Fiel aos princípios leninistas da política exterior de paz, a União Soviética continuou esforçando-se energicamente por aliviar a tensão internacional e consolidar a paz, e conseguiu grandes êxitos neste particular. Recordarei as linhas essenciais que orientaram a iniciativa pacífica da União Soviética.

Em primeiro lugar, o melhoramento das relações entre as grandes potências.

Em segundo lugar, liquidar os focos de guerra que existiam no Oriente e impedir o surgimento de novos focos de guerra e de conflito na Europa e Ásia.

Em terceiro lugar, regularizar as relações com vários Estados a fim de aliviar a tensão na Europa (normalização das relações com a fraternal Iugoslávia, conclusão do Tratado de Estado com a Áustria, estabelecimento de relações diplomáticas entre a URSS e a República Federal Alemã, etc, etc.).

Em quarto lugar, procurar novos caminhos para resolver problemas como a organização do sistema de segurança coletiva da Europa, o desarmamento, a proibição da arma atômica, o problema alemão, etc.

Em quinto lugar, resoluta aproximação com todos os Estados que querem manter a paz.

Em sexto lugar, desenvolvimento ao máximo dos contatos e ligações internacionais sob todos os aspectos: o contato pessoal dos estadistas soviéticos com os estadistas de outros países, os contatos entre representantes de nosso Partido e dos partidos operários de outros países, e entre os sindicatos, a ampliação do intercâmbio de delegações parlamentares, sociais e outras, o incremento do comércio, de outras relações econômicas, do turismo, e a ampliação do intercâmbio de estudantes.

A iniciativa pacífica da URSS se converteu em um dos fatores mais importantes entre os que exercem uma influência imensa na marcha dos acontecimentos internacionais.

Para o êxito da iniciativa pacífica da União Soviética contribuíram notavelmente o apoio e as ações conjuntas de todos os países amantes da paz. Neste sentido desempenhou e desempenha papel especialmente importante a grande República Popular Chinesa que tanto fez para pôr fim ao derramamento de sangue na Coréia e na Indochina e que propôs, como se sabe, a conclusão de um pacto de paz coletivo na Ásia. A grande República da Índia deu uma valiosa contribuição ao fortalecimento da paz na Ásia e em todo o mundo. Os passos dados pela URSS para sanear a atmosfera internacional foram apoiados calorosamente por milhões de homens simples em todos os países.

Os esforços dos Estados e povos pacíficos não foram vãos. Pela primeira vez depois da guerra começou-se a sentir certa distensão. Esta atmosfera tornou possível a Conferência de Genebra dos Chefes de Governo das quatro potências. A Conferência ressaltou a viabilidade e a justeza do método de negociações entre os países, e confirmou o ponto de vista da URSS de que, se as partes manifestam o mútuo desejo de colaborar e chegar a um acordo, pode-se resolver por meio de negociações as questões mais complexas das relações internacionais.

Atualmente há quem procure enterrar o “espírito de Genebra”. Os fatos demonstram que determinados círculos do Ocidente não renunciaram ainda à sua esperança de exercer pressão sobre a União Soviética e arrancar-lhe concessões unilaterais. No entanto, já é hora de compreender que esses cálculos são irreais. A União Soviética muito fez para aproximar as posições das grandes potências. Hoje têm a palavra os Estados Unidos, Inglaterra e França. Isto não significa, naturalmente, que a União Soviética renunde a fazer novos esforços a favor do alívio da tensão e para consolidar a paz. Pelo contrário, já que surgiu a possibilidade de aproximar as posições das potências em uma série de importantíssimos problemas internacionais, a União Soviética se esforçará com maior tenacidade ainda para estabelecer a confiança mútua e a colaboração entre todos os países, sobretudo, entre as grandes potências. A este respeito, a igualdade de esforços e a reciprocidade de concessões são premissas absolutamente indispensáveis nas relações entre as grandes potências. O método das negociações deve ser o único aplicado para resolver os problemas internacionais.

A garantia da segurança coletiva da Europa, a garantia da segurança coletiva da Ásia e o desarmamento, são três problemas importantíssimos, cuja solução pode estabelecer a base para uma paz firme e duradoura.

A organização do sistema de segurança coletiva na Europa corresponderia aos interesses vitais de todos os países europeus, grandes e pequenos, e seria ao mesmo tempo uma firme garantia para a paz no mundo inteiro. Isto permitiria ao mesmo tempo resolver o problema alemão. O estado atual deste problema não pode senão despertar alarme. A Alemanha ainda continua dividida; intensifica-se o armamento da Alemanha Ocidental. Não é segredo para ninguém que, ao restabelecer o militarismo germânico, cada uma das três potências ocidentais persegue objetivos’ próprios. Mas, quem sai ganhando com esta política míope? Sobretudo, as forças imperialistas da Alemanha Ocidental. Entre os que saem perdendo é preciso colocar em primeiro lugar a França, da qual se intenta fazer, com essa política, uma potência de terceira ordem. Põe-se em relevo, cada vez mais, um novo eixo Washington-Bonn, que torna mais grave o perigo de guerra.

Na situação atual há possibilidades reais para resolver o problema alemão de outra maneira, em consonância com os interesses da paz e da segurança dos povos, inclusive o povo alemão, Aumentou como nunca a força da pacífica potência soviética. Os países do sudeste da Europa, há tempos fornecedores de matérias-primas e contingentes humanos para a Alemanha, formam com a URSS uma barreira firme contra uma possível agressão dos revanchistas alemães. A Áustria, no passado aliada da Alemanha, proclamou sua neutralidade. As forças pacíficas atuam em todos os países da Europa Ocidental. Diferente é hoje a correlação de forças na própria Alemanha. A República Democrática Alemã, que não quer a guerra, se fortaleceu em tal grau que hoje já é impossível falar em resolver o problema alemão sem que ela participe, ou à custa de seus interesses. Na República Federal Alemã, muitos milhões de operários atuam cada vez mais energicamente, junto às outras forças patrióticas, contra a transformação da Alemanha em foco de uma nova guerra.

A criação do sistema de segurança coletiva da Europa, a renúncia aos acordos de Paris, a aproximação e a colaboração entre os dois Estados alemães, é o caminho justo para resolver o problema alemão. Sabemos que determinados círculos querem resolver o problema alemão sem que disso participem os próprios alemães e em prejuízo dos interesses vitais do povo alemão. Não cabe a menor dúvida de que esta é uma política condenada ao fracasso. (Aplausos)

Uma questão vital para a humanidade continua sendo a cessação da corrida armamentista. Trata-se, naturalmente, de uma questão complexa. Maior deve ser, por isso, a tenacidade e a energia com que se procure a sua solução.

Ninguém pode dizer que a União Soviética fez pouco para tirar a questão do desarmamento do ponto morto. São bem conhecidas as propostas soviéticas de 10 de maio de 1955, as medidas adotadas pela URSS para reduzir suas forças armadas, etc. Entretanto, não se pode dizer o mesmo das potências ocidentais. Bastou que a União Soviética aceitasse as propostas da Inglaterra, França e Estados Unidos sobre o desarmamento em duas etapas e os limites máximos das forças armadas, para que as potências ocidentais voltassem atrás e não só se negassem a aceitar as propostas concretas da União Soviética, mas renegassem inclusive suas próprias propostas.

Evidentemente, manifestou-se aí a influência dos mais furiosos partidários da política de “posições de força”, que tentam novamente passar à ofensiva e frustrar a distensão que tinha começado a delinear-se. É natural que os Estados pacíficos se vejam na necessidade de tirar daí as conclusões correspondentes e de continuar fortalecendo sua segurança.

Obrigados a unir suas forças e recursos, nossos Estados concluíram o Tratado de Varsóvia, importante fator de estabilização da Europa. Estão plenamente decididos a pôr em jogo todas as suas forças para salvaguardar a vida pacífica de seus povos e impedir o surgimento de um novo incêndio bélico na Europa.

No que se refere ao importantíssimo problema do desarmamento não pouparemos esforços para resolvê-lo.

Não recuaremos em nossos esforços para conseguir a cessação da corrida armamentista e a proibição das armas atômicas e de hidrogênio. Até que se chegue a um acordo sobre as principais questões do desarmamento, expressamos nossa disposição de aceitar certas medidas parciais neste- sentido, como, por exemplo, a de pôr fim às experiências com a arma termonuclear, a de proibir que as tropas destacadas na Alemanha disponham da arma atômica e a de reduzir os orçamentos de guerra. A aplicação destas medidas pelos Estados poderia desbravar o caminho para se chegar a um acordo sobre outras questões mais complicadas do desarmamento.

A União Soviética está firmemente decidida a fazer todo o necessário a fim de garantir a paz e a segurança dos povos.

Para fortalecer a paz em todo o mundo teria uma importância enorme o estabelecimento de firmes relações de amizade entre as duas maiores potências: a União Soviética e os Estados Unidos da América. Consideramos que, se as relações entre a URSS e os Estados Unidos se baseassem nos conhecidos cinco princípios da coexistência pacífica, isso teria uma importância enorme para toda a humanidade e, como é natural, seria tão benéfico para o povo dos Estados Unidos como para os povos da URSS e dos demais países. Estes princípios — respeito mútuo da integridade territorial e da soberania, não-agressão, não-ingerência nos assuntos internos de outros países, igualdade e vantagens mútuas, coexistência pacífica e colaboração econômica — são hoje compartilhados e apoiados por uns vinte países.

Nos últimos tempos, demos novos e importantes passos destinados a conseguir uma radical melhoria das relações soviético-norte-americanas. Refiro-me à proposta de firmar um Tratado de amizade e colaboração entre a URSS e os Estados Unidos contida na mensagem do camarada N. A. Bulganin ao Presidente Dwight Eisenhower.

Queremos ter amizade e colaborar com os Estados Unidos na luta pela paz e a segurança dos povos, bem como nas esferas econômica e cultural. E o fazemos com bons propósitos, sem segundas intenções. Se fizemos nossa proposta não é porque a União Soviética não possa viver sem semelhante tratado com os Estados Unidos. O Estado soviético existia e se desenvolvia com êxito quando nem sequer existiam relações diplomáticas normais entre a União Soviética e os Estados Unidos. Propusemos um tratado aos Estados Unidos porque sua conclusão corresponderia aos mais profundos anseios dos povos de ambos os países, que querem viver em paz e amizade. (Aplausos.)

Se não se estabelecem boas relações entre a União Soviética e os Estados Unidos e existe a desconfiança recíproca, a corrida armamentista adquirirá proporções ainda maiores e a força de ambas as partes crescerá de forma ainda mais perigosa. Querem isto os povos da União Soviética e dos Estados Unidos? Naturalmente, não.

Nossa iniciativa não encontrou por enquanto a compreensão e o apoio devidos nos Estados Unidos, o que demonstra que, nesse país, ainda têm sólidas posições os partidários da solução dos problemas pendentes por meio da guerra, e que esses elementos exercem ainda uma forte influência sobre o Presidente e sobre o Governo. Mas não queremos perder a esperança de que nossos anseios pacíficos encontrarão uma apreciação mais justa nos Estados Unidos e as coisas melhorarão.

Continuamos dispostos a trabalhar em prol da melhoria de nossas relações com a Inglaterra e a França. Nossos países, situados na Europa, têm muitos interesses comuns. E comum, acima de tudo, a preocupação de impedir uma nova guerra. Como se sabe, ambas as guerras mundiais começaram na Europa. Seu foco foi a Alemanha militarista. Os povos da União Soviética, França e Inglaterra, junto com os povos da Polônia, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Bélgica, Albânia e outros Estados europeus derramaram muito sangue para derrotar o inimigo comum e assegurar a paz. Consideramos que a URSS, a Inglaterra e França, como grandes potências européias têm o dever sagrado de velar pelo bem que a paz significa e fazer todo o possível para conjurar uma nova conflagração. É importante recordá-lo precisamente agora, quando se acelera a reconstituição da Wehrmacht revanchista da Alemanha Ocidental, criando uma ameaça direta à segurança de todos os povos europeus. A garantia de uma paz duradoura e da segurança na Europa interessa permanentemente a nossos países. Isto cria uma base firme para a compreensão mútua e a colaboração, para o desenvolvimento do comércio e de múltiplos laços entre a URSS, a Inglaterra e a França.

A União Soviética se preocupará sempre em continuar ampliando e reforçando a amizade e a colaboração com os países do Oriente. Podemos assinalar com satisfação que entre nós e a República da Índia estabeleceram-se boas relações de amizade que, estamos certos disso, têm um grande futuro. Saudamos a disposição dos povos dos países árabes de defender sua independência nacional. Confiamos igualmente em que o Irã, a Turquia e o Paquistão compreenderão que as relações normais com a URSS correspondem aos interesses vitais desses países.

Nosso princípio invariável é desenvolver e fortalecer as relações de amizade com todos os países que aspirem, como nós, a manter a paz.

Sustentamos o ponto de vista de que, inclusive nas atuais condições, quando existem blocos militares, não foram esgotadas de forma alguma as possibilidades de melhorar as relações entre os Estados, especialmente entre Estados vizinhos. Deve destacar-se a este respeito a importância dos tratados de não-agressão ou de amizade, cuja conclusão contribuiria para dissipar as suspeitas e a desconfiança existentes nas relações entre os Estados, e para sanear a situação internacional.

De sua parte, a União Soviética está disposta a concluir semelhantes tratados com os Estados correspondentes.

Para o melhoramento das relações entre os países tem grande importância a ampliação dos vínculos econômicos e culturais. O Governo soviético faz todo o possível para contribuir para o máximo desenvolvimento de tais vínculos. Podemos assinalar com satisfação que nos últimos tempos intensificaram-se consideravelmente os contatos com fins práticos e o intercâmbio de delegações de caráter diverso entre a União Soviética e outros países. No ano passado, visitaram a Inglaterra delegações soviéticas de especialistas da indústria leve, da construção e da agricultura chefiadas por membros do Governo, assim como representantes dos sindicatos, muitas personalidades da ciência e da cultura, delegações esportivas. O Governo inglês contribuiu para essa ampliação das relações. As delegações soviéticas foram bem recebidas na Inglaterra. É de supor que os cidadãos ingleses que visitaram a União Soviética, fazendo parte de delegações ou individualmente, não poderão queixar-se de que tenham sido mal acolhidos em nosso país. De acordo com esse mesmo espírito se desenvolvem as relações entre a União Soviética e a França, Suécia, Finlândia, Noruega e outros países.

No ano passado teve lugar também um intercâmbio de delegações com os Estados Unidos. Neste país foi dispensada uma boa acolhida, em particular, à delegação agrícola soviética. Visitaram os Estados Unidos delegações de jornalistas, trabalhadores da construção e médicos soviéticos. Entretanto, o desenvolvimento dos contatos com os Estados Unidos ainda é insignificante. Durante esse mesmo período estiveram na União Soviética muitos destacados estadistas, homens públicos e cidadãos estadunidenses. Os cidadãos norte-americanos tiveram todas as possibilidades de visitar a União Soviética e encontraram boa acolhida em nosso país. Ao contrário, lamentavelmente, muitos engenheiros, cientistas, escritores e artistas soviéticos não puderam aproveitar os convites recebidos de companhias e organizações norte-americanas porque as autoridades estadunidenses não lhes forneceram o visto correspondente. É claro que isto não contribui para ampliar os contatos entre nossos países. Esperemos que a situação melhore.

O comércio está destinado a desempenhar um importante papel na ampliação da base para a colaboração econômica entre os países. Em contraposição ao lema do bloco do Atlântico Norte — “Armemo-nos!”, — lançamos o lema de “Comerciemos!” —. Em nosso novo Plano Quinquenal é prevista uma considerável ampliação das relações comerciais tanto com as democracias populares como com todos os demais Estados.

Consideramos que nosso supremo dever internacional consiste em desenvolver e fortalecer incansavelmente as relações fraternais entre os países do campo socialista em benefício de nossa grande obra comum: o socialismo. (Prolongados aplausos.)