O evento, que foi coordenado pelo poeta e curador de Literatura do Centro Cultural São Paulo, Cláudio Daniel, contou com a presença do presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro; da tradutora do poema, Zoia Prestes, e da ilustradora da obra, Mazé Leite.

Durante pouco mais de duas horas, mesa e participantes discutiram a atualidade da obra do autor e suas contribuições à poesia, às artes e à política. “Maiakovski é um poeta muito atual, que diz muita coisa da nossa época. É possível perceber em sua obra que muita coisa que ele quis dizer, falou para os camaradas futuros. E assuntos como a mudança do mundo, arte e relações sociais são tratados com maestria por ele. Observamos Maiakovski como uma pessoa que sempre esteve à frente de sua época, e o Centro Cultural São Paulo se sente honrado em poder realizar esse colóquio e contribuir para a divulgação deste renomado artista”, pontuou Cláudio Daniel.

O poeta, que moderou o debate, informou que esta “é a terceira vez que Maiakovski é o nosso convidado de honra aqui no Centro Cultural São Paulo. Realizamos em abril um evento denominado ‘Poesia dos Quatro cantos: noite russa’, com poesia, música e dança, em que foram lidos poemas de autores russos da década de 1920, com um destaque especial para o Maiakovski. Neste mesmo mês coordenamos uma palestra sobre este grande poeta, e agora, o terceiro evento, inspirado no lançamento dessa grande obra”, informou o curador.

Durante sua fala, Adalberto Monteiro, que também é secretário de Formação do Partido Comunista do Brasil, destacou a versatilidade e o caráter multifacetado de Maiakovski. “Se vivo fosse, esse grande poeta seria considerado um artista multimídia. Ao passo que construiu uma obra engajada com os assuntos da realidade, também deixou clara a sua capacidade de inovar e de romper com os estilos da época”, apontou o dirigente.

Adalberto falou ainda sobre a capacidade que Maiakovski possuía de captar o sentimento do povo soviético e destacou que no poema em questão o autor enaltece Lenin, mas não o beatifica, o que torna a obra mais rica e verdadeira. “Esse grande poeta tinha domínio do que fazia, sua poesia está impregnada de luta e sentimento. Temos em nossas mãos uma obra impregnada da singularidade de um povo, de um tempo, de um ideal”, externou Adalberto.

Versos que gritam

Zoia Prestes, tradutora da obra, falou sobre o desafio desta tradução e sobre sua admiração pelo autor. “Nosso grande desafio foi traduzir o grito contido na obra deste grande artista. Quando isso acontece, temos certeza que o trabalho atingiu seu objetivo”.

Segundo ela, a poesia e as artes de forma geral ganham com a tradução deste poema. “Traduzir esse poema na íntegra para o português é uma grande contribuição para a nossa cultura. Pois se trata de um poema, e de um poeta, que fala para todos em qualquer época. Ou seja, se Maiakovski compreendeu a realidade do início do século 20 e a retratou através das artes, ele também o fez para as gerações futuras”, reafirmou Zoia.

Zoia ainda reafirmou que “Falar de revolução, bem como falar de Lênin e de socialismo, é muito importante para essas gerações que estão aí. E o livro se converte não só em uma grande contribuição para o debate, mas também em um reforço para o desenvolvimento dessa nova geração. Acredito que a cultura possibilita ampliar horizontes e a iniciativa da Fundação Maurício Grabois e da Editora Anita Garibaldi, em traduzir esta obra, se converte em uma ação muito importante para a ampliação destes horizontes”.

Homenagem aos artistas russos

Durante sua fala, Mazé Leite, que foi a responsável pela ilustração e projeto gráfico da obra, reafirmou que seu trabalho foi inspirado na vanguarda russa e que de certa maneira foi uma forma de homenagear todos os artistas que, através da arte, contaram um pouco da história.

“Para retratar a essência do poema tive que lê-lo diversas vezes e beber em outras fontes da vanguarda russa. E sabendo que Maiakovski, além de poeta, também foi designer gráfico, pintor, dramaturgo e ator, ficou claro o desafio que estava em minhas mãos. Então o meu trabalho acaba sendo também uma homenagem aos artistas russos que influenciaram as artes em diversas partes do mundo”.

Segundo ela, o poema traz, fundamentalmente, esperança, especialmente em um momento de crise. “Falamos de um poema que fala sobre a vida. Além disso, observamos a ampliação do interesse pelas ideias marxistas, desse modo, acho que esse livro acontece em um momento bom, para que as pessoas, lendo o poema, saibam que a história é muito maior do que se possa imaginar e que o sonho não acabou”, concluiu.