O que você está achando da Conferência?

Fico maravilhada de ver que exercitamos o debate sobre a emancipação da mulher, sobre a situação da mulher na sociedade, com a presença de muitos homens. Aliás, uma presença dirigida, uma presença construída. Porque o debate sobre a mulher, sobre a sua emancipação, é importante que por ela seja debatido, e dominado, mas os homens precisam dominá-lo também para que possamos seguir avançando na busca de novos espaços e reconhecimento para as mulheres. Então, o Partido dá essa contribuição.

Primeiro que na esfera de Partido é um pouco diferente do que se faz nos movimentos sociais, cujo tema básico é aquela luta imediata por aquele espaço, por um determinado objetivo traçado. No Partido nós discutimos do ponto de vista teórico, mais direcionado. Embora possamos afirmar que o PCdoB, dentre todos os partidos do Brasil, hoje, não há dúvida nenhuma, é o que melhor compreende a necessidade da inserção das mulheres. Nós incentivamos muito a participação da mulher.

Você está num posto privilegiado, tem uma visão nacional. As desigualdades regionais influenciam na questão de gênero?

Sim, influencia, porque todo tipo de desigualdade afeta a sociedade, a população. E com maior força quanto mais carente for a camada da sociedade. No Nordeste mais empobrecido por índices de desenvolvimento humano inferiores aos do Sudeste, por exemplo. Lá, dentro os mais atingidos, são exatamente os pobres e as mulheres. E, pior ainda, em muitos casos os negros, que são os mais empobrecidos. A meu ver, o que mostra muito bem isso é a própria família do ex-presidente Lula. Uma família de nove irmãos, toda ela cuidada pela mãe.

É claro que a diferença social, assim como a diferença regional, atinge mais a mulher. Tanto que boa parte dos programas sociais hoje é focada nas mulheres, como o “Minha
Casa, Minha Vida”, o “Bolsa Família” etc. Porque a mulher cumpre ainda o papel de cuidadora na sociedade. Só que queremos ir além. Somos cuidadoras, sim, mas queremos ir além do cuidado com a casa. Queremos ajudar a cuidar do país, da política…

Você tem uma experiência nessa luta pela emancipação da mulher. Acha que o
PCdoB evoluiu na compreensão dessa problemática?

Evoluímos sim. Havia uma compreensão correta, mas evoluímos do ponto de vista da inserção do debate na ordem do dia. Porque o PCdoB sempre teve uma visão muito clara, muito correta em relação à necessidade da luta pela emancipação da mulher. A evolução a que me refiro é que estamos debatendo o problema muito mais hoje, dentro da prioridade que o tema merece, do que em momentos anteriores.

Mas isso também se explica pela questão temporal, pelo fator tempo. O que é prioridade em determinado momento ou não. Por exemplo, vivemos no Brasil um período de obscuridade, um período de fechamento político, um período terrível. Então, obviamente que naquele momento a prioridade era a sobrevivência política.

Você conviveu com João Amazonas. Ele tinha uma preocupação muito particular com a emancipação da mulher. Fale um pouco dessa sua experiência.

João Amazonas é alguém que deixa muito mais do que saudade em todos nós. Ele deixa muitos ensinamentos. Ensinamentos de como nos manter na condição de um partido político, em momentos extremamente adversos. João Amazonas viveu uma crise política internacional, em que chegaram até a decretar o fim do socialismo. E nós seguimos avançando.

Lembro que foi da época dele que tivemos uma vice-presidenta do Partido, a Jô Moraes. Por isso, João Amazonas deixou todo um legado. Um exemplo de pessoa, de um homem denodado, dedicado às causas do povo e que sempre formulava teoria. E colocava sempre na ordem do dia essa questão de gênero dentro do Partido.

Ainda falando de João Amazonas, tem algum fato marcante que você recordaria sobre essa preocupação dele com as mulheres?

Primeiro, ele era uma pessoa extremamente carinhosa. Acho que na luta nós não podemos confundir a firmeza, a dureza das opiniões com a dureza no ser. E quem não consegue tem que aprender. A vida ensina isso também, a ser forte, sólido politicamente, mas muito sensível no trato com as pessoas. E isso era o João Amazonas. Ele era a tradução exatamente disso. É interessante porque até o seu tipo físico mostrava isso. Um homem aparentemente sensível, frágil, porque pequeno que era, mas muito firme nas suas posições. Um líder político respeitado por todos. Isso nunca foi muito escrito, nem dito.