Caracas – Depois da vitória de Nicolás Maduro na disputa presidencial na Venezuela, o candidato oposicionista, Henrique Capriles, anunciou que não reconhece o resultado das urnas na votação desse domingo (14) e disse que vai pedir a recontagem dos votos computados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Maduro venceu Capriles com pequena margem de diferença – menos de 234 mil votos.
“Não vamos reconhecer um resultado enquanto não se contar cada voto dos venezuelanos, um por um. Exigimos que o CNE abra todas as caixas e que cada voto seja contado”, declarou após a divulgação do resultado das eleições desse domingo, depois das 23h no horário local.
Capriles teve 49,07% dos votos e Maduro, atual presidente interino do país, conquistou 50,66% do total apurado.

Considerado sucessor político de Hugo Chávez, que morreu em março após lutar contra um câncer, o presidente eleito Maduro disse, durante seu primeiro discurso à nação após o anúncio do resultado, de que fará um pedido oficial ao Conselho Nacional Eleitoral para a realização de uma auditoria “para não deixar nenhuma dúvida sobre o resultado.”

Maduro disse que falou por telefone com Capriles, que propôs um “pacto” com o CNE, que Maduro respondeu pedindo para reconhecer os resultados da CNE. Ele pediu humildade à oposição para que reconheça os resultados, mas acrescentou que concorda que a chamada verificação cidadã (auditoria) seja feita.
O sistema eleitoral usa urnas eletrônicas e os votos são impressos e guardados para posterior verificação. “O processo foi justo, legal e constitucional”, disse Nicolás Maduro, em seu primeiro pronunciamento após a vitória.
O ministro da Defesa venezuelano, Diego Molero, também disse que a oposição deve aceitar o resultado das urnas. “As Forças Armadas estão apegadas à Constituição e os resultados devem ser respeitados”, destacou.
O resultado foi reconhecido pela União de Nações Sul-Americanas (Unasul). A missão observadora avaliou que a votação transcorreu em segurança e que os resultados devem ser respeitados.
A espera pelo resultado foi tensa para a situação e os oposicionistas. Pelas redes sociais, alguns jornais anunciavam dados não oficiais que mostravam vantagem e até vitória de Capriles.
A divulgação dos resultados demorou mais do que o estimado pelo CNE. Inicialmente o conselho havia anunciado que o resultado poderia sair até três horas depois do começo da apuração, iniciada por volta das 19h.
No fim da tarde de ontem, houve problemas de internet no país. A conta oficial do Twitter de Nicolás Maduro foi alvo de um hacker e algumas regiões da cidade de Caracas ficaram sem internet por cerca de uma hora.
 
Os eleitores de Maduro comemoram a vitória nos principais redutos chavistas, como na região conhecida como Esquina Caliente, no centro da cidade, próximo ao Palácio de Miraflores, e no Quartel da Montanha, onde está enterrado o corpo de Hugo Chávez.

Ciberataque

Vice-presidente venezuelano e ministro da Ciência e Tecnologia, entrevistado pela Venezolana de Televisión na noite de domingo, Jorge Arreaza disse que a suspensão de quatro minutos sobre o serviço de Internet ontem foi um movimento feito para proteger o site do Conselho Nacional Eleitoral a um ataque por um grupo de hackers de fora do país, bloqueando o acesso a partir do exterior. Ao fazer isso, ele impediu mais de 45.000 ataques ferissem a rede.

Arreaza, disse que, além de roubo e hacking de contas no Twitter do presidente Nicolas Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela e do diretor de imprensa do presidente, Teresa Maniglia, também houve uma ameaça de atacar o site do Conselho Nacional Eleitoral através do modo “tentativas excessivas de acessar uma página”, também chamado de negação de serviço.

“Um grupo de estrangeiros hackeadores anuncia uma possível invasão na página CNE. Imediatamente estão coordenando com a CNE, e para proteger a página é decidido impedir o acesso a partir do exterior, mas é permitido o acesso em todo o país. Qualquer venezuelano poderá entrar no site da CNE após se dar o boletm e terá acesso aos resultados das eleições. “

Ele explicou que havia 45 mil tentativas de acesso ao site da CNE, que foram neutralizados depois de fazer-se o bloqueio. 

Herdeiro da revolução

Considerado sucessor político de Hugo Chávez e atual presidente interino do país, Nicolás Maduro, foi eleito presidente da Venezuela, anunciou a presidenta do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena. Maduro irá suceder Hugo Chávez, que morreu em março após lutar contra um câncer.
De acordo com a presidenta do conselho, não há como o resultado mudar. Até o momento, 99,12% das urnas foram apuradas. “O CNE, quando dá um resultado eleitoral, é porque é irreversível”, disse. Segundo o conselho, 78,71% dos eleitores votaram neste domingo (14). O resultado foi divulgado às 23h16 (horário de Caracas).
Maduro tem 51 anos, foi motorista de ônibus e participou desde o início do movimento de esquerda fundado por Hugo Chávez. Em 2000, foi eleito deputado da Assembleia Nacional, e em 2006, assumiu o cargo de Ministro das Relações Exteriores do governo de Chávez, e se manteve na função até ser designado vice-presidente do país.
Assumiu interinamente a Presidência da Venezuela, quando Chávez teve de se afastar de suas funções de presidente para tratar o câncer. Foi escolhido, pelo próprio Chávez, para ser seu herdeiro político. Maduro continuou como presidente do país após a morte de Chávez e durante o período eleitoral. Sua estratégia de campanha buscou vinculá-lo fortemente à imagem do líder venezuelano.
Tibisay Lucena apelou para que os candidatos peçam a seus seguidores que recebam o resultado das urnas com tranquilidade, ressaltando que o processo de votação foi tranquilo, pacífico e que os venezuelanos definiram os rumos do país “em paz e por meio dos votos”.
Reconhecimento internacional
Os presidentes Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia), Raúl Castro (Cuba) e Rafael Correa (Equador) parabenizaram o presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, pela vitória na disputa eleitoral de ontem (14). A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) apelou para que o resultado das eleições seja respeitado. O apelo ocorre devido  ao pedido de recontagem dos votos pelo derrotado.
Segundo a missão de observadores da Unasul, os resultados das eleições devem ser respeitados, assim como o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que conduziu o processo na Venezuela. De acordo com Carlos Álvarez, líder da missão de observadores, as reclamação, e os questionamentos devem seguir um processo jurídico legal.
De acordo com o CNE, os “resultados  eleitorais são irreversíveis”. Os dados indicam que Maduro obteve 50,66% dos votos e Capriles 49,07%. Apesar do apelo de Capriles pela recontagem dos votos, vários presidentes latino-americanos enviaram mensagens de felicitações a Maduro.
Cristina Kirchner enviou mensagem pela rede social Twitter: “Felicitações a todo o povo da Venezuela pela exemplar jornada cívica”, disse a presidenta argentina. Morales também enviou mensagem: “Quero parabenizar o povo venezuelano por sua demonstração cívica e democrática durante a jornada eleitoral, mesmo que região da América seja diferente e distinta, essa vitória é uma vitória da América Latina”, disse.
Rafael Correa também elogiou o processo eleitoral na Venezuela. “Do alto da região amazônica, minhas felicitações a Nicolás Maduro, ao povo venezuelano e à Revolução Bolivariana. Viva a Pátria Grande”, disse ele, que faz uma viagem a cinco países da Europa e das Américas.
Raúl Castro classificou a vitória de Maduro de “transcedental”. Em comunicado, ele disse que  foi a vitória da Revolução Bolivariana. “[O que] demonstra a fortaleza das ideias e da obra do comandante Hugo Chávez”, disse. Para ele, a “decisiva vitória” assegura a “continuidade da Revolução Bolivariana e da genuína integração da nossa América.”
O vice-presidente de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén, também enviou mensagens a Maduro. “Felicito o presidente Nicolás Maduro e o povo venezuelano por essa nova vitória da democracia para a América Latina”, ressaltou.

Leandra Felipe
, Enviada Especial da Agência Brasil/EBC e informações de Aporrea.