O Negro
O Negro
Eu sou um negro:
Escuro como a noite é escura,
Escuro como o ventre da minha África.
Eu fui um escravo:
César mandou – me limpar a soleira de suas portas.
Lustrei as botas de Washington.
Eu fui um operário:
Sob minhas mãos as Pirâmides cresceram.
Eu fiz a argamassa para o edifício Woolworth.
Eu fui um cantor:
Por todos os caminhos da África até a Geórgia
trouxe minhas canções tristes
e criei o “ragtime”.
Eu fui uma vitíma:
Os belgas cortaram minhas mãos no Congo
Lincham-me agora no Texas.
Eu sou um negro:
Escuro como a noite é escura.
Escuro como o ventre da minha África.
Langston Hughes – Videntes e Sonâmbulos – organização Oswlado Marques – tradução de Domingos Carvalho da Silva.