PRÓLOGO


Chegou a hora de incendiar as palavras

e atiçar fogo na noite escura.

Ah, erga-se o facho das estrelas

nesta noite de puro abril:

quero a luz derramada

sobre a chaga do meu peito

e a sangria de minhas mãos à mostra.

 

E que não me venham dizer que não é tempo

de falar de flores e que

passou-se o tempo de falar de amores.

Eu, do meu lado, não me cansei ainda

de amar com meu amor desesperado.

(Mesmo não havendo intervalo

no calendário de minhas dores).
 


Mesmo que me digam: “Não é tempo de falar de amores”,

eu viro as costas e não me importo

e abro as portas dos meus tumores.


Tudo que habita na retina do meu olhar

são os passos largos do barco fundo

no mar imenso do procurar.
 


Esta noite, sob o manto das estrelas,

erguerei o incêndio das palavras!

Venham todos assistir o grande espetáculo:

não vês, na vidraça dos meus olhos,

uma colméia de abelhas? Uma centelha

desesperada, debulhando raios de luz?
 


Eis o prenúncio de um grande acontecimento.

(Não haverá gozo nem sofrimento,

mas a explosão da lucidez de um louco).


Venham todos! Vou incendiar o mundo

com um só dos meus olhares.

(Eu mesmo sou uma aldeia

e o meu coração pode matar a sede

de todos os mares).
 


Ah, eu peço pelo amor de Deus ou do demônio:

abram as comportas do mundo.

Façam silêncio por um segundo:

aqui existe um homem incendiado de amor

e um coração que vai saltar pela janela do peito!

 

Tagore Biram – Pseudônimo de Ubitaram Moreira. Nasceu em Olhos d’Água, antigo distrito de Anicuns e hoje município de Americano do Brasil – GO.
Filho de pais lavradores.

Em 1985 viajou para a ex-União Soviética, participando, como delegado do Festival Internacional da Juventude e de um encontro de jovens escritores russos, que resultou numa antologia que reúne alguns de seus poemas.

Foi eleito presidente do Comitê Pablo Neruda de Solidariedade ao Povo Chileno.

Faleceu em Concepción, Chile, no dia 14 de junho de 1998 e foi enterrado em Goiânia.

Obras publicadas

Flauta noturna, poemas. 1981;
Poemas do amor e da ausência, poemas. 1983;
O anjo desafinado, poemas. 1987.