Maria das Neves
O que você está achando da conferência?
Acho que damos saltos importantes na consolidação da luta das mulheres. O PCdoB é um partido que preza organizar a luta do povo. E hoje não há como falar da organização da massa do povo brasileiro sem falar da luta das mulheres. Nós somos mais de 50% da população, mais de 50% do eleitorado, e 47% da População Economicamente Ativa (PEA). Ou seja, hoje organizar a luta de massas, a luta do povo brasileiro numa gestão em que o governo é comandado por uma mulher, não há como avançarmos nas lutas sociais sem que as mulheres estejam organizadas.
E a II Conferência do PCdoB aponta passos estratégicos para consolidarmos essa luta dentro do Partido, sobretudo apontando a atuação estratégica da UBM que, acredito eu, é um importante instrumento, que tem condições de fazer a luta teórica. Enfim, nós temos condições de, pelo nosso Novo Programa Nacional de Desenvolvimento, poder olhar para a mulher brasileira como um todo, e as mulheres olharem para o PCdoB, ver os seus rostos, as suas faces.
Você não acha que faltou um aprofundamento na questão da mulher jovem, como a sexualidade, a maternidade precoce, a perspectiva profissional?
Acredito que fazer uma elaboração mais específica do perfil de cada mulher, não só comunista, mas da mulher brasileira, é um trabalho cotidiano, um exercício cotidiano, que todos os nossos dirigentes devem fazer. Nós devemos fazer isso, pela UJS, pela UBM, contribuir com a formulação para que a formulação do Partido seja cada vez maior. Mas, acredito eu, na luta geral, o que mais discrimina a mulher é a luta de classes.
E é combatendo o sistema capitalista, o responsável por acentuar as desigualdades. Por exemplo, uma mulher jovem, negra, pobre, lésbica e deficiente. A principal característica que irá discriminar essa mulher é o fato de ela ser pobre, todas as demais acompanham, mas sem dúvida nenhuma o que a deixa numa condição marginalizada é o fato de ela não ter condições de poder se manter na sociedade com mais dignidade.
Por isso, acredito que é necessário, do ponto de vista teórico, avançarmos. É preciso cada especificidade ter mais visibilidade, mas entendendo que, aqui na Conferência, o fundamental é chamar as mulheres comunistas, primeiro, a serem todas feministas. Não quer dizer que todas as comunistas necessariamente sejam feministas.
Então, é um passo que precisamos dar. Todas as comunistas devem ser feministas. Em segundo, todas as feministas devem atuar na UBM. Ou se atuam na UJS, ou na Conam, ou qualquer outro movimento, elas devem transversalmente atuar também na UBM. Ou fazer a divulgação da corrente emancipacionista, essa grande palavra, mas que tem um significado, em minha opinião, muito simples: fazer a luta das mulheres em parceria com os homens. Portanto, essa luta é mais unificada, e não é específica das mulheres. É uma luta social, uma luta de homens e mulheres, jovens, crianças, idosos.
Por isso, é necessário aprofundar o estudo, o levantamento teórico de cada especificidade, mas, sobretudo, na rua, na luta cotidiana, é preciso ter muita unidade de ação para fortalecer a luta das mulheres, e para que possamos obter mais vitórias num governo de uma mulher presidenta, chegando a uma década de governo progressista.
O PCdoB tem bastantes mulheres jovens no movimento estudantil. A que você atribui isso?
Nós temos uma profunda interlocução com a juventude, e, sobretudo, no movimento estudantil pela política acertada que o PCdoB tem ao tratar a educação como um instrumento estratégico para a emancipação social. E as mulheres hoje são maioria nas universidades, nas escolas. Estamos almejando ser maioria na pós-graduação. Portanto, ao encarar a educação como setor estratégico, nós alcançamos muitos jovens que atuam em suas escolas, em suas universidades.
E, para além disso, o PCdoB, que completa seus 90 anos, é um partido essencialmente jovem, que nasceu a partir dos sonhos, dos objetivos de uma juventude que quer construir uma sociedade mais justa e mais igualitária. E a juventude é essa força motriz das transformações sociais. Então, não há como um partido de classe, de trabalhadores, que busca a transformação social, não ter essa força a seu lado, que é a força combativa e mobilizadora da juventude.
Portanto, temos a ação mais acertada, o discurso acertado, e damos a devida prioridade para a nossa juventude. Nós investimos nos nossos quadros jovens, a partir do nosso trabalho na UJS, e hoje dirigimos a UNE e a Ubes. Por essa política acertada que temos para a juventude. Defendendo em nosso país políticas de inclusão à educação, de políticas públicas para a juventude, e fazendo com que a juventude possa ter mais direitos na vida, na sociedade, no mercado de trabalho como um todo.
Acredito que isso faz com que o PCdoB seja um partido profundamente conectado com a juventude. Mas também é algo muito emblemático a paixão que o PCdoB desperta nos jovens – que vem das lutas dos nossos jovens combatentes da Guerrilha do Araguaia, que vem da ligação que temos com a América Latina, e a figura de Che Guevara.
Temos, portanto, uma relação umbilical com toda juventude revolucionária que lutou na ditadura militar pela democratização no nosso país. Por isso, a nossa juventude hoje é fruto da juventude do passado que lutou pela redemocratização do país. É fruto de todos os guerrilheiros do Araguaia, que lutaram por democracia. Então, carregamos conosco a paixão por fazer essa luta e temos uma abnegação muito grande para atuar enquanto jovens na militância do PCdoB, e lutar, portanto, pelo socialismo.