Chávez, o nome do povo e da revolução bolivariana
“Seu nome atravessará os séculos, bem como sua obra!”, disse Friedrich Engels, em discurso no funeral de Karl Marx, há 130 anos, neste mesmo mês de março, em 1883. O mesmo podemos dizer de Hugo Rafael Chávez Frias. O principal líder venezuelano desde Simon Bolívar, e um dos maiores líderes da América Latina e Caribe em todos os tempos. Um dos mais importantes líderes políticos da atualidade no mundo.
Seu grande legado, sua imensa obra, é a Revolução Bolivariana, movimento que atravessará os séculos pela sua força e pela sua raiz popular na Venezuela, e por sua contribuição decisiva para a luta dos povos latino-americanos e caribenhos por sua segunda e verdadeira independência.
O comandante e presidente Hugo Chávez foi um líder do pensamento e da ação revolucionária contemporânea em nosso continente. Um pensamento sincrético, é verdade, com insuficiências e imprecisões teóricas, mas um pensamento anti-imperialista, socialista e revolucionário, coerente e de imensa contundência, herdeiro do melhor pensamento patriótico e internacionalista latino-americano e caribenho, e fortemente influenciado pelo marxismo e pela Revolução Cubana.
Além de resgatar e promover as ideias de Francisco de Miranda, Simon Bolívar e José Martí, Chávez também fez o mesmo com o brasileiro José Inácio de Abreu e Lima, pernambucano como Lula, que lutou ao lado de Bolívar como voluntário internacionalista e foi promovido a general da luta pela independência da América espanhola. Abreu e Lima também foi um pensador socialista utópico, que o eurocentrismo demora em reconhecer, o primeiro pensador socialista brasileiro e um dos primeiros latino-americanos a escrever sobre “O Socialismo”, título de seu livro. As obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, empreendimento binacional que homenageia este importante herói brasileiro, foram inauguradas por Lula e Chávez.
Entretanto, Chávez foi sobretudo um líder da ação revolucionária e anti-imperialista. Destaca-se em 1992, quando lidera uma insurreição cívico-militar que a direita pró-imperialista e até setores liberais de esquerda caracterizaram equivocadamente como “tentativa de golpe”. Ato inaugural do atual processo revolucionário venezuelano, a iniciativa já fazia referência aos 200 anos de lutas independentistas no próprio nome do movimento, Movimento Revolucionário Bolivariano, MRB – 200.
Das entranhas da resistência ao neoliberalismo e à Alca, há pouco mais de 20 anos, surge esse movimento na Venezuela, ao passo que no Brasil e nos demais países da América Latina e Caribe, com a honrosa exceção de Cuba socialista, os povos da região resistem de muitas maneiras à ofensiva neoliberal e neocolonialista. No Brasil, por exemplo, os estudantes caras-pintadas animam e lideram grandes manifestações populares, desde então irrepetidas, que culminam com o impeachment e a renúncia do então presidente Collor.
Nestas duas décadas Chávez agiganta-se, pois como disse em recente entrevista o presidente do Parlamento venezuelano Diosdado Cabello, Chávez hoje já não é somente ele mesmo, Chávez já é o nome pelo qual responde o povo oprimido e explorado, é a voz dos trabalhadores, é a representação da própria Revolução Bolivariana, é um movimento popular legítimo, patriótico, latino-americanista e socialista, é o “chavismo”.
Chávez lidera um processo que chega ao governo da Venezuela em 1998, inaugurando o atual ciclo político patriótico, democrático, popular e anti-imperialista de nosso continente. Em duas décadas esse processo alcança um rico acervo de conquistas: faz avançar a integração solidária de nossos países e povos, fortalece a soberania nacional, dá conteúdo popular e verdadeiro à democracia, e promove o desenvolvimento econômico e social, elevando o padrão de vida dos trabalhadores.
Chávez, ao lado de Fidel e Raul, Lula e Dilma, Nestor e Cristina, Correa, Evo, Tabaré e Mujica, Lugo, Ortega e outros, faz parte da liderança coletiva de um novo ciclo virtuoso da América Latina e Caribe. Com razão, Chávez disse em uma das vezes em que discursou para os movimentos sociais no Fórum Social Mundial, dessa feita em Porto Alegre, que se as ideias e o os movimentos revolucionários europeus inspiraram e influenciaram as lutas populares no mundo, inclusive em nossa região, e agora era a vez das ideias e movimentos latino-americanos inspirarem e influenciarem as lutas dos povos da Europa e de todo o mundo.
O Partido Comunista do Brasil deve orgulhar-se de todo o apoio e de toda a solidariedade que vem empenhando, desde 1992, todos esses anos a Chávez, ao povo e à revolução venezuelana. Inúmeras vezes as lideranças venezuelanas e o próprio Chávez reconheceram e agradeceram esse esforço dos comunistas brasileiros. Neste momento dífícil, é preciso renovar esse apoio e essa solidariedade ativa, ao Grande Polo Patriótico, em especial ao PSUV e ao Partido Comunista da Venezuela.
Que o povo venezuelano dê continuidade à sua Revolução Bolivariana, agora liderada por Nicolas Maduro, com dignidade, altivez, alegria e sorriso largo, com unidade e disciplina, como Chávez os ensinou. Esse é o legado maior de Chávez, a revolução bolivariana, patriótica, latino-americanista e internacionalista.
Na Venezuela cunhou-se o lema “somos todos Chávez”. Nesse momento de dor e tristeza, há esperança, pois o povo venezuelano e os povos latino-americanos e caribenhos somos todos Chávez. Como escreveu Capinam em letra musicada por Gilberto Gil, em homenagem a Che Guevara, “el nombre del hombre es pueblo”.
* Ricardo Alemão Abreu é secretário de Relações Internacionais do PCdoB