Camponesas do Araguaia

O evento, organizado pela Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia (ATGA), reuniu mais de 300 camponeses, vindos de diferentes localidades da região. Segundo a diretoria da Associação, foi a primeira vez ao longo dessas quatro décadas que houve algo dessa natureza. Na primeira parte da programação foram eleitos os membros da nova gestão da direção da ATGA para um mandato de quatro, encabeçada por Sezostrys Alves da Costa.

Aldo Arantes

Aldo Arantes, representando a direção nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), organização que dirigiu a Guerrilha do Araguaia, disse que aquela era uma justa homenagem aos camponeses que participaram, ao lado dos guerrilheiros, da luta que foi uma referência para a conquista da liberdade e da democracia no país. Segundo ele, jovens idealistas e corajosos integraram aquele movimento que tinha como objetivo a melhoria da vida do povo. Citou também que dirigentes comunistas experientes, como João Amazonas, Maurício Grabois e Ângelo Arroyo, participaram da Guerrilha com o mesmo entusiasmo e idelalismo dos jovens guerrilheiros.

Segundo Aldo Arantes, o Brasil avançou significativamente nos últimos anos, resultado de lutas heróicas como a desenvolvida no Araguaia. Para ele, as Forças Armadas precisam estar sintonizadas com esses novos tempos de democracia para que a verdade e os corpos dos mortos e desaparecidos sejam restituídos aos seus familiares. Aldo Arantes lembrou que militares que participaram da repressão à Guerrilha, como o tristemente famoso Sebastião Curió, precisam ser cobrados com firmeza sobre os destinos que deram aos guerrilheiros mortos. A Comissão da Verdade, disse, é um bom instrumento para que esses fatos sejam esclarecidos.

Em pé: Jorge Panzera e José Moraes Silva (o Zé da Onça)

Jorge Panzera, presidente do PCdoB no Estado do Pará, disse que o Brasil deve reconhecer a importância do povo da região, que acolheu os guerrilheiros de vários pontos do país para lutar pela conquista da liberdade e da independência nacional. Segundo ele, muitos problemas que persistem no Brasil, e em especial no Pará, são os mesmos pelos quais lutaram os guerrilheiros do Araguaia. Por isso, afirmou, o PCdoB continua ao lado povo, batalhando para que o progresso do país seja cada vez mais uma realidade para todos.

O presidente da gestão cessante da ATGA, José Moraes Silva, o Zé da Onça, discursou para registrar o significado daquela data para os camponeses e para a história do Brasil. Segundo ele, o sofrimento do povo da região não foi em vão. O país hoje tem uma democracia com a qual é possível se organizar e buscar na justiça os direitos que foram negados pelos militares que agiram com violência em todo o Araguaia.  

Osvaldo Bertolino, jornalista e representante da Fundação Maurício Grabois, registrou que aquele movimento de resistência democrática faz parte da história de luta do povo brasileiro, que nunca aceitou o papel submisso que a elite brasileira quer que ele cumpra. Citou episódios da história para ilustrar a trajetória de lutas dos brasileiros pela sua verdadeira independência. Para o jornalista, a Guerrilha do Araguaia abriu caminho, em conjunto com outros movimentos de resistência, para a conquista das liberdades democráticas, fundamentais para que o povo se organize e lute pelos seus direitos.

Segundo o representante da Fundação Maurício Grabois, resgatar a memória dos participantes daquela epopéia pela liberdade é um fato importante para que o Brasil tenha a dimensão da bravura dos guerrilheiros e dos camponeses que enfrentaram a ditadura. Para ele, o exemplo daqueles lutadores inspirou novas ações dos moradores da região. Citou os exemplos dos camponesas que nos anos 1980 e 1990 pagaram com a vida a ousadia de não aceitar a opressão imposta pelo latifúndio. Esse trabalho de resgate de memória da Guerrilha, informou, vem sendo feito pela Fundação Maurício Grabois.

Egmar José de Oliveira

Egmar José de Oliveira, vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, afirmou que falava em nome do Estado e registrou que durante a Guerrilha o povo se levantou de maneira legítima contra o regime de 1964. Relatou que esteve na região várias vezes para ouvir os camponeses, trabalho que resultou em 80 processos de reparos e indenizações, dos quais 44 já foram deferidos. Segundo ele, a presidenta Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, determinaram que ainda em 2012 a Comissão de Anistia deve apreciar todos os processos relacionados à Guerrilha do Araguaia.

Egmar José de Oliveira informou ainda que a Comissão de Anistia deverá realizar neste primeiro semestre caravanas à região para coleta de novos depoimentos de camponeses. A data deve ser definida em audiência da ATGA com a Comissão de Anistia em Brasília, o que deve ocorrer nos próximos dias. Para ele, essa determinação cumpre o propósito de reparar o dano causado ao povo da região pelo Estado o quanto antes. Egmar José de Oliveira lembrou que o PCdoB tem se empenhado nessa causa. Registrou que o presidente do Partido, Renato Rabelo, vem se reunido sistematicamente com o presidente da Comissão da Anistia, Paulo Abrão, para acompanhar o andamento dos trabalho de reparação aos camponeses.

Sezostrys Costa

Para Sezostrys Costa, o novo presidente da ATGA, a expectativa entre os camponeses é boa. “Estão confiantes na proposta apresentada pela Comissão de Anistia, mas estaremos vigilantes e batendo às suas para que esta situação se resolva o mais breve possível e assim todos os camponeses possam usufruir dos seus benefícios com vida, restabelecendo com isso a dignidade perdida há décadas”, disse ele em artigo publicado no blog da ATGA.