Os generais fascistas, ora no poder, nâo conseguiram realizar o que desejavam com a deposição de Vargas. Não estão em condições de levantar nenhuma bandeira para atrair as massas. Subiram ao poder odiados pelo povo e derramando o sangue do povo. Querem rasgar definitivamente a Constituição, mas são forçados a falar em democracia e em defesa da Constituição; querem liquidar as conquistas sociais dos trabalhadores, mas precisam enganar os trabalhadores, declarar que não pretendem tocar na atual legislação social senão para melhorá-la e prometer uma utópica participação dos trabalhadores nos lucros das empresas. É evidente que só pela força poderão tentar realizar a política imposta pelos seus amos norte-americanos — golpear o movimento operário e patriótico, acabar com a liberdade de imprensa, com o direito de greve e a liberdade sindical, anular o sufrágio universal, etc. Só por meio de novas e cada vez mais violentas investidas contra o povo poderão tentar impor à nação a política de traição nacional e de preparação para a guerra, de colonização do país e de total submissão aos monopólios, norte-americanos, }â claramente exposta pelos srs. Café Filho e Eugênio Gudin. Os estertores sanguinários da ditadura americana não assustam, porém, o povo; anunciam o fim, cada vez mais próximo, do regime de latifundiários e grandes capitalistas. Assim como o terror dos governos de Dutra e de Vargas não conseguiu quebrar a resistência do nosso povo, tampouco as violências dos generais fascistas conseguirão impedir a ampliação das lutas do povo e o reforçamento da unidade das forças democráticas e patrióticas sob a direção da classe operária e de seu Partido Comunista.

Com o golpe de 24 de agosto, que pôs a nu a brutalidade da intervenção norte-americana em nosso país, o povo brasileiro muito aprendeu e avançou politicamente, deu provas de um sentimento patriótico muito elevado, demonstrou seu ódio sagrado aos imperialistas norte-americanos e obteve vitórias na defesa das liberdades. Nosso Partido foi o motor que pôs o povo em movimento, que orientou e dirigiu as ações de massas. Nosso Partido apareceu ainda mais claramente para as massas como o Partido antiamericano, como o Partido que luta em defesa das liberdades e pela Independência nacional. Não estávamos, no entanto, suficientemente preparados para dirigir as grandes ações patrióticas de nosso povo. As lutas teriam sido muito mais elevadas e as conquistas teriam sido muito maiores se as ações de massas tivessem contado com a força de organização, isto é, com fortes conselhos de empresa, com núcleos da Liga da Emancipação Nacional nos bairros e nas fábricas, com as massas camponesas organizadas, com uma organização juvenil e uma Federação de Mulheres verdadeiramente de massas, com uma campanha eleitoral dominando as ruas e com candidatos que atuassem como verdadeiros agitadores de massas.

O descontentamento popular é hoje um fenómeno de âmbito nacional. Maiores são as condições que permitem a ampliação da frente de massas para a defesa das liberdades, da Constituição, das reivindicações operárias e camponesas, das reivindicações populares em geral, para a luta contra a preparação de guerra e pela independência nacional do jugo do imperialismo norte-americano. A situação é agora muito mais favorável do que durante o governo de Vargas para se conseguir a unidade e organização das grandes massas populares. As massas getulistas podem agora mais facilmente e mais rapidamente ser conquistadas para a luta pela democracia e pela emancipação nacional. O mesmo acontece com os setores da pequena burguesia que eram enganados pela pretensa «oposição» da U.D.N.

É urgente, no entanto, ao mesmo tempo que se faz um trabalho sistemático visando desmascarar o caráter reacionário, militar e fascista da atual ditadura americana de Café Filho, trabalhar pacientemente junto às massas com o objetivo de não permitir que sejam enganadas pelos demagogos que tudo fazem para afastá-las da luta e colocá-las a reboque dos imperialistas norte-americanos e de seus lacaios brasileiros. Os primeiros resultados das eleições de 3 de outubro mostram que as massas estão descontentes com a situação, mas que se deixam ainda arrastar em grande parte por demagogos como Jânio Quadros, Ademar de Barros e outros. Só através do trabalho diário junto às massas, levantando suas reivindicações mais sentidas, despertando-as, organizando-as e levando-as a ações concretas, poderão as organizações do Partido desmascarar os demagogos e agentes do imperialismo norte-amerieano e impedir que continuem seu trabalho de sapa em benefício dos monopólios norte-americanos e dos latifundiários e grandes capitalistas.

O essencial agora é conquistar as grandes massas, uni-las e organizá-las para a luta contra a atual ditadura americana e em defesa da Constituição, contra qualquer golpe de Estado que pretenda impor o terror ao povo. Através das lutas das massas e da ampliação da frente única, todas as tentativas terroristas da reação serão anuladas e cada tentativa de golpe de força dos generais fascistas e demais assalariados dos governantes dos Estados Unidos há de servir para abrir os olhos das massas, para agrupá-las cada vez mais estreitamente e levá-las para diante na luta vitoriosa pela liberdade e a independência nacional.

Foi, fundamentalmente, a debilidade das organizações de massas que não permitiu, na emergência do golpe de 24 de agosto, uma ação mais vigorosa das massas e maiores sucessos na luta em defesa das liberdades e das reivindicações populares. Devemos, pois, tratar de organizar rapidamente massas de milhões e avançar com decisão no sentido de novas e mais sérias ações de massas. O essencial é ampliar cada vez mais a unidade, ganhar dia a dia novos setores e novas camadas populares para a frente única, e não permitir que elementos «esquerdistas», aventureiros ou provocadores, a pretexto de elevar as formas de luta, prejudiquem a amplitude da frente única ou golpeiem a unidade já alcançada. É indispensável também acompanhar com atenção as rápidas modificações da situação, que se refletem nos sentimentos das massas e exigem por vezes a rápida substituição de nossas palavras-de-ordem. Nossa causa é a causa das massas, nosso trabalho e nossa luta só têm êxito com as massas. Como justa maneira de ganhar novos setores para o Programa do Partido, é preciso intensificar a luta em defesa da Constituição e pelas liberdades democráticas, pelo direito de greve e pela liberdade sindical, sempre em íntima ligação com a luta por aumento de salários e pela defesa do salário-mínimo, pelo congelamento de preços, pela defesa do petróleo, da energia elétrica, dos minerais radioativos, pela defesa da indústria nacional, assim como com a luta contra o “Acordo Militar Brasil-Estados Uniaos” e pela emancipação nacional.

Precisamos, cada vez mais, atuar politicamente junto às massas com o objetivo de convencê-las, através de um trabalho sistemático e persistente de persuasão, com argumentos convincentes, da possibilidade e da viabilidade da derrubada do governo de latifundiários e grandes capitalistas, serviçais dos imperialistas norte-americanos.