Brasil, Brasis 2022

 

Como será o próximo amanhã alguém pergunta a seu oráculo preferido
Conforme a diversidade e precaridade da crença ou ciência de cada qual.
Eu também quero saber, pois desde que o homem apareceu no mundo
Ele consome seus dias a cogitar da medida e passagem do tempo
Mediante a arquitetura do espaço físico ou imaginário povoado
De deuses e demônios, povos, impérios, nações e civilizações:
Há auroras que ainda não brilharam. A deusa Phisis (pra não dizer Matéria)
Tem espiritualidades supimpas…
No que me toca, queria saber quem inventou o mundo
Já sei (depois de uma batalha metafísica insana) bancando Janus
Espiando o passado e o futuro com suas duas caras de espanto
Que não foi esse tal de Zeus inventado na Antiguidade.

Mas Deus me livre de ser profeta ou pajé da história do futuro Brasil
Por isto paresque a antiga Grécia se acabou e a nova está à deriva.
Pelas barbas do Profeta, a pergunta que não quer calar:
Poderia existir o velho Marx sem a inseparável existência do jovem Marx?
Este clarividente revolucionário planetário
que há um século e meio, por lógica filosófica e estatística,
previu a Crise das crises que nós estamos atravessando
até o fim da era do homem lobo do homem
(é dizer paresque fim do Homem-Bicho e iniciação do Filho do Homem)…
Revolução das re-evoluções: cérebro evolutivo que cria a mente libertária,
Mente que concebe o cérebro complexo libertador…
Desde o cativeiro da Babilônia sabemos por Isaías que o imperialismo
está com dias contados.
Todavia o reino dos homens pertence à História como o reino dos vegetais e dos animais pertence à Natureza mãe de todas as necessidades,
Sendo de notar que o bicho homem é animal político
Tendo vontade própria porém limitada por leis naturais.
Claro: existe parentesco espiritual entre profetas e revolucionários:
todos libertadores são parentes (Moisés, Sidarta, Jesus, Maomé, Marx, Freud, Bolívar, Ghandi, Mandela…) como as duas metades do cérebro,
Emoção e razão são siamesas.

Haveria socialismo científico sem prévio comunismo primitivo?
A mítica Terra sem males dos índios da América do Sul ou antigas fraternidades igualitárias de artes e ofícios no velho continente…
Quem construiria a base teórico-científica de “O Capital”
Sem a prestimosa ajuda do fiel camarada escudeiro Engels?
Masporém Engels era lúcido capitalista e Marx intelectual sem vintém
Antes de se associar e anunciar o “Manifesto Comunista” aos proletários
da Terra como no Sermão da Montanha o carpinteiro de Nazaré a todos
oprimidos do mundo sob as patas do Império de Roma.
Não é sem fundamento que revolucionário modernos consideram
Jesus de Nazaré o primeiro comunista do mundo antigo
Em comum a certeza de que a Mais Valia transforma e move o mundo
Que a humanidade leva aos ombros como Atlas carrega a África
E a mãe África sustenta a Civilização desde a primeira aldeia do mundo.
Como diria uma comadre minha negra de grande sabedoria prática,
“puta que pariu, é muita sabença pra mea cabeça!”
Não cabe tanto proveito num saco só
Para um homem sozinho no curto espaçotempo de uma vida
Há que se religarem as coletividades de todos tempos e lugares
No descobrimento do mundo futuro:
uma Terra sem males para todos os povos
(sem fome, sem escravidão, sem doença, sem velhice e sem morte)
pátria grande da América do Sul nascida do Mito tupi-guarani
para o novo mundo do porvir desde o antigo País do Futuro
Por acaso, o Bom Selvagem inaugurou a teoria dialética do bumerangue
sobre as duas margens do Oceano e nos dois hemisférios
foi o índio bárbaro a Europa semear ventos da Revolução Francesa:
carece agora neste século que o País do Futuro
diga qual é seu devido lugar no próximo capitulo da História…

O segredo do futuro a gente deveria saber: está na ciência do passado
Que a gente chama a torto e direito de História
Conjunto contraditório e mal enjambrado de suas mil e uma facetas
Misturando realidade e fabulação
Que nem álbum de família desbotado: cada imagem uma biografia
Entrelaçada a ramos diversos da respectiva árvore genealógica
Apenas cosida pela dialética e a lógica mutante de diferentes épocas
Tecidas pelo casamento da necessidade com o acaso.
Mas esta intrigante preteridade é e sempre será presente
No infinito da evolução das coisas que nunca se repetem:
tudo se dissolve no ar.
Até mesmo as lembranças e a memória primitiva do parto da Terra…
Do ‘big bang’ ao ‘big crash’ tudo é passar e sucumbir
Mas o amor é eterno enquanto dura e a Utopia é o nome da esperança
Que venceu o medo:
Eis o segredo do triunfo do Homem sobre a Morte!

O Brasil é a velha Ilha do Brazil procurada entre sonhos e devaneios
Das ilhas Afortunada no Atlântico, “descoberto” no país do pau-brasil
Cuja existência real se perde em tempos imemoriais de Pindorama
e da terra dos Tapuias (aqui mil anos contemplam nossa ignorância
dos tristes trópicos na boca do rio das Amazonas),
onde a primeira ecocivilização amazônica levantou-se
enquanto, na outra margem da História, a civilização greco-romana declinava no horizonte.
O futuro mora nas ilhas do mundo e os Brasis são um arquipélago vital
para o futuro do mundo novamente descoberto no espaço curvo
da Ciência e Tecnologia onde a Terra sem males não se achou.

 

 

 

   José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica”, “Amazônia Latina e a terra sem mal” e “Breve história da amazônia marajoara”.

autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica” e “Amazônia latina e a terra sem mal”, blog http://gentemarajoara.blogspot.com