Político paraense e integrante da Comissão Nacional da Verdade, Paulo Fonteles Filho foi o primeiro conferencista a debater o tema. Ele destacou os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos pela comissão, criada em 2009, por lei, para apurar a violação dos direitos humanos entre os anos 1946 e 1988, que abrange a Guerrilha do Araguaia, entre outros fatos que marcaram a história do Brasil.

A Guerrilha do Araguaia foi um grande movimento insurgente, no campo, que se estabeleceu ao longo do Rio Araguaia, na Região Amazônica, a partir da década de 1960, nos estados do Pará, Tocantins (na época, Goiás) e pequena parte do Maranhão. Formado por estudantes, trabalhadores e ativistas políticos que sonharam e lutaram pela democratização do país, que, naquele período, vivia sob forte ditadura militar e sob poder do grande latifúndio.

Os líderes do movimento deixaram seus lares, na área urbana, e se instalaram na região do Araguaia, em atividades políticas que tinham como meta estabelecer a democracia no país, combatendo a ditadura dos militares. No entanto, a partir de 1972, as Forças Armadas reconheceram a grande penetração do movimento no meio rural, ao longo dos anos, e intensificaram os ataques na região, reprimindo, violentamente, tanto os líderes da guerrilha como os camponeses que tinham algum contato com os guerrilheiros. Até hoje, muitos estão desaparecidos.

Segundo Paulo Fonteles Filho, nesse período, quase todos os presos foram mortos pelo regime ditatorial, poucos sobreviveram às torturas e às pesadas armas dos militares. Pela resistência, a Guerrilha do Araguaia se tornou um exemplo de movimento em defesa da redemocratização do Brasil. “A guerrilha foi a maior forma de organização da sociedade brasileira contra a ditadura militar”, afirma.

A repressão militar também recebeu apoio de grupos ligados aos agronegócios que não queriam camponeses no caminho dos grandes projetos econômicos do governo que tinham como pano de fundo o controle da nação. Nesse período, líderes de sindicatos rurais, por exemplo, foram assassinados. Boa parte dos crimes cometidos, naquela época, até hoje, não foi elucidada e os responsáveis continuam em liberdade.

O professor Júlio Guterres também participou da mesa redonda. Na oportunidade, o diretor licenciado do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Maranhão (Sinproesemma) enfatizou o papel da Guerrilha do Araguaia para a sociedade brasileira. “Hoje as pessoas respiram a democracia graças, inclusive, à Guerrilha do Araguaia”, destaca. Júlio Guterres também defendeu a obrigatoriedade do Estado de resgatar a dignidade de quem perdeu alguém naquele período. “As famílias têm o direito de enterrar seus entes e encontrar a verdade que está por trás da repressão”, enfatiza.

O presidente do Sinproesemma, Júlio Pinheiro, aproveitou o momento para elogiar os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Para o dirigente, a Guerrilha do Araguaia precisa ser objeto de estudo e ser mais difundida entre os jovens no Brasil, já que é uma parte importante da história do Brasil, que tem reflexos na democracia vivenciada nos dias atuais. “É preciso ressaltar o papel da comissão da verdade também no sentido de aprofundar os estudos sobre a Guerrilha do Araguaia”, comenta.

O evento da Fundação Maurício Grabois foi filmado e estará disponível em breve no portal Grabois.

 

De São Luis, para o portal do Sinproesemma.