Krugman: “Há muitos potenciais Chipres por aí”
O Nobel da Economia Paul Krugman considera que o Chipre deve fazer parte da rede de segurança da zona euro, sustentada por uma regulamentação adequada, e que é “insano pensar que o euro possa ser gerido indefinidamente como um seguro de depósito meramente nacional”.
Em postagens no seu blogue “The Conscience of a Liberal”, no The New York Times, o economista chega a admirar-se da facilidade com que falou com o ex-presidente do Banco Central cipriota e conselheiro do Banco Central Europeu, Athanasios Orphanides. “Mas a garantia de depósitos na zona euro parece não estar nos planos [dos líderes europeus] – e de qualquer forma, há muitos outros potenciais Chipres por aí”, salientou o economista.
A suposição do Nobel de que o abismo cipriota se repita em outros países europeus, vai de encontro à negativa do presidente do Eurogrupo (conselho dos ministros das Finanças da zona euro), o holandês Jeroen Dijsselbloem, de que o imposto especial sobre os depósitos jamais seria aplicado noutro país europeu que não o Chipre. “Não vai acontecer noutros países, porque neles o setor bancário não tem um peso tão grande em relação ao PIB [no Chipre os activos dos bancos são oito vezes superiores à riqueza gerada pelo país], e não está envolvido em negócios com tantos riscos”, afirmou esta tarde Dijsselbloem ao parlamento holandês.
Num post separado, Krugman evidencia as semelhanças entre as situações que ocorreram na Islândia e na Irlanda que, tal como o Chipre, tinham sistemas bancários maiores do que a própria economia. Só que no caso cipriota há um ingrediente extra: a lavagem de dinheiro da máfia russa, escreve.
Mas, “ao contrário da Islândia, o Chipre parece não estar disposto a deixar para trás os excessos bancários, estão a tentar manter os negócios da lavagem de dinheiro da máfia russa”.
Isto, segundo Krugman, vai significar menos impostos sobre a máfia russa e mais impostos sobre os habitantes locais, pelo que a ilha mediterrânea está prestes a entrar numa era de “austeridade severa, de dor inconcebível e sem fim” com o plano de resgate.
O atual presidente foi eleito com apoio da presidenta alemã, Angela Merkel, para levar a cabo a troika naquele pequeno país. Resumindo, diz Krugman, os alemães não querem um colapso do Chipre com saída do euro, mas também não querem o espetáculo de contribuintes alemães socorrendo lavandeiras de dinheiro russo. Então, o que eles fizeram, em vez disso, foi chantagear o Chipre e garantir depositantes cipriotas socorrendo os russos. Desta forma, as mãos da Alemanha estão limpas.
Que se lixe a troika!
O Parlamento cipriota não aprovou os termos do acordo com a Troika para o salvamento dos bancos do país, não tendo um único deputado votado a favor do plano. Para evitar uma corrida aos bancos, o Chipre vai manter os seus bancos fechados até quinta-feira, enquanto a Bolsa de Valores está fechada até nova ordem.
A proposta europeia gerou forte oposição em todo o país por prever a imposição de uma taxa sobre os depósitos nos bancos de 6,75% para quem tem menos de 100 mil euros e de 9,9% para valores superiores a este montante. Mesmo a versão melhorada que foi apresentada esta tarde pelo governo aos deputados – que isentava da taxa todos os depósitos inferiores a 20 mil euros – foi considerada como “inaceitável” pelo parlamento.
Dos 68 bilhões de euros em depósitos detidos pelos bancos cipriotas, 20 bilhões são detidos por cidadãos e sociedades russas, quase todos acima dos 100 mil euros, e o governo cipriota receia que uma taxa elevada sobre estes montantes levaria à saída total dos investidores russos, o que também destruiria o setor financeiro nacional. Moscou já afirmou que estará disposta a conceder mais empréstimos a Chipre desde que este forneça mais informações sobre os depósitos, de modo a poder apanhar quem esteja a tentar fugir ao fisco russo.
Para os observadores, o Chipre é atualmente palco de uma batalha de influências entre Bruxelas e Moscou, com os europeus de um lado a quererem poupar os pequenos depositantes e punir as grandes fortunas – muitas delas de origem suspeita – que têm vindo a usar o Chipre como paraíso fiscal, e do outro os russos a tentar evitar que os seus cidadãos mais ricos paguem grandes impostos a um governo estrangeiro.