Para procurar entender um personagem tão complexo, o autor busca inicialmente estabelecer um perfil de Ho Chi Minh, procurando caracterizar o Vietnã na virada do século XIX (Capítulo I), para em seguida determinar o interesse de Ho em deixar o seu país e conhecer mundo (Capítulo II). Faz então sentido analisar o seu envolvimento na formação da esquerda francesa e o seu trabalho para o Comintern, sobretudo na China, na Malásia, no Sião e no próprio Vietnã (III); descrever o longo caminho por ele seguido até a Revolução de Agosto 1945, que marca a Independência do Vietnã (Capítulo IV); para terminar o histórico de sua vida no período da volta às armas contra os franceses e depois os norte-americanos e seus aliados, até a sua morte, em 1969 (Capítulo V). Nesse esforço, procuraremos examinar um pouco o que representou a União Soviética stalinista; a política de Mao Zedong; e a lógica dos Presidentes Roosevelt, Truman e Eisenhower, que levou à Guerra Fria. Enfim, o que interessa em Ho é o fato dele ter-se envolvido com tantos personagens controvertidos, dele ter sido um dos protagonistas de momentos cruciais do século passado e participado de tantas aventuras.

O trabalho termina com uma análise do pensamento de Ho Chi Minh, buscando mostrar a sua originalidade (Capítulo VI). Para tanto, o autor propõe descrever a formação intelectual de Ho Chi Minh, a partir de suas raízes, em breves traços sobre a cultura e tradições vietnamitas, incluindo algo sobre a influência do pai e o aprendizado dos clássicos vietnamitas; o papel das várias correntes patrióticas do Vietnã, sobretudo de Phan Boi Chau e Phan Chau Trinh; as leituras dos clássicos ocidentais; e o que ele vai aproveitar do marxismo, leninismo, stalinismo, maoismo e outros ismos.

A pergunta que de interesse do autor é se Ho Chi Minh tem substância política própria. Se Ho seria apenas um nacionalista revestido de leninista ou se teria ido mais além. A conclusão a que se chega é de que Ho Chi Minh foi capaz de fazer uma grande síntese. Na trajetória de uma vida de luta, Ho decompõe o pensamento da esquerda européia, para reuní-lo com o âmago das tradições vietnamitas, no claro entendimento de que, sem essa síntese, ele jamais seria compreendido pelos seus compatriotas, na maioria camponeses – 80% da população vietnamita – miseráveis e iletrados. Fazer-se entender, foi a sua grande sabedoria, que lhe permitiu liderar o povo contra as grandes potências do Século XX. Ho ficou na história como um dos fundadores do Partido Comunista Francês (1920); fundador do Partido Comunista do Vietnã, do Partido Comunista do Sião e do Partido Comunista das Malásia (1930); fundador do primeiro país comunista na Ásia (1945); e, mais simplesmente, até hoje, como ‘Tio Ho’.
____________

João de Mendonça Lima Neto, nascido em 1952, é formado em filosofia e economia. Diplomata com longa trajetória em países asiáticos (dez anos em Tóquio, cinco em Xangai e quatro em Hanói), nos anos em que serviu no Vietnã, entre 2009 e 2012, conviveu com alguns personagens mencionados na obra, que lhe abriram portas, contaram um pouco da história do país e ajudaram nas pesquisas. Pelo seu trabalho, recebeu o título de Professor Emérito da Universidade de Hanói e agraciado com a Medalha da Amizade, pela União das Organizações de Amizade do Vietnã, e com a Ordem da Amizade, pelo Governo do Vietnã.