Minha rica convivência com o pensamento de Karl Marx
Quando por 20 anos lecionei Sociologia e Ciência Política na Universidade Metodista de Piracicaba, costumava dizer que um filósofo é alguém que conhece toda a realidade de seu tempo e de tempos anteriores. Um estudioso da vida, da história, mas também um sociólogo. Nesse sentido, a humanidade esta permeada de grandes filósofos que deram suas contribuições para o engrandecimento e desenvolvimento do pensamento e das ideias políticas e sociais.
Com base nessa definição pessoal, nunca tive dúvidas: Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi o último dos grandes e mais completo dos filósofos que a humanidade conheceu. Mas não foi só um filósofo. Seu pensamento tem aspectos também da ciência econômica, da sociologia e da política. Um pensador completo da sua época histórica, basicamente o século XIX.
Alguns o veem como um visionário, outros até mesmo como um profeta. Na verdade, Marx, foi uma pessoa igual a todos nós. Tinha seus vícios e defeitos, mas era também cheio de virtudes. O aspecto principal de sua personalidade era de que não se dedicava apenas e tão somente aos estudos e à teoria. Ele foi profundamente engajado nas lutas políticas, sociais e sindicais de seu tempo. A sua militância inspira, até nos dias atuais, milhões de militantes das lutas sociais. É dele a frase “Os filósofos nada mais fizeram do que interpretar o mundo. Cabe agora transformá-lo”. Ela diz tudo. Lênin, no início do século XX vai completar: “Sem teoria revolucionária, não existe prática revolucionária”.
Meu primeiro contato com Marx
Quando do meu ingresso na Universidade em 1975, então com apenas 18 anos, em plena ditadura militar, logo me aproximei do Centro Acadêmico. Já era um aficionado pelas Ciências Sociais. Nunca tinha tido nenhuma formação ou contato com o marxismo. Era, por assim dizer, um jovem “revoltado”. Sabia que vivíamos uma ditadura militar. Em 1974, cheguei a ajudar algumas candidaturas progressistas em São Paulo para a Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa pelo antigo MDB. Fiz o cursinho Anglo Latino e fui do Departamento do Aluno e ensaiamos uma peça de Brecht, “O casamento dos pequenos burgueses”. Lembro-me que em 1964, com apenas oito anos de idade, presenciei em minha cidade natal, a prisão de um tio querido, promotor público, apenas por ele ser um socialista-cristão.
Dois livros eu recebi de amigos universitários que me introduziram no pensamento marxista: O Manifesto do Partido Comunista e também O esquerdismo, doença infantil do comunismo. O primeiro, publicado em 1848, por Marx e Engels. O segundo, de Wladimir Ilich Oulianov Lênin, publicado em 1920. Falarei do Manifesto.
Antes, porém, é importante dizer, pelo meu ponto de vista, que é praticamente impossível uma pessoa abraçar as ideias de Marx, sem também ser adepto do pensamento de Lênin. E o exemplo mais claro começa com o próprio livro que inaugura a corrente marxista de pensamento revolucionário.
O jovem Marx – nascido em Trier, Alemanha – adere muito cedo à Liga dos Comunistas e participa de seu Congresso em dezembro de 1847. Seus camaradas incumbem-lhe, junto com Engels, que ele conhecera naquele mesmo ano em Paris de escrever e publicar um manifesto pela fundação de um partido revolucionário que teria a incumbência de liderar a luta do proletariado contra o sistema capitalista. Marx, nesse ano, já era famoso em toda a Europa.
Esses jovens – Marx com 29 anos e Engels com 27 – passam a se dedicar a essa importante tarefa intelectual que lhes foi dada. Assim, em fevereiro de 1848, sai a primeira edição do Manifesto Comunista em Londres. Na verdade, um manifesto político de combate a um sistema injusto, que faz um chamamento aos comunistas de todo o mundo para que fundem o seu Partido, a quem foi chamado de “Comunista”.
Assim, quando dizemos que não é possível sermos só marxistas, aqui é preciso dizer que Marx viveu 65 anos, mas morreu em 1883 sem ter fundado o Partido pelo qual lançara 35 anos antes o seu famoso Manifesto. Vai ser Lênin que irá conceber a forma de um Partido realmente revolucionário e comunista.
A base do pensamento Marxista
Todos nós, sejamos cidadãos comuns, pensadores, estudiosos, pesquisadores, temos nossas cabeças “feitas” por influência de pensamentos diversos. Sejam eles religiosos, econômicos, políticos, sociológicos e filosóficos. Os valores que abraçamos e assumimos, vem de fora de nós. E tais influências começam em nossas casas, estendem-se para nossas escolas, nas igrejas que frequentamos quando crianças – na maior parte das vezes impostas pelos nossos pais. Em meados do século XX, Louis Althusser vai chamar isso de “aparelhos de educação ideológica” que estão sempre à serviço do Estado e das suas classes que o dominam política e economicamente.
Também neste caso, Marx sofreu forte influência em sua juventude, de renomados pensadores de sua época, na primeira metade do século XIX. Essa influência vai ocorrer em três áreas básicas e fundamentais, a que chamamos de fontes constitutivas clássicas do marxismo: economia política, filosofia clássica e socialismo utópico.
Nem todos os pensadores que influenciaram Marx com eles conviveu ou os conheceu. Em especial os de economia. Os chamados fisiocratas ingleses, Adam Smith (1723-1790) morreu 18 anos antes de Marx nascer e David Ricardo (1772-1823) morre quando Marx tinha apenas cinco anos. Também na área de socialismo utópico, Saint Simon (1760-1825) e Robert Owen (1772-1837) Marx não teve nenhuma convivência, por ser muito jovem. Mas leu tudo que eles escreveram. Apenas Charles Fourier (1771-1858), que morre quando Marx tinha 40 anos, houve contatos.
Por fim, os pensadores que tiveram influência nas ideias de Karl Marx na área filosófica. O mais famoso foi Friedrich Hegel (1770-1831). Marx foi o que à época se chamava de “jovem hegueliano”. O segundo, também famoso, foi Ludwig Feuerbach (1804-1872). Com esse Marx conviveu, atuaram em alguns congressos operários juntos, mas teve com ele imensas divergências.
Marx era um grande e ativo escritor, em uma época que máquina de escrever não era tão disponível (quase toda a sua obra preservada está manuscrita). Chegava a escrever um livro inteiro para refutar certos pensamentos que ele considerava equivocados. Ele praticava o que hoje chamamos de “luta de ideias”. Tinha suas concepções próprias e as desenvolvia. Reconhecia o mérito de outros quando era o caso e citava as fontes de tudo que ele desenvolvia. É claro que ele aprimora e desenvolve o método do materialismo dialético de Hegel, que era insuficiente. E combate os equívocos de Feuerbach. Para responder a um livro desse filósofo, intitulado Filosofia da miséria Marx publica Miséria da filosofia porque ele havia deplorado a obra.
O pensamento econômico de Marx
O Instituto Marx e Engels, tanto da Alemanha, quanto da Rússia, são detentores do maior acervo dos escritos de Karl Marx e de seu amigo por 39 anos, Friedrich Engels. As suas obras completas – inexistente no Brasil – reúnem 40 volumes, que possuem uma média de 600 páginas cada um. Na verdade, tudo que eles escreveram, em processo de organização final, ultrapassa a 600 volumes. Ai incluem todas as suas cartas, que ele escrevia em uma média de duas a três por dia.
Até 1859, então com apenas 41 anos Marx tinha estudado tudo que havia sido escrito sobre o desenvolvimento do capitalismo. Marx queria entender a origem da riqueza, da acumulação do capital, o trabalho e a sua exploração e a mercadoria (produção e circulação). Nesse aspecto, dezenas de filósofos – a começar de Aristóteles em Ética à Nicômano – tentaram entender o significado de trabalho e do seu valor. Aristóteles divaga sobre quantas sandálias um sapateiro teria que dar em troca pelos serviços de um arquiteto. Muito se debateu na história sobre isso, passando por Tomás de Aquino até chegarmos à Adam Smith, que esboçou pela primeira vez a teoria de “mais-valia” (mais valor agregado).
Todos, sem exceção, não conseguiram desvendar o mistério. Coube a Marx formular a teoria mais científica e válida até os dias atuais sobre o conceito de valor das coisas. E ele, de forma genial, faz a relação do valor de todas as coisas com a quantidade direta de trabalho necessário para que se produzam essas coisas (bens ou serviços). Daí surge o conceito de “mais-valia”.
Quando Marx publica o primeiro volume de sua principal obra, O Capital, em 1867, ele já tinha todo o seu pensamento econômico consolidado. Foi à época em que produziu os Grundisse uma espécie de rascunho d’O Capital. Já tinha claro o significado de força de trabalho e, principalmente, de mercadoria. Um bem produzido pelas pessoas só se transforma em mercadoria quando é comercializada. Assim, uma costureira quando faz uma saia para si própria ela produziu valor, mas um valor de uso e não um valor de troca. Quando ela faz esse mesmo vestido e o vende, aquilo passa a ser uma mercadoria. Ela vai receber bem mais do que gastou em termos de trabalho e matéria prima para produzi-la.
No entanto, a acumulação de capital passa a existir quando qualquer pessoa contrata força de trabalho. Assim, a sua produção passa a ser em escala e a riqueza que ela acumula vai se ampliando. Daí a origem da cumulação de capital e do enriquecimento. Que só será possível a partir da exploração do trabalho de outras pessoas. No exemplo da mesma costureira, se ela trabalha para si própria, mesmo que venda os seus vestidos, ela explora a si mesma.
Marx dizia que a força de trabalho tem um valor especial e ela é peculiar. É como se os operários e proletários tivessem um dom especial, como aquele rei lendário chamado Midas em que tudo que tocava virava ouro. E porque isso acontece? Pelo simples fato de que a riqueza que os trabalhadores produzem durante a sua jornada de trabalho, sejam bens materiais ou imateriais (difusos ou espirituais), valem muito mais do que o salário que recebem de seus patrões. É a exploração do trabalho. É a mais-valia.
Foi Marx que previu o fim do capitalismo. Ele estudou todos os sistemas que antecederam essa formação econômica, vigente hoje em praticamente todo o mundo. Estudou o escravismo, as formações econômicas antigas, asiáticas, e o feudalismo a quem se debruçou com mais intensidade. Chegou a uma conclusão que, pode-se dizer, é uma lei geral da Sociologia e das Ciências Sociais. Ela pode ser assim resumida: “Todas as sociedades humanas guardam dentro de si uma contradição que as levará à sua destruição”.
No caso da teoria marxista sobre o fim do capitalismo, Marx dizia que esse sistema viverá duas profundas contradições, que o levará à morte. A primeira é que a produção é cada vez mais socializada (muitos são chamados a produzir) e a apropriação da riqueza é cada vez mais individualizada (privada). E a outra, é a queda histórica média das taxas de lucros. Ora, um sistema que visa o lucro e estes diminuem drasticamente a cada ano ele tende ao fim.
O Marx político e militante
De fato, podemos dizer que Marx dedicou toda a sua vida aos estudos, às pesquisas, à produção intelectual. No entanto, foi um militante revolucionário. Em 1867, é eleito presidente da Associação Internacional dos Trabalhadores, uma espécie de Partido Comunista Internacional que representaria os interesses dos trabalhadores de todo mundo. Não por menos, ele termina o seu famoso Manifesto de 1848 com a famosa frase: “Proletários de todos os países, uni-vos. Nada tendes a perder a não ser os grilhões que vos aprisionam. Têm o mundo a ganhar”!
Esteve em Paris com os operários durante os 71 dias que duraram a Comuna de Paris em 1871, uma revolução proletária – a primeira da história feita sob inspiração de sua teoria revolucionária – e deu seu total apoio ao movimento, ainda que tenha aqui e ali algumas diferenças na condução do processo.
Marx travou o bom combate de ideias. Iniciou sua vida, mesmo tendo formado em direito e feito seu doutorado em filosofia, acabou não atuando na vida acadêmica. Começou como jornalista do jornal da região do Reno, chamado Gazeta Renana. Ai produziu seus primeiros artigos, sempre polêmicos, mas todos eles famosos até hoje.
É de Marx o excepcional conceito de luta de classes. Ele fundamenta que o que movimenta o mundo e a história nada mais é do que a luta de classes. Patrícios e plebeus, senhores proprietários de escravos e seus escravos, servos e senhores feudais e na atualidade burgueses e capitalistas e proletários. Essa luta entre dois opostos é que move a história.
Marx foi o precursor do conceito de classes sociais. Em seu volume III do Capital ele estuda essa questão (em vida ele só publicou o primeiro volume, tendo ficado para Engels a edição dos volumes II e III e para Karl Kautsky, já no início do século XX a publicação do volume IV, chamado “Teorias da Mais-Valia”). No entanto, quando morre em 1883, ele não nos deixou um conceito mais detalhado e aprofundado de classes sociais. Ele deixou apenas pistas. Faz uma relação direta entre classe e fontes de renda. Será apenas Lênin quem vai aprimorar esse conceito no começo do século XX.
Marx em vida pouco falou sobre o socialismo e comunismo. Ele estava mesmo preocupado em estudar o passado e o mundo da época que viveu que era o do desenvolvimento e consolidação do sistema capitalista do tipo concorrencial (hoje esse sistema é monopolista e pior do que isso, é financeiro, a que Marx inclusive já apontava isso em sua obra).
Para escrever o volume IV de sua obra prima, ele leu centenas livros. Era o usuário mais assíduo e disciplinado da Biblioteca de Londres, onde tinha cadeira cativa e reservada. Gostava de elaborar seu pensamento andando de um lado para outro na sala de sua casa em Londres. Existem marcas no chão desse vai-e-vem. Era um gênio produzindo intensamente.
O Marx Filósofo
Por fim, temos o Marx filósofo. Se ele reconhece com uma humildade que poucos intelectuais possuem, que não lhe coube a invenção de diversos conceitos que ele se utiliza em sua obra – como, por exemplo, “mais-valia” e “dialética” – também sem falsa modéstia ele afirma que coube a ele o aperfeiçoamento desses mesmos conceitos.
Isso vale para o materialismo dialético, que ele aperfeiçoou partindo do limitado sistema hegueliano. Ele vai muito além. Desenvolve o conceito do materialismo histórico, ou seja, de que todo o desenvolvimento humano guarda uma relação direta com o desenvolvimento das forças produtivas e da evolução da sociedade. Essas técnicas produtivas se desenvolvem sempre que novas descobertas e novos avanços científicos forem ocorrendo.
Assim, não é correto quando se diz que o “socialismo substituirá o capitalismo”. Isso é um reducionismo e uma vulgarização do marxismo, coisa que ele nunca disse. O que ele afirmou era que o capitalismo deve chegar ao seu limite de funcionamento e o seu desenvolvimento fará com que surja um novo sistema produtivo baseado na produção coletiva e na socialização de toda a riqueza produzida. A propriedade dos meios de produção, que era privada, passaria a ser coletiva. Mas, não é uma inevitabilidade histórica, nem um determinismo.
Por isso ele nomina qual a classe social que esta chamada a liderar esse processo revolucionário transformador – que nunca ocorre de forma espontânea – que é o proletariado (aqueles trabalhadores que produzem mais-valia).
Nós todos fomos educados dentro de um sistema filosófico, dentro de uma sociedade que não prima pela análise dialética. Muito pelo contrário. Nosso pensamento é metafísico, idealista. Uns dizem aristotélico e tomista. Isso é fruto de influência do pensamento religioso, deísta, onde o que surge sempre antes de todas as coisas é o espírito e nunca a matéria. O pensamento marxista parte do princípio de que a matéria é primordial – vem antes de tudo –, o mundo é material e as ideias – o espírito! – dele decorrem. Nunca poderíamos ter uma “ideia” de alguma coisa sem que ela existisse antes.
Costumamos separar essência e aparência, forma e conteúdo. Não conseguimos ver que tudo se relaciona e mais do que isso, tudo se transforma! Durante séculos, milênios, a terra foi o centro do universo. Era o sistema chamado ptolomaico. E o nosso planeta estava parado segundo todas as igrejas. Galileu, com suas novas teorias no século XVII, rompeu com o sistema geocêntrico, abraçando a teoria de Copérnico. Ele afirmava que a terra se movia e o sol era o seu centro. Quase foi levado à fogueira no século XVII. Para se salvar teve que ir à público dizer que era tudo mentira o que ele havia escrito.
Uma experiência vibrante e inovadora
Houve uma época histórica – recente inclusive – em que o livro Manifesto Comunista rodava mais edições em todo o mundo do que a própria Bíblia. Hoje vivemos tempos distintos. No entanto, o pensamento de Karl Marx continua vivo e vibrante. E mais atual do que nunca. Não há uma teoria que substitua o seu pensamento em termos de análise do sistema capitalista, como ele interpreta a produção e circulação de mercadorias e a acumulação de riqueza e capital.
O próprio desenvolvimento do modo de produção capitalista, com a introdução de robôs na linha de produção do setor industrial, Marx conseguiu prever (ele fala em investimentos em mais maquinaria). A financeirização do capital também é mencionada por ele quando diz que parte do capital se transforma em financeiro por ele ser portador de juros. Sabemos que Lênin vai desenvolver melhor esse conceito com sua magnífica obra Imperialismo, etapa superior do capitalismo, de 1916.
Pessoalmente, minha relação e experiência com Marx é gratificante. Se por um lado é verdade que tenho estudado seu pensamento há quase 40 anos, por outro é também verdade que tenho que confessar que ainda tenho muito a aprender. Não basta que leiamos os nove livros d’O Capital ou algumas outras de suas principais obras. Não houve em minha trajetória de militante comunista qualquer outro autor que tenha me influenciado tanto quanto Karl Marx.
A teoria marxista é dinâmica. Ela também evolui. Temos que, dia-a-dia, ver como aplicamos a sua teoria. Se na época em que Marx viveu era praticamente inexpressivo o percentual de trabalhadores do setor de serviços e mesmo de funcionários públicos, hoje temos uma nova realidade. Mas, saber e identificar cada setor proletário – que hoje muitos chamam erroneamente de “classe trabalhadora” – é tarefa cotidiana de todos aquele que acreditam na teoria revolucionária marxista. E o fazem não por fé cega, mas por comprovação científica de algo que vem sendo cada vez mais comprovado.
Estão ai as crises sistêmicas e estruturais do capitalismo para comprovar o que o “velho barbudo”, apelidado de mouro do século XIX nos disse e previu.
* Lejeune Mirhan é sociólogo, Professor, Escritor e Arabista. Colunista de Oriente Médio do Portal da Fundação Maurício Grabois (http://fmauriciograbois.org.br/portal/). Colaborador da Revista Sociologia da Editora Escala. Foi professor da Unimep entre 1986 e 2006, tendo sido sociólogo da FUNDUNESP entre 1996 e 2006. E-mail: [email protected]