Para ele, os comunistas se depararam com as eleições presidenciais de 1989 com o acúmulo que vinha das batalhas pela eleição de Tancredo Neves e José Sarney, pela Constituinte e com as lutas sociais do final da ditadura e do processo de redemocratização do país. Segundo Aldo Rebelo, havia um ambiente democrático talvez sem precedentes no âmbito da concretude institucional.

Ele fez um paralelo com a redemocratização ocorrida logo após o fim de Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo, em 1945, mas ressaltou que aquele não foi um momento democrático intenso como o que existia em 1989. Citou que em meados da década de 1940 havia participação do povo, que lutou pela Constituinte de 1946. Havia organizações de massa, como o Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT). Foi, segundo Aldo Rebelo, um dos momentos mais sublimes da história do Partido Comunista do Brasil, mas não havia a mesma institucionalidade como a das eleições de 1989. Naquela época, logo após a redemocratização o Partido foi posto na ilegalidade, em 1947, e em 1948 seus mandatos foram cassados.

Foi em circunstâncias democráticas que, em 1989, o PCdoB se deparou com o desafio de encontrar o caminho para participar das eleições presidenciais. Foi buscar articulações que assegurasse a unidade e trabalhou para formar a Frente Brasil Popular. Aldo Rebelo repassou episódios marcantes daquela jornada, iniciativas que abriram caminho para a constituição de um movimento amplo e unitário. Lembrou que os comunistas participaram da frente que elegeu Luiz Erundina prefeita da cidade de São Paulo, pela coligação “Partidos do Povo” (PT-PCdoB-PCB), a primeira vitória expressiva de uma frente progressista após a ditadura de 1964.

Segundo Aldo Rebelo, a participação do PCdoB foi protagonista, enfatizando que ele foi um dos redatores do documento que norteou a campanha em São Paulo. Com a experiência paulistana, na Frente Brasil Popular os comunistas desempenharam um papel importante não só na constituição da Frente mas também nas escolhas realizadas para dar fisionomia política à candidatura presidencial de Luis Inácio Lula da Silva. A formação da chapa e as articulações para a indicação do candidato a vice, disse o ministro, contaram com a decisiva participação de dirigentes do PCdoB. Da mesma forma, participaram intensamente da elaboração dos pontos da plataforma do candidato.

Com a chapa formada e as propostas definidas, era a hora de iniciar a campanha. Segundo Aldo Rebelo, em uma primeira fase os comícios foram pequenos. A participação era basicamente de militantes do PT e do PCdoB. Os comunistas jogaram peso para encorpar a campanha, que ganhou dimensões de massa quando começaram os programas eleitorais na mídia. Com o sucesso da campanha e diante da possibilidade cada vez mais real de ganhar as eleições, a participação em governos, uma tema que vinha sendo ensaiado fazia algum tempo, reapareceu, disse Aldo Rebelo. 

Psicologia das massas

Segundo ele, essa não é uma questão secundária. Até hoje, a relação das forças políticas avançadas com as instituições da democracia no capitalismo não estão completamente claras, disse, registrando que essa é a sua impressão. As vitórias de Lula, afirmou, permitem dizer que quase todas as utopias e sonhos foram realizados. Para Aldo Rebelo, uma vitória nas dimensões da que Lula obteve em duas eleições consecutivas e nas condições em que ela ocorreu, com debate e disputa política que testou a estabilidade institucional do país, deixa marcas profundas e duradouras. Seus efeitos sobre a psicologia das massas, do povo e das forças democráticas são consideráveis.

Aldo Rebelo disse essa vitória removeu camadas e mais camadas de preconceitos, de resistências, de divisões das forças de esquerda, progressistas. E, evidentemente, isso inclui o PCdoB. Ele citou exemplos de transição na história do país para dizer que essa experiência recente permite compreender e atualizar os processos transitórios do país. Segundo Aldo Rebelo, o Brasil vive uma transição. Disse que o PCdoB valoriza e defende muito a unidade construída. Ninguém mais defendeu o governo do presidente Lula, com denodo, coragem e determinação, do que os comunistas, enfatizou. Mesmo naquilo que discordavam. Não defendiam a tese, mas, sim, o governo.

Disputa política

Ao mesmo tempo, afirmou Aldo Rebelo, os comunistas fizeram a luta de idéias, a prospecção do futuro, a definição do rumo para onde o país deve caminhar. Para ele, essas tarefas precisam ter relação com o que é importante, central, para o presente e principalmente para o futuro do Brasil. Porque se não houver clareza das idéias, pode-se dispersar forças diante das agendas que são mais importantes e decisivas, afirmou. Para ele, existe uma disputa política adjacente à chamada crise dos partidos, crise do Congresso ou coisa que o valha, que não é foco de debate.

Segundo ele, existem manifestações fortes, arrogantes e autoritárias que disputam com a política o destino, a capacidade de decidir, de definir os conflitos sociais. Para Aldo Rebelo, as instituições são o que existem de mais democrático hoje. No entanto, organizações privadas e públicas tentam subtrair da política e das suas instituições o atributo de mediar, democraticamente, os interesses da sociedade. É como se dissesse que juízes, promotores, jornalistas são mais rápidos e contassem com mais legitimidade para decidir essas questões, afirmou. Para mediar conflitos, lembrou, é preciso a legitimidade da escolha, do escrutino.

O PCdoB, disse Aldo Rebelo, como representante dos interesses maiores do povo, defende a política como instituição. Segundo ele, dificilmente Lula seria eleito presidente do Supremo Tribunal Federal ou representante do Ministério Público. Mas presidente da República a política permitiu que ele fosse eleito. Para ele o processo democrático tem permitido aos comunistas difundir, trabalhar e agir em defesa das suas idéias, opiniões e visão do mundo e do Brasil. Outro ponto importante, para Aldo Rebelo, é a questão nacional. O desafio do Brasil, com a pré-condição de um país com essa dimensão, é enfrentar as suas deficiências e deformidades a partir de um pressuposto importante: a construção de uma nação forte.