Ivan o Terrível no Alentejo

 

 

Foi exibido pela primeira vez nesta aldeia
não longe do Torrão          onde nasceu Bernardim
Ivan o Terrível         O écran era um lençol enorme
estendido como um olho branco entre dois sobreiros

 

Os camponeses fitaram esse olho inquieto cheio
de sombras de lírios durante horas sem fim
Ou era que a eternidade concentrara
Por detrás do pano o magnetismo do mundo.

 

 

Muito mais tarde os camponeses regressaram
através da charneca          Com eles ia o olho branco
levando-os pela mão         E ajudava as crianças
a atravessar esperanças apenas de riachos

 

Chegaram por fim às suas cabanas     Tarde
E pela primeira vez os homens esperaram que as mulheres
se descalçassem  e se lavassem da poeira
do caminho         Depois beijaram-lhes os pés

 

 

Os pares de namorados foram ainda procurar
résteas de um seco rio       Num pequenino charco
procuraram em vão o rosto de Ivan  Mas ele ardia
alto e arde num céu de pano branco.

 

 

 

Alexandre Pinheiro Torres – Poemas com cinema
Antologia organizada por: Joana Matos Frias / Luis Miguel Queirós e Rosa Maria Martelo