Renata Rosa
O que você está achando da Conferência?
Ela vem cumprir um papel fundamental neste momento, no marco das comemorações dos 90 anos do Partido. Traz à tona a discussão sobre a questão da emancipação e da questão da autonomia, para além da questão econômica, porque não dá para pensar um partido que quer uma nova sociedade sem discutir e refletir sobre essa condição de naturalização da subordinação feminina.
Como você vê a transposição da política do Partido para a atuação com o povo?
Eu fico pensando e percebo esta Conferência muito nesse sentido, porque é o Partido parando para refletir exatamente sobre como vamos fazer com que o povo também tenha condições de refletir e analisar todas essas questões mais teóricas. Penso que até o fato de ocuparmos espaço nas administrações também é uma forma de fazer com que essas discussões cheguem até o povo através da cultura, da educação. Sabemos que esses padrões de comportamento são construídos social e historicamente. E o Partido, quando consegue ir para esses espaços, cumpre o papel também de socializar essas discussões.
Como você vê a compreensão do Partido Comunista do Brasil nas relações de gênero?
Para mim, é muito incipiente. Venho dizendo em Minas Gerais que, embora seja uma segunda Conferência, ela ainda fica relegada às mulheres. Fizemos um levantamento em Minas e, dos cerca de 28 mil filiados, as mulheres são menos de 8 mil. É preciso saber diferenciar o que é luta emancipacionista e o que é ajuntamento de mulheres. Porque às vezes existe essa confusão dentro do Partido, de que trabalhar sobre a questão da mulher é reunir, é trazer mais mulheres para o Partido. Esse é um movimento importante, com certeza, mas ele não se conclui aí.
Você vê essa compreensão evoluindo no Partido?
Com certeza. Este momento aqui demonstra isso. Como eu disse, é incipiente, mas estamos trabalhando nessa linha. Acredito que agora é “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Não podemos deixar que só ocorra de dois em dois anos nos períodos de Conferência. Como não podemos deixar que algumas discussões, como o 8 de Março, a questão do dia internacional da mulher, sejam relegadas só a março, ou a 25 de novembro, dia contra a violência. Precisamos trazer essa discussão para a pauta cotidiana.
Estamos aqui discutindo sobre um novo modelo de sociedade, o novo projeto nacional de desenvolvimento. As mulheres não têm que só discutir sobre a luta pró-creche, ou o combate à violência. Esse é um problema também que acredito que os nossos dirigentes precisam debater: de achar que cabe às mulheres fazer um tipo de discussão e que cabe aos homens fazer outro tipo de discussão. Infelizmente, isso ainda acontece.
E digo isso porque Minas é um Estado com 853 municípios e nosso Partido está organizado em mais de 200. Percorri parte deles exatamente organizando as plenárias estaduais. E são recorrentes em camaradas dirigentes, no interior, essas distorções. Mas, ao mesmo tempo, julguei extremamente positivas porque levamos ao debate, levamos a refletir. E questões naturalizadas no discurso deles começam a ser questionadas por nós e isso faz com que o debate venha à tona. Então, para mim, iniciamos aí um processo que ainda é longo e cheio de idas e vindas.
Seria uma da compreensão teórica do papel do Partido?
Penso que é uma faca de dois gumes, quando o Partido amplia e se abre para que mais pessoas venham para ele. Para mim, não é uma debilidade na teoria, mas uma falha na formação desses militantes e dirigentes que não se tornaram quadros ainda, mas assumem funções de direção e não têm a compreensão de fato. Acredito que uma compreensão da teoria leva, mesmo que indiretamente, a se refletir, debater sobre a questão da emancipação da mulher numa perspectiva feminista.