Amparado pela Lei Federal 12.528/2011, o grupo foi empossado em 16 de maio pela presidenta Dilma Rousseff com a incumbência de investigar, em dois anos, as violações aos direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura (1964-1988).

A sistematização deve postergar algumas atividades da Comissão. Um dos eventos que deve ocorrer apenas em 2013 é o seminário com jornalistas sobre a Operação Condor, que articulou os órgãos da repressão no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Bolívia, e orquestrou sequestros e assassinatos conjuntos. “Os profissionais de imprensa têm muito a informar sobre essa questão”, revela Rosa Cardoso, membro da CNV e responsável por conduzir os trabalhos sobre o convênio secreto das ditaduras sul-americanas. “Vamos envolver também a comunidade acadêmica e a universidade nesse trabalho.”

Agenda

Nesta sexta-feira (16), a psicanalista Maria Rita Kehl, membro da CNV que conduz os trabalhos sobre a repressão a camponeses e indígenas, fará uma viagem de três dias à região do Araguaia, no Pará. A comissionada visitará a terra indígena Sororó, foco da guerrilha nos anos 1960 e 1970, e participará de audiência com a Comissão da Verdade Suruí, criada pelo povo Aikewara. A agenda prevê ainda reuniões na cidade de Marabá, em parceria com o Comitê Paraense da Verdade, e o depoimento de três ex-soldados que atuaram na repressão ao movimento armado que lutou contra a ditadura no norte do país.

Em entrevista à imprensa, Maria Rita Kehl está otimista quanto às investigações relacionadas aos abusos cometidas pelos agentes do Estado contra as populações indígenas. “Talvez não haja tanta falta de documentação, porque o Conselho Indígena Missionário (Cimi), ligado à igreja, foi muito ativo aí e tem muitos relatórios”, prevê a psicanalista. “Talvez tenham desaparecido menos documentos sobre os indígenas do que em relação aos presos e desaparecidos nas áreas urbanas.”

Maria Rita diz que se surpreendeu com a quantidade de violações contra as tribos brasileiras durante o regime, sobretudo na região amazônica. “As mais graves se deram no governo Ernesto Geisel (1974-1979), durante a política de integração da Amazônia, com a abertura de rodovias e concessão de terras para garimpagem”, lembra. “Isso significou a dizimação de algumas tribos que estavam no caminho e resistiam a perder suas terras.”

A membro da CNV afirma que o balanço que tem a fazer sobre as investigações da subcomissão indígena é “bastante preliminar”, mas cita algum avanço no caso dos Waimiri-Atraori, no Araguaia, “que foram torturados para ajudar a encontrar os guerrilheiros”. Ainda há outros que precisam de mais atenção: “por exemplo, os Arara, na região entre Pará e Maranhão, que foram sendo empurrados cada vez mais pra longe porque o governo cedeu suas terras para uma empresa fruticultora americana”, pontua. “Há muitos casos. Precisamos investigar mais pra falar.”

Fonte: Rede Brasil Atual