Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Comunicação

    mão que (não) balança o berço

    mão que (não) balança o berço   Espiral da vida, escada retorcida, raios de roda que se retorcem no biciclo da existência. Escada espiralada, corda, cordão umbilical, a vida um caracol, casa de caramujo, a ostra em sua concha, uma criança. A triste noite, o berço ausente dentro da noite, sem o beijo de afeto, […]

    POR: Redação

    3 min de leitura

    mão que (não) balança o berço
     


    Espiral da vida,

    escada retorcida,

    raios de roda que se retorcem

    no biciclo da existência.

    Escada espiralada,

    corda, cordão umbilical,

    a vida um caracol,

    casa de caramujo,

    a ostra em sua concha,

    uma criança.

    A triste noite,

    o berço ausente

    dentro da noite,

    sem o beijo de afeto,

    sem a mão de mamãe

    que balance o berço,

    sem canção de ninar,

    nenhum gesto

    de amor.

    Na configuração do DNA,

    o ser que há,

    o que é,

    o que seria,

    o que será,

    o que haveria

    de ser.

    DNA de quase NADA,

    de neném mal-nascido,

    filho de mãe desnaturada,

    prematuro e sem futuro.

    Parido escondido,

    assassinado ou descartado

    na água suja de um lago surdo,

    no lote vago, insalubre,

    onde quer que seja

    e se despejem

    os crimes da urbe.

    Fetos no lixo, abortos,

    pasto de abutres.

    Bebês vivos, incômodos,

    largados feito bichos

    no abandono.

    Frutos e rejeitos

    de úteros malditos.

    O pequenino corpo

    envolto em saco plástico,

    atirado às rodas dos carros,

    uma crosta sem rosto

    colada no asfalto.

    Hediondo

    mundo sórdido.

    “Surto pós-parto”,

    um após outro,

    recurso psiquiátrico

    ou pretexto

    para assassinato?

    A resposta oculta

    na placenta,

    ou nem nunca

    que se inocenta

    a culpa transparente

    no silêncio dos inocentes.

    Nada que se faça

    trará de volta

    os meninos mortos,

    nada mudará esse fato,

    senão que se salvem outros

    recém-nascidos.

    O que mais assusta

    nos atos insensatos

    e desalmados,

    é o monstro

    que nos fita

    por trás de tudo.

     

     

     

       Valdivino Braz é jornalista, escritor e poeta. Secretário-geral reeleito da União Brasileira de Escritores – Seção de Goiás (UBE-GO), em Goiânia. Publicou 14 livros, seis deles premiados em concursos. Com “A trompa de Falópio — Rapsódia de Homero Canhoto” (poemas) foi vencedor do Prêmio Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte/1992. Dois de seus livros publicados são de contos. Acaba de lançar o romance “O Gado de Deus”, que, com outro título, recebeu menção honrosa no Concurso Nacional de Romance do Paraná/1993. Entre chocante, hilária, herética, escatológica e contundente, a obra tem o subtítulo de “Livro do ressentimento” e prima pelo cunho sociopolítico. Uma paródia e sátira ao golpe militar de 64, à história pátria e ao caráter macunaímico da sociedade brasileira. Obra típica de um professo anarcopensador e franco-atirador verbal, sem dourar a pílula de quem quer que seja. Braz recebeu, em 1996, o Troféu Tiokô de Poesia, da UBE-GO. Em 2004, foi agraciado com o Troféu Goyazes de Poesia Leodegária de Jesus, da Academia Goiana de Letras (AGL).

     

    Notícias Relacionadas