Morre o escritor Stéphane Hessel, pai intelectual dos indignados
Pensador e escritor Stéphane Hessel morreu nesta quarta-feira (27) (Foto: Wikicommons)
O pensador, escritor e diplomata franco-alemão Stéphane Hessel, autor do popular manifesto “Indignai-vos”, morreu nesta quarta-feira (27) aos 95 anos, informou sua esposa Christiane Hessel-Chabry à imprensa francesa.
Hessel nasceu em Berlim, em 1917, numa família de descendência judaica e se naturalizou francês 20 anos depois, indo para a França durante a Segunda Guerra Mundial. O pensador se uniu a Charles de Gaulle na Resistência Francesa, foi capturado pela Gestapo (polícia secreta nazista) em 1944, passou pelos campos de concentração de Buchenwald e Dora-Mittelbau, escapou com identidade trocada, foi recapturado e conseguiu fugir na transferência para o campo de Bergen-Belsen.
Após o final do conflito, iniciou sua carreira diplomática no Ministério de Relações Exteriores francês como embaixador na China e depois como secretário da comissão, onde redigiria a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Hessel era militante do Partido Socialista desde 1986 pela proximidade com François Mitterand, presidente francês entre 1981 e 1995. Ele também mostrou cumplicidade com José Luis Zapatero, ex-primeiro-ministro espanhol do PSOE (Partido dos Trabalhadores Socialistas da Espanha).
Mas sua fama mundial chegou pelas mãos do “Indignai-vos”, um manifesto político publicado na França em outubro de 2010, e que em palavras do autor “conclama os jovens a se indignar”. Em apenas 32 páginas, Hessel fez uma chamada à resistência da população que inspirou movimentos de protesto no mundo todo, entre eles, os “Indignados” do movimento 15-M da Espanha. “A pior das atitudes é a indiferença, é dizer ‘não posso fazer nada, estou me virando’”, afirmou.
“Este livro transformou totalmente minha vida. Eu era um pequeno diplomata aposentado que levava uma vida tranquila e agora não posso passear por Paris sem que alguém me pare na rua para me agradecer. É maravilhoso”, disse o autor há alguns meses.
Publicado em outubro de 2010 por uma pequena editorial de Montpellier, no sul da França, quase sem promoção midiática e com custo de €3, o livro se transformou em um grande sucesso de vendas, com quase um milhão de exemplares vendidos em dez semanas. O livro ultrapassou fronteiras, foi traduzido para cerca de 30 idiomas e vendeu quase quatro milhões de exemplares.
“A razão básica de ser da Resistência era a indignação. Nós, veteranos dos movimentos de resistência e das forças combatentes da França Livre, apelamos às jovens gerações para manter viva a indignação, transmitir essa herança da Resistência e dos seus ideais. Estamos dizendo: assegurem a continuidade, indignem-se! Os responsáveis políticos, econômicos, intelectuais e a sociedade toda não devem se omitir nem se deixar impressionar pela atual ditadura internacional dos mercados financeiros, que ameaça a paz e a democracia”, denuncia em suas páginas.
“Hessel conquistou seu leitor ocidental graças a seu inegável carisma pessoal e à história de guerra. Além disso, sua mensagem se torna clara e concisa para o povo farto das promessas de políticos e cada vez mais desiludido com o liberalismo capitalista”, diz o jornal Libération.
Depois do sucesso editorial, Hessel se transformou em uma referência da esquerda, sempre sendo muito crítico com as políticas levadas a cabo no ocidente, em particular sobre imigrantes, políticas sociais e mercados financeiros. O autor, porém, renunciou aos direitos do livro desde o início.
“Acredito que há um risco, que é o de que as pessoas se indignem, protestem e depois tudo continue na mesma. É preciso que a indignação dê lugar a um comprometimento conjunto”, disse em entrevista ao Público em 2011.
Depois de “Indignai-vos”, escreveu outro livro que também teve êxito, “À nous de jouer” (algo como “Nossa oportunidade” e traduzido na Espanha como “Comprometa-se!”). Publicado no fim de 2011, o livro é uma conversa com um jornalista e ativista francês de 25 anos, Gilles Vaderpooten. Ali, Hessel traça em oito aspectos seu conceito de democracia, compromisso, rebeldia e de insurgência. A promoção do livro o levou à Itália, onde precisou ser repatriado por alguns dias por um problema de saúde que custou sua vida.
* Com informações de EFE, Público.es, Público.pt e ElMundo.es