“A participação do PCdoB e da Fundação Maurício Grabois no Fórum foi muito importante, decisiva para garantir a mobilização para o evento e a consistência política que verificamos”, avaliou a secretária de Movimentos Sociais do partido, Lúcia Stumpf.

Bastante concorridos, os debates “A luta social da Palestina Ocupada” e “As esquerdas palestina e latino-americana: diálogos sobre a paz, soberania e descolonização” tiveram entre seus participantes o comissário para relações internacionais do Fatah, Nabil Shaat, o secretário de relações internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, o representante dos Comitês de Resistência Popular da Palestina, Abdallah Aburahne, o secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, e a ex-deputada e vereadora eleita de Porto Alegre, Jussara Cony.

Em entrevista ao Portal Grabois, Lúcia Stumpf destacou o êxito e a relevância destes eventos realizados pela Fundação e demais entidades ligadas ao PCdoB. “Foram atividades com sucesso de público e presença qualificada. As entidades tiveram um protagonismo muito grande no Fórum, deram uma contribuição muito imporante”, resumiu a dirigente.

Debates

No primeiro dia do evento (29), no debate “As esquerdas palestina e latino-americana: diálogos sobre a paz, soberania e descolonização”, os palestrantes destacaram as práticas de terrorismo de estado de Israel contra os palestinos e frisaram a importância de “diferenciar a violência vinda do opressor daquela causada pelo oprimido”. A mesa foi coordenada pelo diretor da Fundação Mauricio Grabois, Leocir Costa Rosa, e a a diretora da Fundação Perseu Abramo, Iole Ilíada Lopes.

Ricardo Alemão Abreu criticou a seletividade de alguns países que, no discurso, defendem a democracia, a ONU e suas resoluções, mas, na prática, ignoram tais posições. O dirigente comunista sublinhou a importância de ações como as do FSM, que teve uma repercussão positiva nas demandas do povo palestino pela autodeterminação.

Alemão falou ainda da pressão sofrida para que o Fórum não acontecesse.  “Quando essa questão é colocada em debate, automaticamente ocorre o isolamento político dessa postura do Estado de Israel, uma postura terrorista, neocolonialista, de ocupação e massacre continuado do povo palestino”. Para Abreu, é preciso pressionar os governantes a ampliarem a solidariedade com a Palestina de maneira concreta, não só apenas votando na ONU. “É preciso fazer um trabalho de cooperação nacional necessários ao povo palestino em áreas como infraestrutura, na questão social e tecnológica”.

Ao falar da discrepância entre as forças palestinas e israelenses, os palestrantes  destacaram a inexistência de um exército palestino, ante o exército de Tel Aviv, “nuclearizado e com o apoio da maior potência militar do mundo”, os Estados Unidos. Nabil Shaat refutou veementemente a tese de que o apoio estadunidense ao estado judeu se dê principalmente devido à pressão semita. Para ele, o principal fator para a proximidade entre os dois estados é o interesse pelas riquezas do Oriente Médio, em especial, o  petróleo.

No mesmo dia que o conselho da ONU elevou o status da Palestina de “observador” para “estado não-membro observador” – pela chamativa maioria de 138 votos a favor, 9 contra e 41 abstenções –, o comissário para relações internacionais do Fatah relembrou a pressão contrária liderada por Obama. “Hoje buscamos, na Europa, o apoio dos governos e, aqui no Brasil, a solidariedade das populações”, concluiu Shaat.

Luta social

O segundo debate realizado pela Fundação Maurício Grabois, “A luta social da Palestina Ocupada”, aconteceu no dia 30 de novembro,  no auditório do CEPERS. Representante dos Comitês de Resistência Popular da Palestina, Abdallah Aburahne fez um relato da luta contra o apartheid na Palestina, a política de limpeza étnica e os vários aspectos da ocupação israelense.

Segundo ele, a postura bélica do estado sionista não se limita a granadas ou mísseis. Muitos líderes dos comitês de luta popular e um grande número de jovens já foram presos, disse. Abdallah contou que 40 ativistas foram assassinados e que ele mesmo havia sido recentemente atropelado por um colono israelense. “Eles matam nossas lideranças e suas famílias. Tentaram impedir a vinda de nosso grupo ao Fórum”, afirmou.

A vereadora eleita de Porto Alegre, Jussara Cony, ressaltou que a vitória na ONU foi simbólica, pois representou a derrota da diplomacia estadunidense e israelense. Como destacou Ricardo Alemão Abreu, no mesmo momento que a ONU aprovava a resolução, em Porto Alegre, os movimentos sociais e os partidos políticos estavam na rua, numa marcha com mais de 15 mil pessoas apoiando a mesma causa.  “Porto Alegre representou o apoio dos movimentos sociais e partidos políticos, e Nova Iorque significou o apoio dos estados nacionais à criação do estado da Palestina”, afirmou.

A Fundação Maurício Grabois também apresentou, durante o Fórum, o livro “E se Gaza cair…”. Organizada pelo arabista Lejeune Mirhan, a obra reúne 47 artigos sobre o tema, escritos por intelectuais e ativistas renomados e progressistas dos cinco continentes, como Tariq Ali, Noam Chomsky, Gideon Levy, Illan Pappé, Domenico Losurdo, Ury Avnery, Eduardo Galeano, Sub-Comandante Marcos e vários outros.

Pressão

No Fórum, também foram propostas ações de pressão popular sobre os governos, para que estes tomem posições favoráveis à causa palestina e à criação de um movimento internacional de apoio. “A resistência do povo palestino, junto com a solidariedade dos povos, garantirá o Estado livre e soberano do povo palestino, passo imprescindível para a paz no Oriente Médio e um dever da humanidade”, disse Jussara. Ela também defendeu a criação de comitês pela Palestina Livre em todos os estados e países. ”Temos que envolver os países, cobrar posições”.

Secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício declarou que a solidariedade para com o povo palestino deve ir além das notas de repúdio. “Precisamos desenvolver parcerias, criar ações concretas”, defendeu o sindicalista.

Ao fazer um balanço da participação da Fundação Maurício Grabois e do PCdoB no Fórum, Lúcia Stumpf lembrou que o ápice do evento foi a Assembleia dos Movimentos Sociais, que reuniu 500 militantes e aprovou uma carta, que reafirmou a posição defendida pelo partido, de apoio à existência de dois Estados soberanos, da Palestina e de Israel.