“Temos dois dias para salvar o euro”, esclarece Mario Monti, primeiro-ministro da Itália, em vista da Reunião de Cúpula dos 27 empoados chefes de Estado e de Governo da União Européia que iniciou-se aqui, em Bruxelas. Mas, na realidade, a mensagem não tem outro destinatário do que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

Pela primeira vez desde a eclosão da crise que sacode o euro, a Zona do Euro e ameaça a sobrevivência a União Européia (UE), Merkel verifica que as forças políticas não só da Zona do Euro, mas do planeta inteiro reuniram-se contra ela, com objetivo comum de derrubar a receita econômica que até agora o governo de Berlim conseguia impor.

A paciência do Governo dos EUA, assim como, de líderes dos fortes países emergentes contra a indecisão e as meias medidas dos empoados líderes europeus esgotou-se. E com a forte mulher do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, na vanguarda, alavancam um projeto específico para enfrentar a crise que, sem sombra de dúvida, deverá encolerizar os alemães.

“Se a Reunião de Cúpula não conseguir um resultado bem sucedido, existirão progressivamente tensos ataques especulativos contra países isolados, com os mercados cercando os mais fracos”, explicou Monti, “e estes ataques voltarão não só contra os países que transgrediram os cânones do euro, mas também contra Estados como a Itália, que, embora tenham atendido os cânones, carregam o passado de uma elevada dívida”, disse Monti, formulando este estranho silogismo para conseguir uma conclusão lógica que justifique a crise que assola a Itália.

E Monti prosseguiu: “Uma grande parcela da Europa se encontrará em uma posição em que deverá continuar tolerando o muito alto custo de endividamento, algo que terá consequências diretas sobre os Estados e, em continuação, sobre as empresas. Isto é exatamente o contrário daquilo que é necessário para o crescimento econômico”. E pediu uma mais estreita unificação da Zona do Euro, sem explicar o sentido de suas palavras.

União bancária e fiscal

Igualmente dramático tom utilizou Christine Lagarde para descrever os riscos imediatos que enfrenta o euro. “Neste momento coloca-se em dúvida a viabilidade do sistema monetário europeu. E já estamos vendo tensões adicionais e pressões sérias, tanto sobre os bancos, quanto sobre os Estados da Zona do Euro”.

Por isso, Lagarde pressiona em direção de um plano no qual estão incluídas várias das medidas que constituem “sinal vermelho” para a Alemanha. E para evitar-se maior agravamento das condições na Zona do Euro, deverá o Banco Central Europeu (BCE) recomeçar adquirindo os bônus estatais emitidos pelos países que enfrentam pressões nos mercados secundários. Também exige apoio direto aos bancos europeus fracos com capitais dos mecanismos europeus de salvação.

Entretanto, além destas medidas de curto prazo, cuja meta é enfrentar os riscos imediatos que ameaçam o euro, o FMI exige a complementação da união bancária e da união fiscal na Zona do Euro mesmo em período mais longo. A nova estrutura deverá incluir um plano comum e de garantia dos depósitos bancários, assim como a gradual, mas restrita, divisão de responsabilidades entre emprestador e tomador de empréstimos.

FMI quer uso direto dos fundos de apoio

Ao que tudo indica, essencialmente, o FMI, tendo recebido as bençãos não só do governo dos EUA, mas também do presidente da França, François Hollande, do primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, e do espanhol, Mariano Rajoy, pressiona Angela Merkel para aceitar as soluções que até hoje ela e o governo alemão sabotaram.

Por enquanto, o Banco Central da Alemanha (Bundesbank) não perde oportunidade para criticar o BCE e seu contraditório programa, no âmbito do qual tem adquirido títulos estatais totalizando 210,5 bilhões de euros.

E enquanto o BCE congelou este programa, nos últimos tempos, Berlim e Frankfurt (sede do BCE) observam atemorizadas a Europa evoluindo a favor do plano de aquisição direta de bônus pelos mecanismos de salvação Feef e ESM. Na prática, trata-se de uma salvação indireta da Espanha e da Itália com recursos totalizando 750 bilhões de euros (os quais, essencialmente, são pagos principalmente pelo contribuinte alemão) e sem as severas condições que acompanham um pacote oficial de salvação como os que foram concedidos a Grécia, Portugal e Irlanda.

A “idéia” de aquisição de títulos estatais pelos fundos de salvação foi atirada por Monti sobre a mesa de reunião do G20, que encerrou-se melancolicamente em Los Canos, no México. E em alguns dias apenas conseguiu tornar-se o mais aceito plano para o enfrentamento da crise do euro.

Em consequência, foi o primeiro item da agenda da ridícula mini reunião de cúpula marcada às pressas pela “frente única” Monti-Rajoy-Hollande, sob o comando de Merkel, com o objetivo de aliviar a pressão dos demais países-membros da UE contra a Alemanha e sua chanceler.

Batalha perdida

Ao verificar que o novo plano de salvação da Zona do Euro começou a ser largamente discutido nos empoados círculos políticos europeus e assumir extensa divulgação, Merkel tratou de baixar o tom de suas habituais ameaças e reduzir a extensão de suas expectativas por um rápido acordo, após um “figurão” de seu governo ter-lhe esclarecido que o encontro destas quinta e sexta-feira aqui, em Bruxelas não chegará a nenhuma definição oficial. “Trata-se de uma discussão claramente teórica”, asseverou-lhe o figurão, supostamente, bem informado.

Mas, ao que tudo indica, apesar de suas reações habitualmente contrárias e usualmente agressivas, Merkel já perdeu esta batalha. A favor da aquisição dos bônus posicionaram-se vários membros do Conselho Diretor do BCE, (os chamados Cardeais) e eles não deixaram de expressar sua dúvida por que, enquanto o Feef poderia, legalmente, intervir nos mercados secundários de títulos há mais de uma ano, nenhum governo da Zona do Euro tenha optado fazer uso desta possibilidade até agora?

O fiasco

O apoio direto dos bancos europeus com recursos dos mecanismos de salvação Feef e ESM estão promovendo as autoridades do FMI, pensando, obviamente, nos bancos espanhóis. Totalizando 100 bilhões de euros, o pacote de salvação da Espanha e de seus bancos evoluiu em fiasco antes de ser, ainda, liberado, e a Europa está obrigada agora a encontrar formas para corrigir o prejuízo que provocaram suas equivocadas manipulações.

Com os 100 bilhões de euros dos empréstimos de salvamento que prometeu liberar para o Governo da Espanha para apoiar seus bancos, a Europa conseguiu não tranquilizar os mercados, mas, ao contrário, recrudesceu suas preocupações e seus ataques contra o país.

De acordo com os termos do acordo, os empréstimos de salvação deverão ser debitados à dívida pública da Espanha, agravando, essencialmente, a situação fiscal do país. O resultado foi o custo de seu endividamento nos mercados explodir em novo recorde para a época do euro, em níveis considerados inviáveis.

Por isso, também o FMI duvida agora da eficácia do plano para apoiar a Espanha, enquanto, os mercados consideram que o pacote de 100 bilhões de euros constitui o pré-aviso de uma regular salvação do país. O círculo vicioso no qual chafurdam os bancos e os Estados deve ser quebrado, segundo opinião da Lagarde, algo que ela espera conseguir com o apoio direto aos bancos pelos mecanismos de salvação, com empréstimos que não onerarão os orçamentos estatais.

Não por acaso, a proposta foi atirada sobre a mesa no momento em que tornam-se conhecidas as reais necessidades de capital dos bancos da Espanha. A propósito, Roland Berger e Oliver Wyman, controllers independentes, estimaram que, o setor bancário da Espanha precisa entre 51 bilhões de euros a 62 bilhões de euros para enfrentar o agravamento de suas situações e os novos prejuízos pelos portfólios do próprio setor. Por fim, anotem que os 27 empoados chefes de Estado e de Governo da UE terão apenas esta sexta para solucionar a crise.

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Fonte: Monitor Mercantil