Seminário promovido pela Comissão Estadual da Verdade reuniu nesta quinta-feira, (4), representantes de entidades sindicais para debaterem sobre a perseguição e resistência pelas quais passaram os sindicatos durante a ditadura militar (1964/1985).

O deputado Adriano Diogo (PT), presidente da comissão, fez a abertura da reunião, frisando o título do seminário: “Trabalhadores que resistiram a ditadura: Qual o futuro dessa memória?”. Um dos coordenadores do evento, Sebastião Neto, disse que esse era o fórum adequado para que os sindicalistas também apresentassem reivindicações e sugestões de pauta para serem apresentadas, no próximo dia 15 de abril, no escritório da Presidência da República em São Paulo.
Neto informou que a Comissão Nacional da Verdade também vai apurar violações de direitos contra o movimento sindical durante o período ditatorial.
Reuniões clandestinas
José Ibrahin, representante da UGT, relatou sua participação na direção de um movimento grevista ocorrido em 1968, que foi fortemente reprimido pelo governo. “Foi o primeiro sindicato que sofreu intervenção”.
Ibrahin relatou ainda que os trabalhadores lutavam “contra a repressão do governo, o arrocho salarial, pela existência de um sindicato com o mínimo de liberdade e pelo direito de greve”. Ele disse que as reuniões eram feitas na clandestinidade, normalmente em igrejas. “Tínhamos consciência do perigo que corríamos, mas também sabíamos da necessidade de lutar”, declarou.
Atendendo pedido de Adriano Diogo, ele relatou parte de sua perseguição política. Preso em fevereiro de 1969, ele foi liberado um ano depois, na troca com o embaixador americano Charles Elbrick (sequestrado por grupo de resistência à ditadura). Após a liberação, Ibrahin ficou exilado no México, Cuba, Chile e no continente europeu.
Outro participante do seminário, Augusto Portugal, da Associação dos Metalúrgicos Anistiados do ABC, disse que essas comissões devem lutar pela “verdade, justiça e reparação”. Ele relatou experiência tida entre 1977 e 78 quando em plena “efervescência política”, participou de uma greve na fábrica da Scania. Para ele, ela se notabilizou pelas características de organização.
Empresas colaboraram com repressão
Portugal pediu também a responsabilização de empresas que colaboraram com o regime de exceção. Ele disse que era comum empresas fornecerem informações pessoais de funcionários ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
Luiz Carlos Prates, do CSP-Conlutas, confirmou que a empresa que trabalhou também enviou documentos ao Dops. “Essas informações facilitaram perseguições, repressões, tortura e morte”, declarou Prates. Ele também protestou contra a Lei de Anistia, “ampla, geral e irrestrita”, editada em 1979. “O Brasil é o único país onde os que prenderam, torturaram e mataram continuam soltos”, asseverou.
Representante da CUT, Ruth Coelho entende que “até hoje os operários não têm a liberdade de organização dentro das empresas como se tinha antes do golpe de 1964”. Ela alerta que se não trouxer esses fatos à luz, não se terá oportunidade de justiça e reparação. “E não se terá verdade se não se repassar a história das entidades sindicais”, finalizou Coelho.
A necessidade de unidade foi ressaltada por Stanislaw Szermeta, da Associação Nacional dos Anistiados Políticos: “Sem unidade no enfrentamento do inimigo, não se avança”. Ele alerta que há uma lacuna no movimento sindical, pois o questionamento da anistia não entrou na pauta das entidades sindicais.
O seminário faz parte da Semana Nacional de Memória e Direitos Humanos, contou com a participação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), CSP-Conlutas, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Intersindical, Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Associação dos Metalúrgicos do ABC (AMA-A ABC), Fórum de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo e Associação dos Anistiados Políticos, Aposentados, Pensionistas e Idosos (Anap).

Publicado pela agência Alesp