O Estado venezuelano garante, constitucionalmente, “o direito pleno a uma educação integral, permanente, contínua e de qualidade para todos e todas com equidade de gênero, em igualdade de condições e oportunidades, direitos e deveres; a gratuidade da educação em todos os centros e instituições educativas oficiais até o nível universitário”, como consta no artigo 6 da Carta Magna.

Mas há muito ainda para avançar. A coordenadora da especialização em educação de adultos na Universidade Nacional Experimental Simón Rodríguez, Inocencia Orellana Hidalgo, observa que a luta contra o analfabetismo é uma constante: “o analfabetismo foi erradicado, mas sabemos que sempre haverá gente não alfabetizada”. E ressalta que a diferença entre o atual governo e os que o antecederam é que a erradicação do analfabetismo passou a ser “uma política de Estado, com a importância, relevância e recursos necessários para isso”.

O feito – uma das metas do milênio propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) – foi possível com a implantação no país do programa de alfabetização cubano Yo Sí Puedo. “Claro que o método mudou e foi adaptado à realidade venezuelana. Ele tinha suas ‘deficiências’ porque não foi pensado para uma população como a nossa”, explica a pesquisadora.

As missões

“Uma coisa que toda a vida me chamou a atenção é o entusiasmo que nossa gente adulta tem por aprender, seguir estudando. Sempre foi assim, mas não havia estímulo suficiente e com essa missão, muita gente se entusiasmou”.

Como ainda restava uma população excluída, foram criadas as chamadas missões educacionais no país. A Missão Robinson, para erradicar o analfabetismo; a Ribas, para garantir a continuidade dos estudos e que as pessoas terminem o ensino básico e a Sucre, criada para incentivar o término do ensino médio e o ingresso na universidade.

Universidade

Tal como no Brasil, o ingresso de jovens pobres nas universidades gera críticas quanto à garantia de qualidade nas mesmas. Pensa-se em um “nivelamento por baixo”. Sobre isso, Inocencia é taxativa: “existe a crítica e tem que ser procurada uma solução”. Ela conta que algumas universidades organizam estudos preparatórios para os alunos que vêm das missões. Diferentemente dos tradicionais “cursinhos” brasileiros, na Venezuela os Centros de Iniciação Universitária são feitos já na universidade, para nivelar eventuais deficiências que a pessoa possa ter, antes de ela começar os estudos acadêmicos.

Outra diferença é o ingresso dos universitários. De acordo com Inocência, para entrar em uma faculdade na Venezuela, é preciso estar escrito no Conselho Nacional de Universidades. “Para inscrever-se, tem que ter terminado o Ensino Médio e ter se inscrito no Ensino Universitário”. Segundo ela, algumas universidades ainda mantêm as provas (vestibulares), mas não são a regra.

Não são todas as universidades que recebem as pessoas vindas das missões, mas “muitas universidades se abriram para receber esses estudantes, como a Simón Rodrígues, a Unefa (Universidade Nacional Experimental Politécnica da Força Armada Nacional), a Universidade Bolivariana… e foram criadas as aldeias universitárias – que são vários componentes a nível municipal para dar apoio àqueles que querem estudar”.

Técnicos

Problema típico nos países em desenvolvimento, a fuga de cérebros também afeta o país caribenho, “sobretudo nas áreas de medicina e de pesquisadores na área de ciências”, pondera Inocencia.

Para tentar solucionar a questão, foi criado um “programa de estímulo ao pesquisador que creio que está muito bem pensado e muito bem desenvolvido. Agora acabamos de ter o Primeiro Congresso de Ciência e Tecnologia aqui na Venezuela e eu fiquei fascinada e encantada com a quantidade de pesquisadores jovens que se inscreveram e que apresentaram seus trabalhos, em diversas áreas. A esperança é que as pessoas que saíram regressem porque o país necessita e é importante tê-los conosco”.

Gargalos

O que falta avançar? “Eu diria que ainda falta muito a ajustar, sensibilizar e formar os professores que vão atender a essa população. Porque não se trata de dar um título por dar. Trata-se de formar, de sensibilizar o participante para que possa prestar um melhor serviço na carreira que escolheu. Porque senão será mais do mesmo. Então nisso falta avançarmos mais”.

*Enviada especial a Caracas, na Venezuela