Bem, como eu disse já antes, o “plano” de Romney é uma farsa. Trata-se de uma lista de coisas que ele alega que acontecerão, sem nenhuma descrição do tipo de políticas que ele sancionaria para fazê-las acontecer. “Nós iremos cortar os déficits e colocar a América de volta nos eixos de um orçamento equilibrado”, ele declara, mas se recusa a especificar as lacunas legais, no que diz respeito aos impostos, às quais ele poria fim para equilibrar os seus US$ 5 trilhões em cortes tributários.

Na verdade, se só descrever o que você quer que aconteça, sem fornecer nenhuma política específica para chegar lá, constitui um “plano”, eu posso fazer a mesma coisa com um plano de um único ponto que venceria de longe o plano de Romney. É o seguinte: todos os americanos terão um bom emprego com bons salários. E também um casamento muito feliz. E um pônei.

Romney está fingindo, então. Seu verdadeiro plano parece ser fomentar a recuperação econômica através de mágica, inspirando confiança empresarial utilizando nada além de sua própria grandiosidade pessoal. Mas, e o homem que ele quer chutar da Casa Branca?

Bem, a cadernetinha de Obama chega muito mais perto de ser um plano de verdade. Onde Romney diz que obterá independência energética, sabe-se lá como, Obama exige passos concretos como aumentar os padrões de eficiência de combustível. Romney diz “nós daremos aos nossos cidadãos as qualificações de que precisam”, mas não diz nada sobre como fará isso acontecer, mudando de assunto, em vez disso, para oferecer apoio à proposta dos cheques escolares; enquanto Obama exige coisas específicas, como um programa para recrutar professores de matemática e ciências e parcerias entre empresas e faculdades comunitárias.

Então, Obama está oferecendo propostas para inspirar uma recuperação econômica? Não, na verdade. Sua agenda econômica é de um calibre relativamente pequeno – um punhado de propostas modestas, apesar de razoáveis, em vez de um grande estímulo. Mas o mais importante é que ele visa a recuperação em médio prazo, para a economia de 2020, em vez de tratar dos problemas claros e urgentes do presente.

Para colocar desta forma: Se você não soubesse o que estava acontecendo de fato na economia dos EUA, teria a impressão, ao ler o plano de Obama, de que os EUA eram um lugar onde os trabalhadores com as qualificações certas estavam em alta demanda, e que o nosso grande problema fosse não haver gente o suficiente com essas qualificações. Nos próximos 5 ou 10 anos, essa poderá ser, de fato, a cara dos EUA. Agora, no entanto, ainda vivemos em uma economia em depressão que oferece uma perspectiva triste para quase todo mundo, incluindo aqueles com alto grau de educação formal.

De fato, esses últimos anos têm sido péssimos para os universitários recém-graduados, que andam tendo dificuldade para encontrar alguém disposto a fazer uso de suas qualificações adquiridas e pagas a duras penas. O desemprego e o subemprego entre recém-formados tiveram um pico entre 2007 e 2010, enquanto um excesso de jovens altamente treinados acabaram tendo que trabalhar em empregos de baixa qualificação. O mercado de trabalho para trabalhadores qualificados, como o mercado para os norte-americanos em geral, agora está melhorando aos poucos. Mas ainda está longe do normal.

A questão é que os EUA ainda sofrem de uma falta generalizada de demanda, resultante do déficit severo e da crise financeira que estouraram antes de Obama assumir o cargo. Num mundo melhor, o presidente estaria fazendo propostas audaciosas a curto prazo para nos levar a diminuir rapidamente o desemprego. Mas não é o que ele está fazendo.

E, tudo bem, todos nós entendemos o porquê disso. Os eleitores vêm ouvindo repetidamente, desde 2009, que o estímulo de Obama não funcionou (na verdade ele funcionou, mas não foi grande o bastante), e os últimos dias anteriores à eleição não são a hora certa para tentar mudar uma falsa crença dessas proporções. Logo, tudo que a administração se sente capaz de oferecer são medidas que, espera-se, promoveriam uma aceleração modesta à recuperação que já está ocorrendo.

É uma perspectiva decepcionante, certamente. Mas uma recuperação lenta já é melhor do que nada. Obama pode não ser tão audacioso quanto gostaríamos que fosse, mas ele não está se esforçando para enganar os eleitores como Romney está. Além disso, se perguntarmos a Romney o que ele faria na prática, incluindo os cortes a programas para auxiliar os menos favorecidos e a imposição de uma ortodoxia financeira no Banco Central, teremos a impressão de que se trata menos de um programa de recuperação econômica e mais um programa para descarrilar a economia de vez e nos mandar para uma recessão.

E nunca devemos esquecer o contexto político mais amplo. O plano econômico de Obama não empolga, mas, se ele for reeleito, poderá implementar uma reforma no sistema de saúde que será a maior melhoria nas redes de segurança social do país desde o Medicare [programa de saúde nacional para indivíduos acima de 65 anos ou portadores de necessidades especiais].

Romney não tem plano nenhum para a economia, mas está determinado a não apenas anular o sistema de Obama, como quer ainda impor cortes bruscos ao Medicaid [programa de saúde para famílias de baixa renda]. Esqueçam, portanto, todos aqueles pontos de seu plano. Pensem, em vez disso, nos 45 milhões de norte-americanos que irão, ou não, ter acesso a serviços essenciais de atendimento de saúde, dependendo de quem vencer no dia 6 de novembro.

Fonte: Gazeta do Povo