O grande bazar da Europa começa a desabar
Os muito sérios homens da Europa continuam parecendo cada vez mais ridículos. Contudo, o mundial “thriller do euro” com a disseminação da crise de dívida no coração da Europa e no sistema bancário europeu, torna impositívas novas, urgentes – mas também corajosas – decisões para a estabilização da Zona do Euro.
Desde os primeiros dias, os empoados líderes europeus tentam a quadratura do círculo, apresentando a coesão popular para a aceitação do euro com a promessa de solidariedade com base em uma rede de segurança social em nível nacional e o forte fluxo de capitais dos Estados ricos aos estados pobres.
Por alguns anos, esta sublime obsessão funcionou. Mas agora parece que o grande bazar começou a desabar. O diálogo público em Bruxelas, Berlim, Paris, em quase todas as capitais européias, é sombrio. O tema do diálogo oscila em torno de como será evitada a derrocada do euro ou o “gradual esquartejamento” da Zona do Euro.
Os empoados líderes da Zona do Euro deverão tomar, imediatamente, corajosas decisões a fim de evitar a catástrofe. A eventual derrocada da moeda comum européia provocará queda mundial, superior àquela de 2008-2009, falências, cadeados nas portas dos bancos, quebra da Zona do Euro em dois, enquanto ameaçará ainda os alicerces da própria União Européia.
As possibilidades de uma saída segura da crescente crise esgotam-se a galope. Dentro de um ambiente de limitada liquidez e impopulares medidas de frugalidade, tem sido criado e fomentado um círculo vicioso de déficits e cada vez maior descontentamento e desespero. Se não forem encontradas e adotadas soluções, o euro poderá derrocar dentro de semanas.
Apoio supranacional
Somente o Banco Central Europeu (BCE) poderá proporcionar uma solução que aliviará imediatamente o problema. Deve tornar-se o credor de última instância, reduzir mais as taxas de juros e inaugurar política de flexibilização de crédito, a exemplo do Federal Reserve (Fed) dos EUA. Exigível é ainda determinar uma espécie de eurodebênture como aquela que foi proposta pela Comissão Européia (órgão executivo da UE).
A crise abalou o otimismo. Superiores “eurocratas” apresentam o argumento de que a derrocada foi causada em essência pela crise do capitalismo anglo-saxão. Referem-se à exacerbação do nacionalismo econômico da Alemanha e ao recuo do sentimento popular de legalização da União Européia e de suas instituições. A União Européia não poderá sobreviver sempre desta forma. Os cidadãos da Zona do Euro deverão convencer-se que existe, também, uma “distância social”…porque diferentemente “estamos perdidos”.
Não resta menor dúvida de que o nacionalismo econômico em sintonia com o âmbito legislativo da Zona do Euro desencoraja as autoridades de revelarem as fraquezas de seus bancos domésticos.
Por este, exatamente, motivo a indispensável avaliação e reestruturação dos bancos deverão ser realizadas em nível supranacional, para produzir resultados. A crise de dívida tornou-se o maior inimigo. E enquanto o tempo passa, aumenta o número de bancos e empresas “zumbis”, isto é, organismos mortos-vivos que poderão funcionar somente com capitais estatais de apoio.
Queda e deflação
Para enfrentarem a crise financeira, os governos deverão tomar medidas de extrema urgência. Sem esta – sem precedentes – medida, muitas economias serão condenadas à queda profunda e, provavelmente, à deflação. Com as dívidas dos setores público e privado em nível tão alto, a deflação será catastrófica. Mas a salvação dos bancos dissolveu as economias frágeis.
A posição de muitos governos sob o ponto de vista fiscal tornou-se preocupantemente grave. Os gastos resultaram em dramático agravamento dos déficits e dívidas e fora de controle as economias. Ninguém deve alimentar ilusões. As crise bancárias seguirão, geralmente, profundas pós-queda. Não existe exceção nesta regra.
Em condições normais, a pergunta “como os bancos gerenciam o risco das garantias que recebem dos governos e dos demais grupos financeiros com os quais negociam” não interessa os mortais comuns.
Contudo, o mundo não vive em condições normais. Os responsáveis pelo gerenciamento de risco dos bancos (risco criado por eles mesmos) encontram-se frente à frente com dificuldades chocantes, fatos que ninguém esperava que aconteceriam.
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Fonte: Monitor Mercantil