Em 34 anos, o Irã realizou regularmente 8 eleições presidenciais pelo voto direto. Os EUA, nenhuma! O Irã não atacou, não agrediu, não invadiu nenhum país em todo este período. Já os EUA intervieram militarmente em Granada, Panamá, Somália, Irak, Afeganistão, Líbia, apóiam oficialmente a agressão contra a Síria, apóiam a ação imperialista da França contra o Mali, apóiam as sanguinárias intervenções militares de Israel contra a Palestina, contra o Líbano (onde foi derrotado), instalaram prisões e centros de tortura em 54 países do mundo e mantiveram o bloqueio ilegal contra Cuba.

Mas, graças ao controle do fluxo midiático internacional, uma avalanche diária de mentiras apregoa que o Irã seria supostamente uma ditadura, um perigo para a humanidade, inclusive por pretender ter acesso pleno ao desenvolvimento da tecnologia nuclear. Afinal, os EUA não têm tecnologia nuclear e não foram o único país a usar a bomba atômica contra o povo japonês, no maior atentado terrorista registrado na era moderna?

A Revolução antiimperialista do Irã chega aos 34 anos enfrentando sanções de várias modalidades por parte do capitalismo mundial. Sanções que, até agora, não conseguiram travar o progresso educacional e científico-tecnológico da nação persa, ao contrário. Enquanto, países como o Brasil, para dar um exemplo, vê o seu programa espacial patinar e patinar, anos a fio, o Irã, que deu início ao seu programa espacial muito depois do brasileiro, acaba de lançar uma nave tripulada ao espaço e fabrica, totalmente, seus próprios satélites, sendo também nacional a tecnologia para o seu lançamento.

O significado da captura do drone made in USA
Enquanto o Brasil viu-se praticamente desarmado ante o vendaval neoliberal que demoliu sua indústria base, entregou a Embratel ao controle norte-americano e com ela o controle de informações estratégicas, inclusive militares, o Irã fabrica seus próprios submarinos, seus drones, seus aviões, civis e militares. Aliás, foi com uma tecnologia que o Irã surpreendeu a arrogância tecnológica dos EUA, que só acreditou no desenvolvimento tecnológico persa nesta área quando um drone espião made in Usa foi totalmente capturado e aterrissado em solo iraniano – não foi abatido, foi capturado por um sistema eletrônico de navegação aérea super avançado.

Enquanto o o Irã, com apenas 34 anos de revolução que lhe permitiu assumir plenamente o controle sobre sua economia petroleira, antes controlada por ingleses, e desenvolver uma avançada indústria aérea, automotiva e ferroviária, o Brasil se vê diante de dificuldades para retomar não só o crescimento, mas o controle nestas áreas, já que a Embraer foi privatizada, a indústria naval foi privatizada e demolida – só agora começa a levantar-se, graças à lucidez de Lula e à presença da estatal Petrobrás na realização de encomendas – e caminha lentamente para recuperar, também, sua indústria ferroviária, para o quê é fundamental a decisão tomada pelo presidente Lula de reestatizar a Cobrasma, fábrica de equipamentos ferroviários. Criada como estatal no governo Geisel, foi privatizada por Fernando Henrique Cardoso e reestatizada no governo do PT.

Correntes antiimperailistas: militares ou religiosas
Enquanto o Irã já nacionalizou totalmente o seu petróleo e chega aos 34 anos de Revolução anunciando ao mundo a entrada em operação da maior refinaria do mundo revela a todos os sucessivos fracassos dos EUA para destruir aquele processo revolucionário que registrou também a incompreensão de muitos setores dogmáticos da esquerda em razão para presença das estruturas religiosas com uma entrega heróica em sua realização, entrega e desprendimentos que nada ficam a dever a qualquer processo revolucionário em qualquer parte do mundo. Mas, estes dogmáticos são os mesmos que também ficaram perplexos, indecisos e até hostilizaram outros processos conduzidos por equipes militares como Chávez, com Nasser, Alvarado, Torrijos, Thomas Sankara ou Kadafi, chegando ao absurdo de intelectuais de valor passarem a apoiar a Otan na guerra neocolonial contra Líbia, tal como antes , setores de esquerda se aliaram ao imperialismo contra Peron, contra Vargas e agora também contra a Síria.

Lições do fracasso das sanções imperiaisO vigoroso exemplo iraniano na tomada soberana de seu próprio petróleo, resistindo a todas as sanções imperialistas por meio da superação da dependência tecnológica – um estudo aponta que os cientistas iranianos na área do petróleo e nuclear possuem uma média de idade de 31 anos, inferior portanto ao período revolucionário – deveria ser profundamente estudado pelo Brasil, em particular pelo PT, pelos cientistas e pelas academias militares brasileiras.

A entrada em operação da Refinaria Shazand, a maior do mundo, com tecnologia totalmente nacional, é indicativo do potencial de desenvolvimento que se pode alcançar a partir de uma postura de independência. Mahmud Ahmadinejad acaba de anunciar também que o Irã está promovendo, ademais da independência tecnológica, a independência monetária frente ao dólar, realizando operações com outras moedas e outros países que não se submetem às ordens arrogantes dos EUA ao aplicar as sanções, e que, ao contrário, ampliam suas relações com a nação persa, terra de férteis poetas e cultura milenar.

Em direção contrária a uma soberania monetária plena, o Ministério da Fazenda no Brasil anuncia a privatização do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), depois de ter quebrado monopólio estatal nesta área decisiva em 2007, monopólio construído na Era Vargas, quando o presidente gaúcho aceitou um conselho estratégico do saudoso Barbosa Lima Sobrinho. Que paradoxo! Quanto mais o dólar é inconfiável, quanto mais é instável e desequilibrado o sistema financeiro internacional, quanto mais se repetem os exemplos de fraudes, falência e inseguranças, o Brasil marcha na direção contrária, recebendo um tsunami de dólares emitidos sem lastro, capital externo hoje volume muito maior do que seu superávit primário, e promovendo, não a expansão produtiva em nosso território, mas apenas e tão somente uma vertiginosa desnacionalização da economia, inclusive em setores estratégicos como o da energia, no etanol e no petróleo.

Basta dizer que graças uma desastrosa desvalorização das ações da Petrobrás, nos anos 90, ações compradas a preço de banana por sortudos “investidores estrangeiros “, uma parte importante do petróleo pré-sal, cerca de 1/3, estima-se, já pertence aos praticantes da jogatina de Wall Street, sem terem investido um tostão no desenvolvimento da Petrobrás, que correu todo o risco para encontrar essa riqueza. Faz muito bem o chanceler argentino Timmerman, ao alertar, referindo-se à justa solidariedade brasileira à causa das Malvinas Argentinas, que “o Brasil deve sim se preocupar com a militarização do Atlântico Sul.

A maior refinaria do mundo
A refinaria de Shazand, próxima à cidade de Arak, será a primeira no Iran com capacidade processar 4 mil barris diários, convertendo mais de 90 por cento do óleo cru que recebe em gasolina, gás liquefeito, propano, querosene, diesel , óleo e alcatrão., contrastando com declaração recente da presidente da Petrobrás, de que a estatal brasileira não teria condições de construir sozinha, ou seja, sem capital externo, novas refinarias, propagando com isto uma nuvem de dúvidas e interrogantes. Se o Brasil é a quinta ou sexta economia do mundo e não tem capacidade para construir novas refinarias, como é que o Iran que nacionalizou praticamente toda sua economia petroleira tem? Esta seria apenas um delas, claro…

Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguémPara compreender as razões pelas quais o Iran consegue resistir e vencer as sabotagens , as ameaças e as sanções imperiais, é preciso conhecer um pouco o pensamento político das lideranças iranianas , entre elas o discurso que o presidente persa, Mahmud Ahmadinejad proferiu na ONU, na Assembléia-Geral, defendendo “energia nuclear para todos e armas nucleares para nenhum país”.

Quem pesquisar na internet e conhecer este texto sonegado pela mídia brasileira ao nosso povo, vai compreender de fato as razões do Iran, bem como a falta de razões dos países que o atacam. Sobre isso vale conhecer também declarações do Líder Supremo , Aiatolá Kamenei, ante as vergonhosas propostas dos EUA para retomar o diálogo com o seu país. “ Eu não sou um diplomata, Eu sou um revolucionário e falo com franqueza, honestidade e firmeza. Uma oferta de diálogo só tem sentido quando a parte que faz a oferta demonstra sua boa vontade” criticando com dureza a incoerência e falta de sinceridade do governo de Barak Obomba, que endureceu as sanções contra o Iran, realiza manobras militares em suas costas, pratica vôos ilegais com drones sobre o território persa e está por trás dos assassinatos de brilhantes cientistas iranianos, ante o silêncio incoerente da diplomacia brasileira.

Aliás, diante do crescimento das relações comerciais entre o Brasil e o Iran, com potencial para amplas possibilidades de expansão – não apenas no campo econômico, mas também no científico e tecnológico, pois, afinal, é inexplicável que o Iran , ou a Argentina ou Cuba não estejam incluídos no roteiro do Programa Ciência sem Fronteiras – seguem obscuras as razões que levaram o governo Dilma a dar um voto contra o Iran na ONU, numa clara colaboração do Itamaraty com a hostilidade da campanha imperial contra a nação persa. Será que a Secretária de Direitos Humanos da Presidência da República, Ministra Maria do Rosário, desconhece que é diária e regular a prática de torturas contra brasileiros pobres nas dependências do estado brasileiro? Será que o Brasil tem lições a dar ao Iran em matéria de direitos humanos quando aqui o homicídio é comprovadamente a mais importante causa morte de jovens pobres e negros e quando continuam impunes os responsáveis pela violência no campo na luta pela reforma agrária?

Energia nuclear e manipulaçãoPossuidor de um programa nuclear, o Brasil deveria botar as barbas de molho, pois toda a hostilidade hoje lançada contra o Iran por seu inquestionável direito de, como membro da Agência Internacional de Energia Atômica, desenvolver tecnologia nesta área, pode, amanhã, ser lançada contra nós, não sendo descartadas, a priori, a prática de sanções. Obviamente, hoje os centros imperiais estão preferindo a enxurrada de dólares desvalorizados, que compram patrimônio produtivo local e alavancam um importacionismo devastador para a indústria nacional, implicando não em absorção de poupança externa como declaram, ingenuamente, alguns membros da área econômica, mas sim em estupenda e perigosa desnacionalização, além de volumosa remessa de recursos para as matrizes, que para cá remetem maquinário sucateado, a preços super faturados. Há,inclusive, denúncias de que alguns destes maquinários sequer chegam aos nossos portos, mas são religiosamente pagos. Houvesse jornalismo investigativo maduro no Brasil, eis aí uma boa pauta.

Ameaças
Enquanto o Iran responde às ameaças que recebe, sobretudo da parte de Israel, com uma tremenda nacionalização e desenvolvimento tecnológico de sua indústria bélica, o Comandante da Aeronáutica no Brasil, em depoimento no Congresso, informou que a maioria das aeronaves daquela arma praticamente não voam. Agregue-se a isto o fato de que autoridades da força naval reconhecem que, atualmente, o país não possui condições efetivas para defender , por exemplo, sua riqueza petrolífera, suas plataformas etc. Os contrastes bastam para levar aos autoridades a compreender a importância destes 34 anos de processo transformador da nação asiática construindo uma soberania concreta, baseada na independência tecnológica, não apenas no setor militar, mas também neste setor, pois, como é evidente, este mundo não é para meigos…

Uma Frente Antiimperialista Internacional?É este desenvolvimento não dependente o que permite ao Iran ter um papel protagonista na crise síria, ao contrário do Brasil, que , apesar das declarações da Presidente Dilma em favor de uma solução pacífica, viu representantes do Itamaraty participando de encontros internacionais, protagonizados pelas grandes potências ocidentais, onde se declarou abertamente o apoio armado oficial aos grupos mercenários que querem esquartejar a Síria, como foi feito com a Líbia, também ante a omissão inexplicável do Brasil. Hoje, o Iran, com a Rússia e China, reformulam a posição passiva que tiveram ante a crise da Líbia e estão levando os dispositivos imperiais a relutarem na repetição de uma operação como aquele feita contra Kadafi. É preciso organizar uma articulação antiimperialista internacional e seria indispensável que o Brasil fizesse parte dela, junto com a Argentina, a Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador,Nicarágua, para citar apenas os países latinoamericanos.

Um telefonema decisivo
Certa vez, Golda Meir, então primeira ministra de Israel, ordenou a preparação de 7 aviões militares, com ogivas nucleares para serem lançadas contra 7 capitais de nações árabes. Um telefonema de Leonid Brejnev alertando que a URSS não ficaria passiva diante de um ataque deste porte frustrou os planos sinistros do sionismo, assim como provavelmente frustraram-se os planos dos EUA de, em 1979, por meio de uma sofisticada operação militar pelo deserto iraniano, resgatar os agentes da Cia e outros que estavam na Embaixada norte-americana em Teerã, ocupada por estudantes revolucionários persas. 

A versão espalhada pela mídia, honrosa, de certo modo, foi que uma tempestade de areia prejudicou a intervenção dos helicópteros… Hoje, as manobras da Marinha Russa no mar da Síria, e os acordos militares entre Rússia e China, bem como as manobras militares defensivas do Iran, a Rússia e a China, são mensagens eloqüentes enviadas aos cérebros intervencionistas imperiais. Parece que a política externa brasileira, neste campo, anda distante das avaliações feitas pelas academias militares, mais realistas e concretas, em cujos documentos se adverte para possíveis agressões de uma nação de grande poder tecnológico contra a Amazônia Brasileira, por exemplo. Seria a Bolívia? Ora….a retomada da Quarta Frota da Marinha dos EUA a navegar pelo Atlântico Sul é uma resposta aos céticos, românticos e crédulos em torno de uma cooperação com os centros imperiais. Seja monetária, educacional ou militar.

Cultura e MídiaPremiado recentemente, um filme produzido nos EUA, “Argo”, elenca e distribui um conjunto de falsas informações acerca daquele episódio em que os estudantes iranianos ocuparam, por anos, a Embaixada norte-americana em Teerã, para denunciá-la como um centro de sabotagens, agressões e de apoio à contra-revolução contra o legítimo direito do povo persa escolher seu rumo na história, sem submissão ao império como antes, na sanguinária ditadura-monarquista de Reza Pahlevi.

O cinema tem sido uma fonte de agressões ao Iran, mas , o cinema iraniano tem conseguido, apesar das sanções e boicotes e do oligopólio Hollywoodiano, obter reconhecimento e respeito nos festivais e centros culturais em vários países, com seguidas premiações. Com isto se comprova o que muitos setores intelectuais insistem em ignorar: o estratégico papel do estado em defesa do cinema, de uma cultura soberana, da construção de uma identidade nacional. Aqui ainda estamos com 90 por cento dos circuitos cinematográficos ocupados por Hollywoody, com o cinema brasileiro ainda lutando para sair da clandestinidade ante o seu próprio povo, dos quais apenas 12 por cento freqüenta cinema regularmente, e menos de 10 por cento dos municípios possuem salas de exibição.

Soberania informativo-culturalEsta batalha das idéias, no terreno da cultura e da informação, encontra um Iran cheio de iniciativas ante o mundo, o que fez com que países capitalistas europeus, que se auto-declaram os mais cultos e civilizados, tenham censurado os canais de TV iraniana nos satélites daquele continente. A censura foi seguida agora pelos EUA, que também proibiu a sintonia da TV pública iraniana em seu território e, para demonstrar vassalagem, o exemplo censor foi seguido pelo Canadá. Por tudo isto se pode dimensionar o absurdo do Brasil ter privatizado e internacionalizado, na era FHC, a Embratel. É preciso reconstruir o estado, nesta área também, urgentemente, pois é uma questão de soberania informativo-cultural. A distância de uma postura adequada por parte do Brasil pode ser medida pela reduzidíssima cooperação da TV Brasil com a Telesur e com a Agência de Notícias Pátria Latina, apesar do discurso oficial brasileiro em defesa da integração latino-americana.

Quem é obscurantista?
São muitas as lições que podem ser extraídas desta vigorosa marcha de 34 anos da Revolução Iraniana consolidando um destino histórico independente, soberano e com capacidade de cooperar com vários países do mundo nas áreas como indústria de tratores, de caminhões, de medicamentos. Num único artigo é impossível esgotar o tema. Mas, pelo menos é possível despertar a necessidade de que sejam superados os preconceitos daqueles que tentam construir uma imagem do Iran como um país obscurantista, o que lhes impede examinar efetivamente, objetivamente, o que este país tem alcançado para o seu povo e para os povos com os quais colabora na região. E que isto somente foi possível mediante uma atitude de rebelião contra os critérios e programas enganosos do neoliberalismo e do neocolonialismo e também mediante o envolvimento do seu povo num novo projeto, razão pela qual, milhões de iranianos ocuparam hoje as principais praças de Teerã, surpreendendo a mídia ocidental, incapaz de explicar todos esse fenômeno transformador ao seu povo. Razão pela qual recorre sistematicamente à censura ou à mentira. Essas sim, práticas medievais, obscurantistas..