Capriles foi derrotado no último domingo por margem surpreendentemente estreita, de menos de 2 pontos percentuais, na disputa contra o presidente interino Nicolás Maduro, indicado pelo ex-presidente Hugo Chávez como seu sucessor.

Anteontem, o governo espanhol reconheceu Nicolás Maduro como “presidente da República, de acordo com o ordenamento constitucional”, depois de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano ter dito que não haverá a recontagem de 100% dos votos, como pedia a oposição. Com isso, a Espanha, que nunca manteve boa relação com Chávez, voltou atrás da declaração anterior de seu ministro das Relações Exteriores, José Manuel García-Margallo, que defendia a recontagem dos votos.

Essa postura inicial do chanceler gerou uma dura reação de Maduro, que pediu aos espanhóis que se retratassem a tempo, “ou tomaremos medidas diplomáticas, políticas e econômicas exemplares”. Ontem, foi a vez de a França reconhecer o resultado, afirmando que o CNE “é a autoridade competente na matéria” eleitoral.

França e Espanha se juntam, assim, à totalidade dos países da América do Sul, que desde o primeiro momento avalizaram o processo eleitoral venezuelano como legítimo. Ontem, fontes do governo brasileiro disseram que a presidente Dilma Rousseff viajará à Venezuela para a posse de Maduro, amanhã, em uma forte demonstração de apoio do governo brasileiro ao presidente eleito.

“O fato de que os principais governos da América Latina e da Europa se pronunciaram a favor de Nicolás Maduro indica que a proposta do candidato Capriles não tem maioria no contexto internacional”, afirma o cientista político Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela (UCV). “Internamente, esse reconhecimento enfraquece a concretização dessa proposta de Capriles.”

Romero nota que “não são somente países amigos da Venezuela que fizeram esse reconhecimento, mas também países que não apoiam as políticas iniciadas pelo ex-presidente Hugo Chávez”.

A ressalva é a postura dos Estados Unidos, tratados como inimigos pelos chavistas. Ontem, o secretário de Estado, John Kerry, disse que “obviamente há irregularidades gigantescas” que colocam “dúvidas importantes sobre a viabilidade desse governo”. “Essa avaliação precisa ser feita, e eu ainda não a fiz”, disse perante a Comissão de Relações Exteriores da Câmara.

Uma fonte do governo brasileiro afirma que a ida da presidente a Caracas, na sexta-feira, se dará “no espírito construtivo, não em espírito de ingerência” sobre a política interna venezuelana. Segundo a fonte, porém, na visão do Brasil, o reconhecimento do resultado eleitoral pelas instituições venezuelanas é o bastante para que seja avalizado pelo país.

Pela contagem final do CNE, Maduro venceu Capriles por 50,75% a 48,97% dos votos. O opositor, no entanto, apontou uma série de irregularidades e disse que não reconhecerá o resultado até que seja feita uma recontagem total dos votos. A lei venezuelana prevê a auditoria de 54% dos votos. Ontem, o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela descartou a recontagem manual dos votos.

Nos últimos dias, autoridades venezuelanas vêm fechando o cerco contra o opositor. Após a morte de sete pessoas em confrontos durante protestos convocados por Capriles, a procuradora-geral venezuelana, Luisa Ortega, e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, anunciaram investigações contra o opositor por incitar a violência. Ontem, Maduro foi ao funeral de José Luis Ponce, chavista morto nos confrontos no Estado de Miranda, e o declarou “herói e mártir da pátria”.

Maduro proibiu uma marcha marcada para ontem por Capriles rumo à sede do CNE, no centro de Caracas, alegando querer com isso evitar novos atos de violência. Ele ameaçou ainda “radicalizar a revolução”, caso a violência continuasse, e cessar os repasses federais a Miranda, Estado governado por Capriles, que o chamou de presidente “ilegítimo” e “espúrio”.

A presidente do Conselho Legislativo de Miranda, deputada Aurora Morales, afirmou ontem que se Capriles não retomasse hoje o governo do Estado ele seria cassado por “abandono do cargo”.

Capriles, por sua vez, desconvocou a marcha ao CNE, mas pediu panelaços pelo país. A avaliação geral, porém, é a de que esses protestos dificilmente resultarão em mudança do resultado da eleição.

Publicado no Valor Econômico – 18/04/2013