Nossa Política: Prestes Fala à Nação
O grande líder do povo brasileiro, Luiz Carlos Prestes, concedeu aos órgãos da imprensa popular a seguinte entrevista:
PERGUNTA — Desejaríamos conhecer sua opinião sobre a atual campanha eleitoral pela sucessão presidencial.
RESPOSTA — Apesar dos numerosos candidatos já apresentados como concorrentes ao pleito presidencial e do tempo bem limitado que nos separa de 3 de outubro, tudo indica que as grandes massas populares ainda não foram mobilizadas para a luta eleitoral. É evidente que não confiam nas palavras e promessas dos candidatos. Isto não significa, no entanto, que as grandes massas populares não se interessem pelo problema sucessório. O descontentamento cresce no país inteiro e é cada dia maior o número de pessoas que almeja por uma mudança na atual situação política, pela substituição do governo de 24 de agosto, pela eleição à Presidência da República de um homem que não se preste ao repugnante papel do sr. Café Filho, de serviçal e boneco das forças reacionárias e dos monopólios norte-americanos. As massas não querem a eleição de um reacionário e isto está claramente expresso na grande repercussão da idéia lançada pelo Partido Comunista de um candidato independente, a qual contou com o pronunciamento favorável de inúmeras personalidades políticas e determinou o surgimento do Movimento Nacional Popular Trabalhista, idéia que não chegou a concretizar-se devido em boa parte à posição tomada pela Convenção Nacional do P.T.B. Os candidatos, por sua vez, limitaram-se até agora a declarações gerais, ainda não foram capazes de fazer pronunciamentos claros sobre os problemas mais importantes do momento, bem como sobre as questões que mais de perto interessam às grandes massas trabalhadoras. Finalmente, importantes setores da população aguardam, para tomar posição no pleito sucessório, a palavra esclarecedora do Partido Comunista. É evidente no entanto, que as forças mais reacionárias tratam de utilizar esta situação de aparente desinteresse das massas pelo pleito sucessório para redobrar seus ataques à democracia, ao sufrágio popular e aos demais direitos do cidadão. Já se fala abertamente em instituir no país um governo de força que “legalize” da maneira que lhe parecer melhor a política ditada pelo Departamento de Estado e pela Embaixada norte-americana, política já em plena realização em numerosos países da América Latina.
PERGUNTA — Pensa que as atuais ameaças de golpes de Estado e militares têm consistência e constituem um perigo sério?
RESPOSTA — Sim, sem dúvida alguma. De outro lado, é perfeitamente compreensível que muita gente não leve a sério a gritaria histérica de um Lacerda ou, mesmo, os discursos ameaçadores do ministro da Marinha. Na verdade, os atuais fascistas brasileiros estão falando sério e só ainda não passaram aos atos porque não puderam. Eles representam os interesses da minoria reacionária que assaltou o poder em 24 de agosto, mas que, apesar da vitória momentânea, não conseguiu até agora transformar em realidade seus planos sinistros. São bandidos que estão acuados, mas que ainda não foram desarmados e constituem por isto um perigo sério e latente. Além disto, acham-se cada dia mais desesperados, porque as forças partidárias da paz e do progresso continuam avançando e alcançam cada dia novos êxitos, tanto no Brasil como no mundo inteiro. Ainda agora, estamos às vésperas da reunião de Genebra que só pela sua realização já constitui um passo para a frente na diminuição da tensão internacional e nova derrota para os incendiários de guerra norte-americanos. Não por acaso, segundo acabam de informar as agências telegráficas, julgou conveniente o presidente Eisenhower, antes de partir para Genebra, reunir os representantes dos países latino-americanos para discutir o problema do comunismo na América. Aqui no Brasil, as forças partidárias da paz ganham amplitude jamais conhecida, a posição dos patriotas na defesa do petróleo brasileiro é tão poderosa que todos os candidatos à Presidência da República, mesmo os mais conhecidos entreguistas como o sr. Juarez Távora, são obrigados a se proclamar defensores da Petrobrás, e, apesar de todas as arbitrariedades do atual governo contra o movimento operário e sindical, a classe operária continua defendendo com êxito seus direitos e suas reivindicações e conquistas, dando novos e consideráveis passos no sentido da unidade e organização de suas fileiras. É compreensível o desespero dos Lacerda e dos generais, almirantes, brigadeiros e coronéis fascistas. O sr. Jânio Quadros, que representa os mesmos interesses, já proclama abertamente que a terra lhe treme sob os pés. O demagogo pretende, assim, alarmar seus parceiros latifundiários e grandes capitalistas e justificar a necessidade de um governo de força que acabe com os protestos e as lutas do povo contra a carestia e a miséria crescentes, que entregue logo de uma vez o petróleo brasileiro à Standard Oil, que prepare o Brasil para as aventuras guerreiras do imperialismo norte-americano.
Sem exagerar a força do grupelho fascista que constitui uma minoria inclusive nas fileiras das forças armadas, onde são numerosos os patriotas e democratas honestos, devemos, no entanto, ter presente que o perigo existe e que os monopólios norte-americanos cada dia necessitam mais de um governo de força no Brasil. Como diz francamente o sr. Chateaubriand, os monopólios norte-americanos querem no Brasil, à frente de seu governo, um ditador como o da Venezuela, que venda loge o país à Standard Oil e declare ao Departamento de Estado estar em condições de mandar soldados brasileiros para Formosa. Os golpistas utilizam por isto todos os pretextos para justificar a necessidade de uma solução extra-legal para o problema da sucessão presidencial. Na verdade, querem impedir que a campanha eleitoral ganhe as grandes massas populares, tudo farão para impedir a realização do pleito e, mesmo que esse se realize, para impedir a posse dos eleitos. De qualquer maneira, é a democracia, é a Constituição, são as últimas liberdades que estão seriamente ameaçadas e, com elas, a soberania nacional e o futuro de nosso povo.
PERGUNTA — Como enfrentar semelhante situação?
RESPOSTA — É um dever sagrado de todos os democratas e patriotas manterem-se vigilantes. Na defesa das liberdade e das conquistas populares não devemos ceder uma linha. O essencial agora é defender intransigentemente a Constituição, exigir a realização de eleições livres e a posse dos eleitos, sejam quais forem. Estamos convencidos de que, nas atuais circunstâncias, é em torno da defesa da Constituição, das liberdades e conquistas nelas registradas, que devem unir-se todos os verdadeiros patriotas. Qualquer atentado à Constituição será agora um golpe reacionário contra os direitos do povo, contra as conquistas dos trabalhadores, contra a soberania nacional, porque salvaguardar a liberdade é salvaguardar as condições que permitem a luta contra a miséria, pela soberania nacional e pela paz. Nós, comunistas, estamos muito longe de ser partidários incondicionais da atual Constituição, já que ela não garante nem as amplas liberdades de que o povo necessita nem permite as medidas radicais indispensáveis ao progresso do Brasil, defende os privilégios dos latifundiários e grandes capitalistas. Mas para o grupelho de generais e coronéis fascistas, que querem liquidar os últimos resquícios de liberdade para entregar o país aos monopólios norte-americanos, mesmo a atual Constituição é um obstáculo, e não é por outro motivo que se vêem obrigados a falar em soluções extra-legais para os problemas brasileiros.
Somos de opinião que a atual campanha eleitoral pela sucessão presidencial pode constituir um poderoso meio para despertar as grandes massas populares para a luta em defesa das liberdades, de suas conquistas e reivindicações mais sentidas, e que facilitará a unidade e a organização dos democratas e patriotas de todas as classes e camadas sociais. Nós, comunistas, não ficaremos, portanto de forma alguma, à margem dessa campanha. As forças mais reacionárias também disputam o pleito, ao mesmo tempo que preparam o golpe tratam de agrupar-se em torno de um candidato que tentarão levar ao Catete. Não somos, pois, indiferentes a que seja eleito tal ou qual candidato. Apoiamos com entusiasmo a atividade patriótica que vem sendo desenvolvida pela classe operária e outras forças populares através do M.N.P.T., que tende a transformar-se em amplíssimo e poderoso movimento popular, e que constituirá parcela importante para a decisão do pleito eleitoral.
Acreditamos que nas atuais condições a apresentação de um novo candidato à Presidência da República dificultaria ainda mais a necessária unidade de todos os democratas e patriotas que querem defender a Constituição e por isto estamos dispostos a apoiar, entre os candidatos já indicados, aquele em torno do qual for possível a organização da mais ampla frente democrática, em
torno da qual se torne possível o desencadeamento no país inteiro de uma poderosa campanha de massas em defesa da Constituição, pela realização de eleições livres, em defesa das conquistas dos trabalhadores. Só uma tal campanha, ajudando a despertar e organizar grandes massas populares, será capaz de permitir a estas enfrentar com êxito as tentativas de todos os golpistas. Unido, o povo brasileiro tem força bastante para desarmar o braço dos traidores e para desmascarar a chantagem dos fascistas, coronéis ou generais, almirantes ou brigadeiros, que se arvoram em tutores da nação, quando não passam de vis serviçais do opressor norte-americano.