O Aguçamento da Concorrência das Potências Imperialistas nos Países da América Latina
O aguçamento de todas as contradições próprias ao imperialismo representa a particularidade característica da atual situação nacional. O colapso do mercado mundial único, a retração da esfera de aplicação dos meios dos principais países capitalistas aos recursos mundiais, a militarização da economia desses países, a queda da capacidade, e o agravamento das condições de escoamento no mercado mundial do capitalismo, — tudo isso intensifica a concorrência entre os países imperialistas. Nos países da Europa Ocidental e do Oriente Próximo, do Sul e do Sudeste da Ásia, da América e da África, em toda parte em que domina o capital, verifica-se uma luta encarniçada entre as diferentes potências capitalistas pelos mercados de escoamento e pelas fontes de matérias-primas, pelas esferas de aplicação do capital e por territórios estrangeiros.
A América Latina é uma das regiões de aguda concorrência entre os monopólios. Os monopólios dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França e, também, da Alemanha Ocidental e do Japão esforçam-se por fortalecer suas posições econômicas nessa vasta região que inclui toda a América do Sul e a América Central, o México e as numerosas ilhas que constituem as Antilhas. Ali, em 20 repúblicas, em uma superfície superior a 21 milhões de quilômetros quadrados, vivem mais de 150 milhões de pessoas. A América Latina dispõe de grande recursos naturais: é rica em petróleo, minério de cobre e de ferro, prata, ouro, platina, estanho, salitre, manganês, volfrâmio, urânio, etc. Segundo os dados publicados na imprensa burguesa, as reservas de petróleo prospectadas nos países da América Latina constituem cerca de 18% de todas as reservas do mundo capitalista; as de minério de cobre, 40%; e as de minério de ferro, 21%. A agricultura e a indústria florestal fornecem produtos tão importantes como o algodão, o trigo, o açúcar, o café, a banana, o cacau, valiosas espécies de gado, e látex.
A indústria acha-se pouco desenvolvida na maioria dos países da América Latina. A agricultura — cuja produção é destinada, em quantidade considerável, à exportação — distingue-se pela especialização estreita e apresenta, com. freqüência, um caráter de monocultura.
O atraso econômico facilita a expansão desenfreada dos monopólios na América Latina e a exploração rapace de seus recursos.
Para os monopólios das principais potências imperialistas e, em primeiro lugar, para os Estados Unidos, os países latino-americanos são não apenas uma fonte de obtenção de diferentes tipos de matérias-primas e de víveres mas, também, considerável mercado de escoamento. Em 1952 as importações dos países latino-americanos representaram 9% de toda a importação mundial. Ao mesmo tempo, a América Latina, onde, em conseqüência da cruel opressão e da ausência de direitos para as massas trabalhadoras, a mão-de-obra é muito barata, representa um campo atraente para as inversões de capital. Nesses países a taxa de lucro é muito mais elevada do que nos Estados Unidos e nos demais países capitalistas, Em 1950 couberam à América Latina 18,7% de todas as inversões de capital privado e de capital oficial feitas pelos Estados Unidos no estrangeiro.
À América Latina reserva-se importante lugar no sistema de planos militares e estratégicos dos Estados Unidos e de seus aliados no agressivo Bloco do Atlântico. Em sua luta pela conquista do domínio mundial, os círculos imperialistas dos Estados Unidos procuram utilizar as matérias-primas estratégicas dos países latino-americanos, seus territórios e, principalmente, seus recursos humanos. O conjunto de todos esses fatores explica porque a América Latina é objeto de aguda concorrência entre os principais países capitalistas.
As contradições imperialistas na América Latina manifestam-se em condições tais que em muito países latino-americanos se formou ou forma uma burguesia própria, que, por sua vez, deseja conseguir lucros resultantes da exploração e ruína das massas trabalhadoras. A caça ao lucro leva certas camadas da burguesia da Argentina, Brasil, México, Guatemala, Bolívia e outros países latino-americanos a se oporem à desenfreada expansão econômica das principais potências capitalistas. A intensificação do movimento de libertação nacional dos povos da América Latina tem também grande significação. Convencendo-se, por experiência própria, de que a expansão dos países imperialistas — particularmente os Estados Unidos — acarreta aos povos a miséria e a ruína, os trabalhadores desses países intensificam a luta contra o domínio dos monopólios estrangeiros. Isso dificulta a penetração do capital estrangeiro na América Latina e, ao mesmo tempo, complica ainda mais a concorrência das potências imperialistas nessa região.
No passado, no decurso de muitas décadas, a Inglaterra dominou a América Latina. A Inglaterra ocupava o primeiro lugar quanto as inversões de capital e representava papel decisivo no comercio exterior dessa região. Entretanto, já em fins do século passado o capital inglês começou a sentir, cada vez mais agudamente, a concorrência norte-americana. Já então o capital francês principiava a manifestar elevado interesse pela América Latina.
A primeira guerra mundial acarretou expressiva redistribuição de forças: em muitos países da América Latina a Inglaterra foi relegada paia o segundo lugar — depois dos Estados Unidos — e a França começou a ocupar o terceiro lugar. Durante a década de 30 iniciou-se uma intensa expansão da Alemanha e do Japão. Os monopolistas alemães e japoneses conseguiram êxitos significativos em alguns países latino-americanos; enfrentavam a concorrência dos monopólios de outras potências capitalistas, inclusive os Estados Unidos. A segunda guerra mundial levou ao fortalecimento da situação dominante dos Estados Unidos nos países da América Latina. O imperialismo norte-americano aumentou bruscamente a exportação de capital para esses países e seu comércio com os mesmos; de fato colocou sob seu controle todos os aspectos de sua vida política e desenvolveu amplamente ali sua expansão ideológica.
A primeira e segunda guerras mundiais e também a guerra na Coréia tiveram como conseqüência o enfraquecimento das posições das potências européias na América Latina e, em primeiro lugar, das posições da Inglaterra. O comércio inglês com os países da América Latina é tradicionalmente feito através da troca de mercadorias: a Inglaterra está interessada tanto no escoamento de suas mercadorias como na importação de matérias-primas e de víveres. Os períodos de guerra e a conjuntura de guerra prejudicam as relações comerciais da Inglaterra com a América Latina, criam dificuldades para a produção inglesa de equipamento industrial e de mercadorias de amplo consumo destinadas à exportação. Além disso, as guerras minaram o orçamento da Inglaterra, dificultaram a concessão de créditos a longo prazo e causaram a redução da exportação de capital.
A conjuntura do tempo de guerra teve e tem outras conseqüências para os Estados Unidos. Estes — como se sabe — não só não sofreram danos materiais como também ganharam muito com as guerras mundiais. A guerra e a corrida armamentista elevam a procura de matérias-primas estratégicas por parte do mercado mundial do capitalismo. Levando isso em conta, os Estados Unidos compraram e compram na América Latina imensas quantidades de matérias-primas e de víveres para ampliar sua produção militar ou ‘para revender com lucros a outros países. Ao contrário, nos períodos entre as guerras os monopolistas dos Estados Unidos esforçam-se por utilizar os países da América Latina principalmente como mercado de escoamento para sua própria produção, realizam com eles um comércio unilateral, o que provoca nesses países a crise de dólares. Em conseqüência disso, seu comércio com os Estados Unidos se reduz, e começa a se animar seu comércio com a Europa.
A história de muitos anos demonstra que a luta de concorrência na América Latina não se acha, de forma alguma, isolada dos demais fenômenos que se verificam na arena internacional; pelo contrário: acha-se ligada aos mesmos da maneira mais estreita, deles depende e, por sua vez, exerce influência sobre os mesmos. Por exemplo: em conseqüência da nacionalização da indústria petrolífera no Irã, intensificou-se visivelmente a luta entre a Inglaterra e os Estados Unidos pelo petróleo latino-americano. A ressurreição do poderio militar e industrial da Alemanha Ocidental e do Japão, realizada com a cooperação dos Estados Unidos, também se reflete diretamente sobre a ‘luta de concorrência entre os monopólios nos países da América Latina.
A Luta Pelos Mercados de Escoamento
As condições de uma brusca retração do mercado capitalista mundial e da redução crônica do comércio dos países capitalistas, assume particular agudeza a luta dos diferentes grupos financeiros das potências capitalistas pelos mercados de escoamento. Nesse sentido, os grupos monopolista manifestam, especialmente, grande interesse em relação aos mercados de escoamento situados nos países atrasados e dependentes. Aplicando no comércio com esses países a política de imposições e medidas discriminatórias de toda espécie, as potências imperialistas conseguem imensos lucros.
No comércio com os países da América Latina os Estados Unidos estabelecem arbitrariamente os preços de suas mercadorias e, por meio da ameaça e da chantagem, conseguem baixas de preços das matérias-primas e dos víveres fornecidos pela América Latina. Valendo-se amplamente do aparelho governamental, a eles subordinado, os monopólios capitalistas dos Estados Unidos forçam suas exportações para a América Latina, defendendo ao mesmo tempo seu mercado interno com relação à importação de mercadorias latino-americanas por meio de barreiras super-protecionistas. Destroem relações comerciais multilaterais historicamente formadas, substituindo-as por relações unilaterais com os Estados Unidos. É claro que esse “comércio” e “cooperação” tem as mais penosas conseqüências para a economia dos países da América Latina.
Antes da segunda guerra mundial, a parte dos Estados Unidos nas importações da América Latina era igual a 34%, aumentando para 59% em fins da guerra. Durante os primeiros anos do após-guerra, os monopólios dos Estados Unidos continuaram a aumentar a exportação de suas mercadorias para a América Latina. Em 1946, por exemplo, os Estados Unidos exportaram para ali quase cinco vezes mais mercadorias do, que a Inglaterra. Esse aumento da exportação dos Estados Unidos se tornou então possível porque durante os anos da guerra se formou uma reserva de divisas em dólares nos países da América Latina — reserva resultante dos fornecimentos de matérias-primas e de víveres aos Estados Unidos.
A seguir, porém, a situação modificou-se. Os monopólios dos Estados Unidos, comprando durante a guerra matérias-primas e viveres a preços reduzidos, aumentaram os preços de suas mercadorias imediatamente depois da guerra. Esse “comércio” forneceu imensos lucros aos monopolistas norte-americanos e, sem atender de forma alguma às necessidades dos países latino-americanos no após-guerra, causou uma rápida redução de suas reservas em dólares. Um boletim do “National City Bank” informou que durante os primeiros três anos de após-guerra as reservas de dólares da Argentina se reduziram de 5,8 vezes; do Chile, de 2,2 vezes, etc.
Colocando suas mercadorias na América Latina a preços elevados, os monopólios dos Estados Unidos ao mesmo tempo defendiam seu mercado da penetração de alguns tipos de matérias-primas e de víveres procedentes da América Latina. Em conseqüência disso esgotaram-se 3 reservas de divisas em dólares nos países da América Latina. Esses países começaram a procurar novas possibilidades de escoamento de sua: mercadorias. As relações comerciais com a Inglaterra, que sempre necessita importar matérias-primas e víveres, começaram a se animar Deve ter-se em vista que a redução dos fundos de divisas em dólares se fez acompanhar do aumento das reservas de libras esterlinas nos países da América Latina. Por exemplo: de 1945 a 1947, segundo os dados de um boletim do “National City Bank”, as reservas de libras esterlinas da Argentina aumentaram de, aproximadamente, 40%. Alem disso, os círculos comerciais ingleses libertaram os ativos dos países latino-americanos “congelados” no Banco de Londres para ampliar consideravelmente o comércio com esses países.
A partir de 1947, a Inglaterra conseguiu celebrar com o Brasil, o Chile, o Uruguai e a Argentina acordos bilaterais de comércio à base das contas em libras. Durante 1947-1949, a parte da América Latina na exportação da Inglaterra aumentou continuadamente e, em 1949, atingiu ao nível de pré-guerra. Ao mesmo tempo, segundo dados da estatística burguesa, as exportações dos Estados Unidos para essa região diminuíram de 9 bilhões e 858 milhões de dólares em 1947 para 2 bilhões e 721 milhões em 1949. Entretanto, a animação do comercio da Inglaterra com os países latino-americanos foi de curta duração. Os Estados Unidos conseguiram — e desta vez por meio da conjuntura de guerra — enfraquecer novamente as posições comerciais da Inglaterra e privá-la das vantagens que temporariamente conquistara.
O governo inglês, ligado a todos os tipos de “obrigações atlânticas”, enveredou pelo caminho das despesas militares desmedidas. A militarização da economia colocou a Inglaterra em dependência econômica ainda maior em relação aos Estados Unidos e enfraqueceu consideravelmente suas relações comerciais com os países da América Latina. A indústria inglesa já não podia fornecer à América Latina, como anteriormente, as mercadorias industriais’ que lhe eram necessárias. Além disso, a corrida armamentista e a guerra na Coréia aumentaram a procura de matérias-primas e víveres por parte do mercado mundial do capitalismo. Os Estados Unidos começaram de novo, como durante os anos da segunda guerra mundial, a comprar em grande quantidade matérias-primas estratégicas e víveres nos países da América Latina, com o objetivo de ampliar a produção militar dos Estados Unidos, de revender com lucro a outros países e de pressionar seus aliados. O aumento da exportação dos países latino-americanos para os Estados-Unidos minorou um tanto a crise de divisas em dólares nesses países e ampliou suas trocas comerciais com os Estados Unidos. Se durante o primeiro trimestre de 1950 — isto é: antes do começo da guerra na Coréia — a exportação latino-americana para os Estados Unidos foi de 725 milhões de dólares, já durante o primeiro trimestre de 1951 aumentou para l bilhão e 281milhões de dólares. O jornal “New York Times” informou que, nesse período, os países latino-americanos forneceram aos Estados Unidos 66% de suas importações de cobre, 83% das de petróleo, 53% das de chumbo, 95% das de café, 83% das de açúcar, etc.
A conjuntura de guerra, ligada à intervenção na Coréia, provocou uma brusca redução da produção nos setores da indústria dos países latino-americanos que produzem mercadorias destinadas ao mercado interno. Em conseqüência disso começou a aumentar o desemprego, a carestia da vida, e a situação das massas trabalhadoras piorou bruscamente.
Após o início da guerra na Coréia, os círculos governamentais dos Estados Unidos — a pretexto de uma imaginária ameaça militar ao Hemisfério Ocidental e da necessidade da “defesa” conjunta — impuseram a diversos países da América Latina acordos bilaterais. Esses acordos prevêem a transferência aos Estados Unidos de uma série de importantes objetivos estratégicos nos países latino-americanos, a subordinação de seus exércitos a conselheiros e instrutores militares dos Estados-Unidos. O capital monopolista dos Estados Unidos reserva importante papel aos acordos militares bilaterais também para a realização de sua expansão comercial na América Latina. Os países latino-americanos que assinaram esses acordos são forçados a ceder aos Estados Unidos matérias-primas estratégicas e produtos semi-acabados em condições mais favoráveis às companhias norte-americanas; a não comerciar, sem o consentimento dos Estados Unidos, com os países do campo democrático, e a cumprir muitas outras obrigações escravizadoras ante o capital financeiro dos Estados Unidos. Caracterizando esses acordos, o jornal uruguaio “El Debate” disse que vibram
“um golpe mortal contra a liberdade de comércio e contra nossos interesses econômicos e também contra os interesses econômicos da Inglaterra”.
As condições criadas pela guerra na Coréia permitiram aos monopólios dos Estados Unidos minar a animação das relações comerciais da Inglaterra com a América Latina — animação que se observava até 1950. A parte da Inglaterra no volume comercial da América Latina reduziu-se de 11,6% em 1949 para 7% em 1951. Em 1951 o volume físico da exportação inglesa para esses países foi 10% inferior ao de 1950.
O enfraquecimento das posições comerciais da Inglaterra nos países da América Latina contribuiu também para intensificar a expansão comercial das uniões monopolistas de outros países capitalistas, e, em particular, da França. À proporção que foram sendo liquidadas as conseqüências da ocupação fascista, os círculos comerciais da França começaram a conseguir a restauração de suas posições na América Latina, principalmente na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai.
Durante os últimos anos a França ocupou um lugar bem destacado no mercado argentino. Em 1951, a França vendeu à Argentina somente de artefatos metálicos e de equipamento industrial 18 bilhões de francos. Se considerarmos que toda a exportação da França para a Argentina em 1948 (em preços comparativos) era igual a um pouco mais de 6 bilhões de francos, torna-se então claro o aumento do intercâmbio comercial entre a França e a Argentina nos últimos anos.
Recentemente a França celebrou com o governo do Brasil um acordo comercial que prevê a troca, durante 1953, de mercadorias no montante de 130 milhões de dólares. O Brasil fornecerá à França uma quantidade de café no valor de 60 milhões de dólares: 40 milhões de dólares de algodão, e também fumo, celulose, lã, arroz, milho, chá e diferentes minerais úteis. Em troca de mercadorias de amplo consumo, a França fornecerá equipamento industrial, máquinas agrícolas, etc. As companhias comerciais francesas ampliaram seu comércio também com o Uruguai, o Chile e algumas outras repúblicas latino-americanas.
A Alemanha Ocidental e o Japão enveredam, durante os anos de após-guerra, pelo caminho da expansão comercial. Os monopólios da Alemanha Ocidental, restaurados, têm igualmente em vista os mercados latino-americanos. Se em 1948 a exportação da Alemanha Ocidental para esses países foi avaliada em apenas 4 milhões de dólares, já em 1952 foi de 409 milhões de dólares, e, ao todo, foi apenas 10% inferior à exportação da Inglaterra.
Durante os últimos dois anos, a Alemanha Ocidental celebrou uma série de acordos comerciais com o Chile, a Argentina, o México e outros países. A missão comercial inglesa que visitou recentemente os países da América Latina ressaltou em seu relatório que
“os alemães concorrem conosco justamente no domínio do escoamento das mercadorias em cujo fornecimento nos especializamos. Vendem à América Latina mercadorias de toda espécie, desde as diferentes espécies de maquinaria até às mercadorias de amplo consumo”.
Como observaram os membros dessa missão, as mercadorias alemãs são vendidas 10 a 15% mais barato do que as mercadorias inglesas.
O comércio da Alemanha Ocidental com o Brasil e a Argentina amplia-se de maneira particular. O “Observador Econômico e Financeiro” — revista dos círculos comerciais do Brasil — já em julho do ano passado escrevia:
“Durante o período de quatro anos que vai de 1948 a 1951, a troca de mercadorias aumentou em tal proporção, que a Alemanha ocupa, segundo os dados das atuais estatísticas, uma posição que muito lembra a participação que ocupava antes de 1940”.
Os círculos comerciais da Alemanha Ocidental na Argentina não são menos ativos. Em 1951 as companhias da Alemanha Ocidental ocuparam o segundo lugar nas importações da Argentina, relegando a Inglaterra para o terceiro lugar.
Os monopólios da Alemanha Ocidental florescem também porque podem fornecer os meios de produção necessários à América Latina — máquinas, equipamento elétrico — e podem conceder créditos a longo prazo e porque se baseiam no apoio dos magnatas das finanças de Wall Street. A feroz exploração que atualmente existe na Alemanha Ocidental condiciona o baixo preço da mão-de-obra alemã. Isso e também o financiamento das exportações alemãs pelo governo de Bonn possibilita às companhias comerciais da Alemanha Ocidental colocarem suas mercadorias na América Latina a preços baixos — de dumping — e, assim,” concorrerem com êxito com os monopólios dos demais países capitalistas.
A expansão econômica do capital nipônico intensifica-se na América Latina. Durante o primeiro semestre de 1950 as mercadorias japonesas para ali exportadas foram do valor de 12 milhões de dólares, e durante o primeiro semestre de 1951 já atingiam o valor de 50 milhões de dólares. Os monopolistas japoneses conseguiram celebrar proveitosos acordos comerciais com o Uruguai, a Argentina, o México, o Brasil, o Chile e outros países. Por exemplo: pelo acordo com o Brasil, o Japão receberá algodão e, em troca, já executa uma encomenda para a construção de 22 navios e fornecerá equipamento industrial. São esses justamente os artigos que caracterizam o comércio entre o Brasil e a Inglaterra. O jornal “Financial Times” escreveu que esse acordo é mais um passo no caminho do afastamento da Inglaterra como fornecedor do mercado brasileiro. Da mesma forma que os monopólios da Alemanha Ocidental, os monopólios japoneses contam, para sua expansão, com a assistência da oligarquia financeira da Alemanha Ocidental.
Os monopolistas americanos apóiam os magnatas da Alemanha Ocidental e do Japão contando, com sua aluda, expulsar dos mercados da América Latina a Inglaterra. Entretanto, a concorrência das mercadorias da Alemanha Ocidental já hoje atenta contra os interesses dos próprios monopólios dos Estados Unidos. Já em março do ano passado o jornal “New York Times” com temor confessava:
“… a indústria da Alemanha Ocidental, restaurada, tornou-se o concorrente mais perigoso dos Estados Unidos nos mercados dos países da América Latina”.
Esse temor tem razão de ser. A Argentina, por exemplo, importa hoje duas vezes mais máquinas agrícolas da Alemanha Ocidental do que dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que durante os últimos anos a exportação de automóveis dos Estados Unidos se reduziu, a Alemanha Ocidental aumentou favoravelmente a exportação de automóveis para países latino-americanos.
A revista americana “Business Week” publicou em 14 de março de 1953 um artigo sob o título “A Batalha das Tintas”. Nesse artigo, confessa-se francamente que a concorrência da Alemanha Ocidental no mercado das tintas obriga as companhias dos Estados Unidos a reduzir sua atividade. Em 1948 a Alemanha Ocidental exportou para a America Latina tintas no valor de 260 mil dólares, mas em 1951 essa exportação foi de 8 milhões e 700 mil dólares.
A pressão dos monopólios dos Estados Unidos e a intensificação da concorrência da Franca, da Alemanha Ocidental e do Japão levaram a um maior enfraquecimento das posições da Inglaterra nos países da América Latina. Os círculos financeiros e industriais da Inglaterra alarmam-se tanto mais porque a balança de pagamentos da Inglaterra piora de ano para ano. Nessas condições o capital monopolista inglês e o governo da Inglaterra, a ele subordinado, dedicam atenção cada vez maior à América Latina. No ano passado, Reeding — substituto parlamentar do ministro das relações exteriores da Inglaterra — viajou pela América Latina com o objetivo, conforme assinalou a imprensa, de
“procurar possibilidades de ampliar o comércio da Inglaterra com os países da América Latina e de estudar os métodos aplicados pelos Estados Unidos e pela Alemanha Ocidental na luta de concorrência contra a Inglaterra”.
Os círculos comerciais ingleses tentam aproveitar suas vantagens: as fortes posições que ainda ocupam na esfera de aplicação do capital, as relações financeiras e comerciais de muitos anos, e a posição de grande importador de matérias-primas agrícolas e de víveres. O capital inglês joga também com o aumento das tendências anti-americanas nos países da América Latina, contando conquistar para seu lado os círculos da burguesia desses países que não desejam ser escravizados pelos monopólios dos Estados Unidos.
Graças aos esforços dos círculos comerciais da Inglaterra, a 31 de dezembro de 1952 celebrou-se um acordo comercial com a Argentina para 1953 — acordo que prevê uma troca de mercadorias no valor de 90 milhões de libras-esterlinas para cada parte contratante. Além disso, a Inglaterra concedeu à Argentina um crédito no valor de 20 milhões de libras-esterlinas. Durante a primavera do ano corrente chegou a Londres uma missão comercial argentina para conversações tendentes a maior ampliação do comércio entre ambos os países.
Em fevereiro a Inglaterra assinou com o Brasil um acordo pelo qual se comprometeu a fornecer, em troca de algodão, 70 aviões a jato, do tipo “Meteor”. A propósito desse acordo, Spriggs — gerente da companhia inglesa “Hawker Siddley Aircraft Company” — declarou que sua firma “expulsava o monopólio americano no setor da venda de aeroplanos ao Brasil”. Expressou ele ainda a esperança de que, no futuro, conseguiria concluir acordos semelhantes com outros países latino-americanos.
A» intensificação da luta de concorrência entre a Inglaterra, a França e a Alemanha Ocidental é extremamente sentida pelos monopólios dos Estados Unidos. Durante o primeiro trimestre de 1953 as exportações dos Estados Unidos para a América Latina reduziram-se. Diminuiu também um pouco a importação pelos Estados Unidos de produtos procedentes da América Latina.
A redução das exportações norte-americanas para os países da América Latina contribuiu também para a política comercial de alguns governos latino-americanos. Nos países latino-americanos mais desenvolvidos a burguesia local participa ativamente da concorrência. Os círculos seus que não se acham estreitamente ligados às companhias estrangeiras esforçam-se por desenvolver a própria indústria nacional, por não permitir uma maior subordinação da economia do país aos monopólios estrangeiros, e por defender, embora debilmente, seu mercado interno com relação às mercadorias de produção estrangeira.
Entretanto, as tendências desses círculos da burguesia nacional chocam-se cada vez mais, durante os anos do após-guerra, contra os interesses das uniões monopolistas das potências capitalistas e, em primeiro lugar, dos Estados Unidos, que visam a manter, a qualquer preço, o caráter unilateral e deformado da economia dos países latino-americanos e consideram seu comércio com esses países como meio de conseguir lucros elevados, como meio de manter a América Latina como apêndice agrário e fornecedor de matérias-primas aos Estados Unidos. Basta dizer que o super-lucro conseguido pelos imperialistas americanos apenas como resultado do aumento de preços das mercadorias exportadas pelos Estados Unidos para a América Latina foi, em 1948, não inferior a 646 milhões de dólares em volume total de exportação no valor de 3 bilhões e 200 milhões de dólares. Esse comércio provoca um imenso aumento do déficit da balança comercial dos países da América Latina. Se em 1951 — segundo os dados do boletim estatístico da ONU li o déficit do comércio exterior desses países equivaleu a 190 milhões de dólares, já em 1952 aumentou para 720 milhões de dólares.
Os representantes mais perspicazes da burguesia da América Latina começam a reconhecer, cada vez com mais clareza, que uma subordinação maior às imposições dos Estados Unidos leva a conseqüências funestas para a economia dos países da América Latina e solapa definitivamente seu comércio exterior, ultimamente, o governo do Brasil, preocupado com o aumento sem precedentes do déficit da balança comercial, tomou uma série de medidas que visam a reduzir as importações procedentes dos Estados Unidos. Durante o primeiro trimestre do ano passado o Brasil importou mercadorias dos Estados Unidos no valor médio mensal de 100 milhões de dólares, enquanto que no primeiro trimestre deste ano, apenas no valor de 30 milhões de dólares, em conseqüência das limitações estabelecidas pelo governo brasileiro.
Nos países da América Latina aumenta a tendência à estruturação do comércio exterior em base sólida sobre o princípio da igualdade de direitos, partindo-se da vantagem mútua entre as partes. Uma prova disso são os acordos comerciais recentemente celebrados entre a Argentina, a União Soviética e a Hungria. A opinião pública argentina — que acolheu com grande satisfação a celebração do acordo comercial com a União Soviética — ressaltou de maneira particular os artigos que distinguem vantajosamente esse acordo comercial dos acordos comerciais celebrados com os Estados Unidos. A imprensa argentina dedicou grande atenção ao fato de a União Soviética haver manifestado o desejo de vender à Argentina equipamento petrolífero que os Estados Unidos por diversas vezes recusaram à Argentina, por visarem opor obstáculos ao desenvolvimento da indústria petrolífera nacional desse país. O jornal “Propósitos” escreveu que:
“a assinatura do acordo tem significação extraordinariamente importante para nosso país e para toda a economia argentina, a qual tente a agressividade econômica e a hostilidade dos Estados-Unidos, que visam a manter o Continente sul-americano como seu quintal”.
O acordo comercial soviético-argentino, baseado — como todos os acordos comerciais entre a URSS e os países estrangeiros — nos princípios da igualdade de direitos e da vantagem mútua, teve ampla repercussão em todos os países da América Latina. Começa-se a compreender ali, com clareza cada vez maior, que as medidas discriminatórias aplicadas pelos Estados Unidos em seu comércio exterior arruínam a economia dos países latino-americanos. Atualmente a imprensa do Uruguai, do Brasil, do Chile e do México manifesta-se cada vez mais pelo reatamento e desenvolvimento das relações comerciais com a União Soviética e outros países do campo democrático.
A restauração e o desenvolvimento das relações econômicas normais entre os países baseadas na igualdade de direitos e na vantagem recíproca é importante no enfraquecimento da atual tensão da situação internacional e no fortalecimento da causa da paz.
A Luta Pelas Fontes de Matérias-Primas
Nas condições da luta de concorrência, que se aguça, somente o domínio absoluto das fontes de matérias-primas dá aos monopólios a garantia de êxito. V. I. Lênin escreve:
“… os monopólios tornam-se mais sólidos quando concentram em uma só mão todas as fontes de matérias-primas, e constatamos com que ardor as uniões internacionais dos capitalistas orientam seus esforços no sentido de retirar do adversário toda possibilidade de concorrência, no sentido de açambarcar, por exemplo, as jazidas de minérios de ferro ou as fontes de petróleo, etc.(1)
O capital monopolista dirige-se particularmente para as fontes de matérias-primas nos países pouco desenvolvidos; ali o preço da terra é em regra geral baixo, a mão-de-obra barata, — por conseguinte, os lucros são muito elevados.
As riquezas naturais dos países latino-americanos — em primeiro lugar os minérios — há muito tempo são objeto de luta entre os monopólios capitalistas e, antes de tudo, entre os m0nopólios dos Estados-Unidos e da Inglaterra. Trava-se uma luta particularmente aguda peio petróleo que adquire uma significação econômica e, o que é principal, uma significação militar e estratégica cada vez maior. A América Latina ultrapassou consideravelmente, quanto à exportação de petróleo, todos os países capitalistas tomados em conjunto.
Dominam a elaboração dos recursos petrolíferos latino-americanos três companhias: dois monopólios americanos — a “Creole Petroleum” (filial da “Standard Oil Company of New Jersey”, de Rockfeller) e a “Main Grand Oil” (filial da “Gulf Oil Corporation”, de Mellon) — e um monopólio inglês — a “Royal Dutch & Shell”. É justamente entre essas três companhias que se trava a luta principal. Antes da segunda guerra mundial, a extração de petróleo na América Latina promovida pelos monopólios ingleses de petróleo era 12% inferior à dos monopólios dos Estados Unidos; em 1945 a diferença já era de 41%, e, em 1946, de 56%. Durante os anos da guerra os Estados Unidos puderam apoderar-se de várias companhias pertencentes à Alemanha e ao Japão. Valendo-se de seu domínio econômico na América Latina e levando em conta o aumento do consumo de petróleo pelo mercado mundial do capitalismo — aumento provocado pela conjuntura de guerra —, os monopólios dos Estados Unidos intensificaram a exploração dos recursos petrolíferos dos países latino-americanos e criaram ali novas companhias.
Após o término da guerra, os Estados Unidos começaram a se esforçar por enfraquecer ainda mais as posições de seu principal concorrente. No Equador, por exemplo, a companhia inglesa “Royal Dutch & Shell” durante muitos anos gozou de uma série de privilégios e, em particular, do direito monopolista de prospectar e extrair petróleo. Em 1948, porém, o Congresso do Equador — sob a pressão dos Estados -Unidos — outorgou poderes ao Presidente para fazer concessões às filiais da “Standard Oil” em pé de igualdade com as filiais da companhia inglesa “Royal Dutch & Shell”. Em conseqüência disso, a “Standard Oil” conseguiu em 1948 uma concessão para explorar as riquezas petrolíferas em um território de 12 milhões de acres. De maneira idêntica, essa companhia obteve a concessão de Sechura, no Peru.
Os acontecimentos dos últimos anos e particularmente a nacionalização da indústria petrolífera do Irã, realizada sob a pressão das massas populares, aguçaram ainda mais a luta entre a Inglaterra e os Estados-Unidos pelas fontes petrolíferas. A nacionalização no Irã vibrou seno golpe contra os magnatas ingleses do petróleo. Isso os obrigou a intensificar a luta pelo petróleo em outras regiões do globo terrestre e, em particular, na América Latina. As companhias inglesas aumentam a extração dei petróleo na Venezuela. Durante a primeira metade de 1951 a extração diária do petróleo aumentou de 18,9% em comparação com o mesmo período de 1950. Além disso, ampliou-se consideravelmente a capacidade de refinação do petróleo.
Os bancos ingleses não poupam recursos para o financiamento das companhias petrolíferas inglesas que atuam na Venezuela. Em 1951 a “Royal Dutch & Shell” iniciou a construção do maior oleoduto da América Latina, com a capacidade de fornecer 12 milhões e 500 mil toneladas de petróleo por ano — oleoduto esse que liga uma das maiores explorações petrolíferas da Venezuela ao porto de Punta Cordon. No ano passado a Inglaterra gastou 100 milhões de dólares na ampliação de suas usinas de petróleo na Venezuela e destinou cerca de 50 milhões de dólares à perfuração de novos poços. A companhia “Royal Dutch & Shell” procedeu à perfuração de poços sob a água no lago Maracaíbo (nessa região a concessão foi conseguida em 1922 mas não fora explorada até ultimamente). A capacidade da usina de refinação de petróleo em Curaçau aumenta para 200 mil barris por dia. Em conseqüência dos esforços das companhias petrolíferas inglesas, o peso específico da Inglaterra na extração de petróleo nos países da América do Sul aumentou — segundo os dados da revista inglesa “Petroleum Times” — de 38% em 1950 para 47% em 1952.
A luta pele petróleo latino-americano é um dos elos principais das contradições entre os Estados Unidos e a Inglaterra nos países da América Latina. A par disso, entretanto, desenvolve-se a luta pelas fontes de outros minerais úteis — cobre, estanho, ferro, etc..
Durante os anos de pré-guerra a parte fundamental das 400 mil toneladas do cobre extraído no Chile era enviada à Inglaterra para refinação e re-exportação. Durante os anos da segunda guerra mundial as comunicações entre a Inglaterra e o Chile ficaram prejudicadas e os Estados Unidos puderam dominar quase inteiramente a exportação do minério de cobre do Chile. Em 1945 as principais jazidas do cobre chileno estavam concentradas nas mãos de duas companhias norte-americanas (a “Chile Exploration” e a “Ander Copper”), que são filiais da empresa “Anaconda”.
Após o início da guerra na Coréia foi assinado novo acordo — vantajoso para os monopolistas dos Estados Unidos, pois lhes transferia todo o cobre do Chile. O governo do Chile obrigou-se a fornecer anualmente aos Estados Unidos, a preço consideravelmente inferior ao preço vigente no mercado mundial do capitalismo, 80% do cobre extraído no pais. Esse acordo enfraqueceu ainda mais as posições da Inglaterra no Chile e subordinou as jazidas de cobre às filiais da empresa “Anaconda”.
O Peru também possui ricos depósitos de minério de ferro. Os monopólios dos Estados Unidos também ali se apoderaram da extração de cobre e da prospecção de novas jazidas. Segundo comunicações saídas na imprensa, a “American Smelting and Refining Company” terminou no começo deste ano os trabalhos de prospecção no Peru, havendo descoberto depósitos de minério de cobre calculados em 40 milhões de toneladas. Aquela companhia pretende extrair ali, durante os 10 próximos anos, cerca de 100 mil toneladas de cobre bruto por ano.
Há muito a Inglaterra luta contra os Estados Unidos pelos riquíssimos recursos da Bolívia, que ocupa o terceiro lugar no mundo quando à extração de estanho, o primeiro lugar na extração de antimônio, e o quarto quanto ao volfrâmio. A indústria mineira da Bolívia encontrava-se em mãos de três famílias: Patino, Aramayo e Horchild. A Cia. Patino — que controlava 50% da extração de estanho — estava ligada a um cartel internacional de estanho cuja administração tem sede em Londres. Através de seu cartel, a Inglaterra realizava suas ligações com Patino e até 1940 dominou na indústria mineira da Bolívia. Antes da guerra 60% das exportações bolivianas destinavam-se à Inglaterra e apenas 7% aos Estados Unidos. Durante a guerra os Estados Unidos tomam providências enérgicas com o objetivo de dominar as riquezas minerais da Bolívia. A companhia norte-americana “Metall Reserve” pôde celebrar uma série de contratos com firmas bolivianas. Se durante os anos de pré-guerra apenas 7% das exportações bolivianas (em que cerca de 75% cabe ao estanho) se encaminhavam para os Estados Unidos, já em 1947-1948 50% do estanho extraído começaram a ser enviados para Tejas, onde durante a segunda guerra mundial se construiu uma usina especial para a elaboração do minério de estanho.
Os autores do censo publicado em fevereiro de 1951 — censo preparado por um departamento do “Chase National Bank” — ocupam-se dos países da América Latina e confessam francamente que a guerra na Coréia possibilitou aos Estados Unidos subordinar ainda mais a seus
interesses, em detrimento da Inglaterra, as riquíssimas reservas de matérias-primas estratégicas da Bolívia.
Durante o outono do ano passado, promulgou-se na Bolívia — por exigência das massas populares — um decreto de nacionalização das minas de estanho. Os círculos comerciais da Inglaterra e dos Estados-Unidos se esforçaram por impedir a nacionalização exigida pelo povo boliviano. Entretanto, o fato de a Inglaterra e os Estados Unidos haverem empreendido esforços em conjunto não exclui a luta oculta e tenaz entre eles na Bolívia. Por exemplo: a imprensa norte-americana informou que as companhias dos Estados Unidos durante muito tempo não puderam entrar em acordo com o governo da Bolívia sobre o preço do estanho, pelo fato de os ingleses haverem proposto um preço mais elevado.
A nacionalização das jazidas de estanho na Bolívia é um exemplo característico da resistência dos povos da América Latina à pilhagem de seus recursos naturais pelos monopólios estrangeiros.
Nesse movimento de repulsa incorporam-se camadas cada vez mais amplas da população e, inclusive, determinados círculos da burguesia, cujos interesses são prejudicados pela predominância dos monopólios estrangeiros. No Brasil, por exemplo, foi fundado o Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional. Essa organização exige a limitação da atividade dos monopolistas estrangeiros e insiste pela nacionalização das riquezas naturais do Brasil. Na Venezuela ressoam com freqüência cada vez maior as exigências de nacionalização das jazidas de ferro. Na primavera deste ano um dos jornais mais influentes da Venezuela — “El Nacional” — demonstrava em artigo especial o caráter nefasto do acordo com os Estados Unidos, acordo esse que concede ao capital norte-americano a possibilidade de explorar as jazidas de ferro da Venezuela. Assinalou aquele jornal que a nacionalização das riquezas de minério de ferro podia ser uma saída para a situação.
A Alemanha Ocidental, a França e o Japão começam a exercer influência cada vez maior na marcha da luta anglo-americana por matérias-primas. Durante a segunda guerra mundial os monopolistas dos Estados Unidos conseguiram apoderar-se de quase todas as concessões que antes pertenciam a esses países. Durante Os últimos anos, empresas da Alemanha Ocidental e da França começaram a organizar nos países da “América Latina companhias de elaboração do minério de ferro e de cobre e de produção de produtos químicos com matéria-prima local. Os industriais franceses construíram também usinas na Colômbia e no Brasil. Empresas alemãs organizaram firmas na Venezuela e México. Entretanto, até agora a influência desses países na elaboração das riquezas naturais da América Latina é ainda pequena e a luta principal se trava, como anteriormente, entre os Estados Unidos e a Inglaterra.
A Luta Pelas Esferas de Inversão de Capital
Durante a Segunda Guerra Mundial os monopólios dos Estados Unidos conseguiram aumentar consideravelmente seus lucros e criar grandes reservas de capital livre. Durante esses anos, porém, a Inglaterra caiu na dependência econômica dos Estados Unidos. Ficou devendo a alguns países latino-americanos pelo fornecimento de matérias-primas e de víveres durante a guerra. Para pagar suas dívidas a Inglaterra teve que transferir algumas empresas e estradas-de-ferro de propriedade do capital inglês na Argentina e em outros países da América Latina aos governos desses países; o México e o Brasil resgataram uma parte de valiosos títulos distribuídos em bancos ingleses.
Em conseqüência de tudo isso, as inversões de capital inglês na América Latina — como afirmou R. Arismendi, deputado ao parlamento do Uruguai — reduziram-se de 5 bilhões de dólares em 1939, para 2 bilhões e 600 milhões em 1948, enquanto que as inversões de capital dos Estados Unidos aumentaram, durante o mesmo período, de 4 bilhões para 6 bilhões de dólares.
Durante o período de após-guerra continuam a aumentar as inversões de capital dos Estados Unidos nos países latino-americanos, sendo que na maior parte sob a forma de inversões diretas. Segundo os dados da estatística norte-americana, coube à América Latina mais de 36% das inversões diretas de capital dos Estados Unidos no estrangeiro em 1951. Essa cifra demonstra de maneira evidente que os monopólios dos Estados Unidos consideram a América Latina como fonte de lucros.
Para ampliar a exportação de capitais para o estrangeiro e assegurar aos capitalistas os lucros mais elevados, o governo dos Estados Unidos tem tomado, durante os anos do após-guerra, uma série de medidas espaciais, de caráter monopolista de Estado, uma das quais foi o Ponto IV do programa Truman de “ajuda” aos países atrasados. A “ajuda” pelo Ponto IV do programa Truman foi, desde o início, um canal para a ampla penetração do capital norte-americano na economia dos países pouco desenvolvidos, particularmente os da América Latina, e para sua subordinação às imposições dos Estados Unidos. Os fatos dos dois últimos anos são suficientemente convincentes. No Brasil, por exemplo, de acordo com os planos da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos para a realização do programa do Ponto IV, iniciou-se em 1952 o reequipamento das estradas-de-ferro com o fim de celebrar o transporte dos minerais úteis aos Estados Unidos, amplia-se a construção de empresas para a extração do manganês necessário aos monopólios norte-americanos, e realiza-se a construção de depósitos para a formação de reservas estratégicas. O Brasil acha-se inundado por “conselheiros” e “instrutores” norte-americanos que procuram novas possibilidades de intensificar a exportação de capital procedente dos Estados Unidos. Já conseguiram colocar no Brasil, durante a primeira metade de 1952, 176 milhões de dólares — isto é: quase tanto como durante todo o ano de 1951. Durante os últimos dois anos criaram-se dezenas de companhias de financiamento que se destinam a atrair o capital estrangeiro para o Brasil. O jornal “Correio da Manhã” escreveu:
“Divulgando o mito do seu poderio econômico, os Estados Unidos conseguiram obter do Brasil todos os privilégios que lhes faltavam; para o Pentágono conseguiram o acordo militar, disfarçado de ajuda militar; para os grandes comerciantes, a lei do câmbio livre “.
A essência da “ajuda” pelo Ponto IV é igualmente demonstrada, de maneira evidente, pelo exemplo do Paraguai. Ali — segundo as informações da imprensa — o verdadeiro dono é hoje a Comissão Mista Americano-Paraguaia para a realização do Ponto IV do programa Truman. O jornal “Voz Operária” escreve:
“Através dessa comissão os americanos controlam as inversões de capital (…) e impõem ao governo suas” condições. Através dessa comissão um exército de especialistas, gozando dos direitos de extra-territorialidade, intervém na atividade de diferentes instituições governamentais. (…) Os americanos isolam o Paraguai da Argentina e dos demais países do Continente americano e proíbem o Paraguai de comerciar com a União Soviética e os países de democracia popular.”.
Ao mesmo tempo em que põem em prática o Ponto IV, os monopólios dos Estados Unidos intensificam a implantação de companhias mistas na América Latina. Essas companhias se criam com a participação do capital local para que os monopolistas dos Estados Unidos possam escapar ao pagamento de impostos com que — graças à pressão da opinião pública — as companhias estrangeiras são tributadas com freqüência cada vez maior. Pela distribuição do capital vê-se quem são os donos das chamadas companhias mistas. Por exemplo: dos 500 mil pesos de capital da empresa de aviação mexicana “Bromer”, os norte-americanos possuem 490 mil e os mexicanos 10 mil. O capital norte-americano usa da criação de companhias mistas também para subordinar ainda mais a grande burguesia desses países e para subornar as altas autoridades dos círculos governamentais das repúblicas latino-americanas.
As medidas postas em prática durante os últimos anos pelos monopólios dos Estados Unidos, e que visam a escravizar a economia dos países latino-americanos, têm ao mesmo tempo grande significação na luta contra a Inglaterra e outras potências capitalistas pelas esferas de inversão de capital. A burguesia inglesa esforça-se, ultimamente, por tomar suas contra-medidas. Em particular, os industriais ingleses apresentam seu próprio programa de ajuda técnica aos países da América Latina. O jornal “Financial Times” informou que a Federação dos Industriais Britânicos elaborou um projeto de concessão anual de subsídios a 50 engenheiros latino-americanos para aperfeiçoamento na Inglaterra. O jornal ressalta que essas medidas contribuirão para despertar o interesse da burguesia latino-americana em relação ao equipamento industrial inglês e à organização, pela Inglaterra, de novas usinas em países da América Latina. Fazendo concorrência com o capital norte-americano, os monopolistas ingleses criam, por sua vez, companhias mistas controladas por eles, valem-se dos acordos comerciais para conseguir diferentes privilégios, novas concessões, etc., e ampliam com certo êxito a rede de suas filiais.
Ainda recentemente, a firma “Standard” — após intensa disputa com seus concorrentes norte-americanos e alemães — conseguiu o direito de construir no Brasil uma grande fábrica de automóveis no valor de cerca de 3 milhões de libras-esterlinas. A companhia “Dunlop do Brasil” — da qual participa o capital inglês — procedeu à construção de uma nova fábrica em São Paulo; a companhia inglesa “Vickers” já construiu uma fábrica em Belo Horizonte.
A concorrência entre os Estados Unidos e a Inglaterra nas esferas de inversão de capital desenvolve-se com a participação da França, da Alemanha Ocidental e do Japão. Os monopolistas desses três países não estão menos interessados em conseguir elevados lucros, e por conseguinte não estão menos interessados na exportação de seu capital para os países da América Latina. O capital francês desenvolve cada vez mais seus esforços no sentido de consolidar ali suas posições. Isso é em particular comprovado pelo discurso do ex-primeiro-ministro René Meyer em banquete oferecido em sua homenagem a 17 de março de 1953 peia Casa da América Latina em Paris. Segundo declarações de Meyer, os capitalistas franceses constroem uma grande refinaria de petróleo e uma usina química no Brasil, um combinado metalúrgico em La Paz dei Rio (Colômbia), uma estrada-de-ferro no Equador, docas no Chile, etc.
Durante o corrente ano, o banco francês “Crédit Lyonnais” concedeu ao Brasil um empréstimo de 12 milhões de dólares para o financiamento da construção de uma usina química. Supunha-se que essa obra seria financiada pelo “Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento”. Entretanto, sob a pressão do truste “Dupont” — não interessado na criação de uma indústria química no Brasil —, o Banco Internacional, sob diferentes pretextos, recusou-se a conceder os créditos necessários. O Brasil teve de recorrer a banqueiros franceses. A respeito, escreveu o jornal “Correio da Manhã”:
“Este fato lembra a muitos que o mundo não acaba em Nova York. Há capitais e técnica nos países europeus, não menos vantajosos do que os americanos.”.
Os banqueiros e industriais da Alemanha Ocidental empreendem os maiores esforços por restaurar suas posições de pré-guerra no setor da inversão de capitais. No Brasil — segundo informações do jornal inglês “Times”:
“os industriais alemães oferecem seus serviços para o, construção de novas empresas da indústria leve e pesada. Acham-se dispostos a criar companhias mistas constituídas por capitais de ambos os países.”.
A companhia mista da Alemanha Ocidental “Mannesman” brasileira construiu uma grande usina de laminados no Estado de Minas Gerais. Valendo-se da etiqueta de companhia mista, os alemães conseguiram diferentes vantagens e privilégios. Recentemente, Vargas — Presidente do Brasil — apresentou ao Congresso um projeto de lei especial pelo qual dispensa do pagamento de tarifas alfandegárias o equipamento que importou da Alemanha Ocidental para a construção da usina de laminados. A comissão governamental brasileira para os problemas do desenvolvimento industrial aprovou a proposta da empresa alemã “Friedrich Krupp A. G.” para a construção, na cidade de São Paulo, de uma fábrica de locomotivas. O governo do Brasil concedeu privilégios também a essa empresa.
A penetração dos monopólios da Alemanha Ocidental nas esferas de inversão de capital na América Latina já agora não só atinge os interesses da Inglaterra e da França mas, também, prejudica, em vários casos, os monopólios dos Estados Unidos. O jornal “El País”, do Uruguai escreveu no outono do ano passado que se realizou uma concorrência para a concessão da construção de uma nova ponte através do rio Guaias. Participaram da concorrência duas companhias norte-americanas — a “United States Steel Corporation” e a “Bethlehem Steel Corporation” — e também a firma da Alemanha Ocidental “Ferrostahl”, de Hamburgo. Foi esta a que recebeu a concessão por haver proposto realizar os trabalhos 30% mais barato do que as norte-americanas.
Os monopólios norte-americanos começam também a atuar na América Latina de maneira cada vez mais ativa. Organizam companhias mistas nos países da América Latina. O Japão realiza conversações com o governo do Brasil para a criação de companhias mistas para a produção de material elétrico, cimento, ônibus, bondes e motores Diesel; os japoneses contribuem com 40% do capital. A firma japonesa “Toyota” conseguiu permissão para construir no Brasil uma fábrica de automóveis que produzirá 600 automóveis por mês.
A imprensa burguesa dos Estados Unidos e de outros países capitalistas divulga com insistência a versão de que o amplo afluxo de capital para a América Latina contribui para o progresso econômico e o florescimento dos países latino-americanos. Os fatos, porém, revelam o contrário.
O capital monopolista comumente se dirige para a América Latina à procura dos lucros máximos. Por isso as inversões dos estrangeiros em umas ou outras empresas e a concessão de empréstimos fazem-se acompanhar de todos os tipos de restrições, condições, exigências de vários privilégios, etc. As inversões diretas de capital realizados pelo Ponto IV do programa Truman realizam-se, em regra geral, nos setores da economia da América Latina em que está interessado o mercado dos Estados Unidos e que dão o maior lucro aos monopólios norte-americanos. Na Venezuela o capital estrangeiro é empregado na extração de petróleo; no Chile, na elaboração do cobre; na Bolívia, na extração de estanho, etc. Ao mesmo tempo em que aumenta a produção nesses setores da economia, são forçados a reduzir sua atividade outros setores da indústria em que se acham interessados os mercados internos dos referidos países. Assim, a expansão econômica, que assegura aos monopolistas estrangeiros imensos lucros, leva os povos da América Latina apenas a uma ruína maior e à pauperização. Segundo os dados da “Revista Econômica dos Países da América Latina para 1951-1952” — preparada pela Comissão Econômica da ONU para a América Latina —, o afluxo do capital estrangeiro a esses países foi de 2 bilhões e 90 milhões de dólares de 1945 a 1952. Entretanto, a soma dos lucros e dos juros transferidos, durante o mesmo período, dos países da América Latina foi de 5 bilhões e 829 milhões de dólares. Em outras palavras: os lucros e os juros obtidos pelo capital estrangeiro na América Latina ultrapassa mais de duas vezes as novas inversões de capital estrangeiro feitas nesses países.
O representante da Argentina declarou recentemente à sessão do Conselho Econômico e Social da ONU:
“A prática revela que o capital estrangeiro freia e impede o desenvolvimento econômico dos países da América Latina.”
O imperialismo norte-americano pôde minar consideravelmente a influência da Inglaterra e fortalecer suas próprias posições nos países da América Latina. Os monopólios dos Estados Unidos apoderaram-se das posições-chave na economia dos países latino-americanos, colocaram seus protegidos no governo desses países, desenvolveram amplamente sua expansão ideológica, etc., Tudo isso, entretanto, não significa, de modo algum, que a Inglaterra renunciasse a suas posições e hoje assista humildemente à expansão dos monopólios norte-americanos. A análise dos acontecimentos revela que a tendência da Inglaterra, e também da França e de outras potências capitalistas, a exercer resistência à pressão dos Estados Unidos se intensificou consideravelmente durante os últimos anos. O aprofundamento da luta pelos mercados de escoamento, pelas fontes de matérias-primas e pelas esferas de inversão de capital acarreta, naturalmente, o aguçamento das contradições políticas: entre os países capitalistas.
A expansão econômica nos países da América Latina leva à ampliação da exploração dos povos desses países e a um maior agravamento de sua situação econômica. Entretanto, quanto mais intensa se torna a ofensiva dos monopólios estrangeiros contra os direitos dos trabalhas dores, tanto maior amplitude assume o movimento de libertação nacional dos povos dos países latino-americanos. A contradição entre um punhado de capitalistas estrangeiros e os povos da América Latina completa o quadro geral de contradições nessa região e, evidentemente, torna mais complexa a luta entre os países imperialistas.
Nos países da América Latina amplia-se cada vez mais, dia a dia, o movimento pela restrição da atividade dos monopólios estrangeiros e pelo estabelecimento de uma cooperação econômica à base de igualdade de direitos com todos os países. Os povos manifestam-se a favor de uma cooperação econômica e por uma ajuda técnica que contribua para o desenvolvimento dos recursos internos dos países latino-americanos, da indústria nacional e da agricultura. Os povos exigem que seus governos estabeleçam relações internacionais que concorram para o fortalecimento da independência do país.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
Notas de rodapé:
(1) V. I. Lênin — “Obras”, tomo 22, pág. 247, ed. russa.
* * *
“O estabelecimento de relações diplomáticas e comerciais com todos os países, especialmente com a União Soviética e a China Popular, constitui no momento atual fator importante na ampliação da luta pela paz e pela independência nacional.
Luiz Carlos Prestes