Elogio do esquecimento
Elogio do esquecimento
Bom é o esquecimento!
Senão como se afastaria o filho
Da mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros
E o impede de experimentá-la.
Ou como deixaria o aluno
O professor que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O aluno tem que se pôr a caminho.
Para a velha casa
Mudam-se os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá vivessem
A casa seria pequena demais.
O forno esquenta. Já não se sabe
Quem foi o oleiro. O plantador
Não reconhece o pão.
Como se levantaria pela manhã o homem
Sem o deslembrar da noite que desfaz o rastro?
Como se ergueria pela sétima vez
Aquele derrubado seis vezes
Para lavar o chão pedroso, voar
O céu perigoso?
A fraquesa da memória
Dá força ao homem.
Bertolt Brecht – dramaturgo alemão – Poemas 1913 – 1956 3ªedição