Após a saída de Robert Zoellick do Bird, emergentes como Brasil e China insistem que é hora de o monopólio americano no banco ser quebrado desta vez — mas até agora não lançaram candidatos. Os EUA, porém, já deixarem claro que não abrirão mão do controle do banco, até para mostrar, num ano eleitoral, que não perderam influência na governança global. Segundo o secretário do Tesouro, Tim Geithner, os EUA proporão um candidato nas próximas semanas.

“É inconcebível que os europeus e americanos também conseguirão a direção da OMC, depois de manterem o controle do FMI e do Banco Mundial”, diz o professor de Comércio Internacional Simon Evenett, da Universidade de Saint Gallen, na Suíça. “A próxima será a vez de um representante emergente — e isso poderá até facilitar a conclusão de acordos na OMC.”

Já para Amrita Narkilar, professora da Universidade de Cambridge com estudos sobre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), “os sistemas de seleção de direção no FMI e Banco Mundial estão completamente errados, e dois erros não resultam numa terceira decisão correta”. Ou seja, não é replicando a mesma prática na OMC que a governança será equilibrada. “Mas os negociadores dos Brics são inteligentes e, formando uma sólida aliança e não aparecendo divididos, como na última vez, poderão legitimamente obter o cargo.”

As primeiras discussões informais sobre o futuro substituto do francês Pascal Lamy como xerife do comércio mundial começaram em Davos, à margem do Fórum Mundial de Economia. Os candidatos serão conhecidos até dezembro, e a eleição ocorrerá em abril de 2013. Até agora, só as Américas e a África ainda não dirigiram o órgão multilateral de comércio.

A disputa já começou a causar confronto entre os países-membros. A Índia, de olho na sucessão de Lamy, bloqueou a escolha de um representante de Cingapura para presidir neste ano o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC). É que o escolhido para esse cargo será o presidente do Conselho Geral, entidade máxima da OMC, no ano que vem, e estará no centro da seleção do futuro diretor-geral, junto com dois outros representantes de países desenvolvidos.

Só que, para a Índia, Cingapura não é um país em desenvolvimento e, assim, a escolha do futuro diretor estaria controlada totalmente pelos desenvolvidos. Depois de muita confusão, os indianos aceitaram um representante do Paquistão no comando do OSC.

Na OMC, não há eleição. Um comitê de três membros faz consultas com os países para aferir o consenso em torno dos candidatos e sugere ao final um nome. Já aconteceu no passado de os países recusarem a indicação e, na disputa, o mandato acabou dividido entre o tailandês Supachai Panitchpakdi e o neozelandês Mike Moore.

A decisão sobre o comando da OMC acabará sendo do G-5 — EUA, União Europeia, China, Índia e Brasil. É difícil que americanos e europeus aceitem um chinês à frente do comércio mundial, já que Pequim é alvo de boa parte dos conflitos na OMC, e também por conta da competitividade chinesa. Já a Índia tenta recriar na OMC o G-77, de países em desenvolvimento, numa posição mais radical que dificulta o entendimento com os desenvolvidos. E não há nenhum nome significativo da África.

Resta o Brasil. Em Davos, várias delegações queriam saber quando o país lançaria a candidatura de seu embaixador junto à OMC, Roberto Azevedo. Ele tem ótima reputação na OMC e é visto como capaz de estimular as partes para alcançar consensos e como um “honest broker” (mediador neutro).

Mas certos negociadores notam que o Brasil conquistou recentemente a direção da Agência da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO). Ao mesmo tempo, o país aprofunda uma política de proteção comercial, cada vez mais criticada pelos parceiros. Enquanto isso, o ministro de Comércio da Nova Zelândia, Tim Groser, já vem tentando aparecer como candidato de consenso entre ricos e emergentes.

Com informações do Valor Econômico