Os barcos deslizavam para
lá epara cá, surfando na crista das pequenas ondas silenciosas, de um
mundo fantasmagórico, pleno de gemdidos de dor. Sob as pontes de águas
turvas, seres humanos relegados à vida vegetativa, sucumbiam-se nas
drogas. Velhos casarões, qual barcos abandonados no Mar de Sargaços,
estavam cheios de sombras que um dia foram gentes. Pessoas, como eu
mesmo, desviavam daquela direção: era melhor não ver, para não se
culpar. Agora, velhos encouraçados que protegiam uma grande prole de
desafortunados, vieram abaixo. A vergonha ficou exposta. O rei ficou
nu! Nossa culpa por anos de afirmações virtuais, volta com força. A
prole de desafortunados, juntos com os cães pit-bulls abandonados,
saem por aí, fazendo pequenos biscates e roubos, para manter o vício.
-Fim para o nevoeiro!
-Acorda São Paulo; acorda Brasil; acorda Mundo!


 Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem textos publicados em 7 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de três outros publicados em antologias junto a outros escritores.