Ponte dos Cabanos

 

Chamem os chineses!
Engenheiros da maior ponte do mundo sobre o mar
Aqui no rio-mar eles irão tirar de letra doze quilômetros
Que farão a maior ponte fluvial do mundo
Em pleno portal da Amazônia verdeazul
Sobre a baía do Marajó entre Barcarena e o Itaguari
Já dizia minha avó que antigamente
Tempo da vela de miriti
O sacrifício destas gentes das ilhas Pará-Amazonas
Era tanto que o viajante carecia rezar ladainha
Dias antes da viagem e ir de casa em casa
se despedir dos parentes e aderentes
Pois podia calhar dele nunca mais voltar.

 

Chamem os chineses!
O problema desta gente das ilhas filhas da pororoca
É que estamos cansados de ficar na beira a ver navios
Pra China, Noruega, Estados Unidos, Eurozonas
Morrer de inveja e doutras causas naturais e anormais
Saber de tudo hoje em dia que faz indústria lá fora
Com a matéria-prima que foi embora
E quando acaba para o povo das águas não sobra nada,
Só querem o nosso minério, como diz a canção.

 

Chamem os chineses!
Vencedores do atraso social que estão com todo gás e petróleo
De Áfricas e outras periferias: parceira vanguardeira do Brasil, Rússia,
Índia e África do Sul na locomotiva chamada BRICS
Basta de ser besta a comprarzinho 1,99 em cada esquina
O povo trabalhador quer trens modernos em troca de ferro,
Alumínio e, sobretudo, energia elétrica extraída dos rios
Que vai embutida aos produtos com a mais valia de nosso labor.

 

Chamem os chineses!
Japoneses, coreanos, os russos e mais europeus,
Todos os gringos com seus cabedais…
‘Mas porém’ não se esqueçam por favor
Que a “ponte dos cabanos” sumanos existe invisível deste quando
O índio conquistador do rio das amazonas seguia o rastro do Sol
A buscar um país encantado
Onde não há fome, trabalho escravo, doença, velhice e morte
Norte constante duma história amazônica oculta à margem da História
Utopia tropical à meia maré de distância entre o paraíso selvagem
E o inferno verde colonial; a um passo da revolução
Como prova o “Bon Sauvage” de Montaigne e Rousseau
Com as lembranças da embaixada da Nação Tupinambá em França.

 

Na outra margem da saga dos Tupinambás
Vejam só, o bravo povo do Marajó
Há 1000 anos fazia planos de conquista do país do Arapari:
América do Cruzeiro do Sul…
Aqui os extremos Oriente e Ocidente se encontram na curvatura da Terra
As grandes águas do Rio e do Mar se misturam e dispartem ao Norte e Sul.
Por esta sagrada razão das antigas navegações
Os ancentrais de provectas migrações
Tempos do cacique Anakajury atravessaram do Caribe às Guianas
Ponte lendária entre a ilha de Trinidad e as bocas do Orinoco
Fundação da Parikuria na baía do Oyapoc ao Cabo do Norte
De lá pra cá numa universidade pés descalços
Arquitetaram aldeias suspensas e pontes sobre o espaço vazio
Até chegar ao Caripi (caminho do guerreiro)
E ao canal do Caraipijó (Carnapijó) junto à ilha Trambioca
A caminho do rio de Guayamã (Guamá).
Caminhos de rios e mares, travessias e pontes…

Tá ligado, sumano?

 

   José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica”, “Amazônia Latina e a terra sem mal” e “Breve história da amazônia marajoara”.

autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica” e “Amazônia latina e a terra sem mal”, blog http://gentemarajoara.blogspot.com