“A maneira mais sábia é colocar um fim ao euro de forma bem planificada”, aconselha. Bresser-Pereira aponta que o erro maior da moeda única europeia foi controlar unicamente os déficits das contas públicas em detrimento das contas correntes, dentro da doutrina liberal onde o setor privado é controlado pelos mercados.

O ex-ministro e professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) explica que sua adoção originou uma crise de taxa de câmbio interna da zona do euro, onde a moeda foi supervalorizada pelos países que estão em dificuldade hoje. “Resultado: o euro tornou-se uma moeda estrangeira para um grande número de nações da união monetária. Não há nada pior para um país do que estar individado por uma moeda estrangeira”, avalia.

Bresser-Pereira considera que as medidas de austeridade criadas para combater a crise são ineficazes e injustas, que se aplicam a países de forte economia, como a França, mas não para a Espanha, por exemplo. A solução, segundo ele, seria voltar às moedas únicas por país, já que “o euro era muito ambicioso”.

Ele justifica dizendo que um sistema monetário comum só pode exisitir em um Estado federal e faz um alerta aos europeus: “se vocês persistirem em manter o euro vivo, a probabilidade de vê-lo cair de maneira descontrolada aumenta a cada dia. O que cairia em seguida seria toda a construção europeia”.

Bresser acredita que a resolução da crise está na criação de um plano bem definido: “cada um dos 17 países voltariam a adotar sua própria moeda; imediatamente os Estados mais individados procederiam a uma desvalorização para ganhar competitividade (…). Paralelamente, uma união bancária limitaria o impacto do plano financeiro, de forma a cortar a relação entre os Estados e os bancos instalados em seus territórios”.

“Mas isso poderia assassinar a União Europeia”, argumenta o jornalista do Le Monde – uma possibilidade “absurda”, segundo o professor. “Ela funcionava muito bem antes do nascimento da moeda única”, rebate Bresser-Pereira. Ele sugere que logo que o euro for eliminado, um sistema monetário comum deve continuar sendo o objetivo da União Europeia. “Tanto faz se demorará dez ou vinte anos para criá-lo”, finaliza.

 

Fonte: RFI