No último dia de campanha para a eleição deste domingo (21/04), dois fatos dominaram os discursos dos principais candidatos à Presidência do Paraguai. Horacio Cartes, do Partido Colorado, criticou a polêmica aliança de última hora entre PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico) e Unace (do ex-general Lino Oviedo, morto em fevereiro deste ano), enquanto o liberal Efraín Alegre destacou as “manchas no passado” de seu adversário.

Ao subir no palco de seu comício na noite desta quinta-feira (19/04), Alegre usou a estratégia de lembrar diversas vezes das denúncias que pesam contra Cartes. Preso no final da década de 1980 por evasão de divisas, o empresário colorado também é investigado por contrabando de cigarros e vínculos com o tráfico internacional de drogas.

Comício de Alegre

“O povo sabe onde está a máfia e onde está o Paraguai decente”, discursou Alegre em evento realizado perto do porto de Assunção, atrás do Palácio de los López. A fala foi interrompida em algumas oportunidades por seus simpatizantes, aos gritos de “Alegre sim, outro não”, “Alegre, te digo, a mudança está contigo” e “se sente, se sente, Alegre presidente”.

Questionado sobre tais acusações nas últimas semanas, Cartes se esquiva do tema e argumenta que prefere fazer uma campanha de propostas, o que tem gerado efeitos positivos no eleitorado. “Cartes não tem maldade no coração. Não fica acusando os outros, como Alegre faz com ele”, afirmou a Opera Mundi o comerciante Gustavo Ramírez.

Aliança polêmica

A aliança entre PLRA e Unace, por sua vez, tem tido interpretações diferentes em cada um dos lados. Alegre busca mostrar a todo tempo que é o candidato de união nacional, por ser o representante de uma coalizão que reúne diferentes propostas (Oviedo, por exemplo, que deu origem à Unace, fez parte do Partido Colorado).

Já Cartes argumenta que será beneficiado pelo acordo eleitoreiro, anunciado há menos de duas semanas. “Penso que os oviedistas estão muito desiludidos e como um tsunami passarão a votar nos colorados”, disse em entrevista à rádio 1000. A Unace costuma obter votos principalmente da parcela mais conservadora da população paraguaia, que tem seu pensamento mais próximo do Partido Colorado do que do PLRA.

Comício de Cartes

Como a legislação do Paraguai proíbe a realização de pesquisas de intenção de voto nas duas semanas que precedem a eleição, não é possível avaliar o impacto que a aliança terá no resultado final. No último levantamento disponível, Cartes tinha 37,6% e Alegre, 31,7%. Os eleitores dispostos a votar no candidato da Unace eram 7,1%.

O acordo, porém, tem sido muito criticado na imprensa local, que relaciona o apoio oviedista a Alegre com a compra de terras superfaturadas por parte do governo para reforma agrária. Uma parcela dessas propriedades era de líderes da Unace. O presidente do Congresso, Jorge Oviedo Matto, renunciou ao cargo após a divulgação dessa suspeita de favorecimento. O presidente do Paraguai, Federico Franco, é do mesmo partido que Alegre, mas não compareceu nem foi citado nenhuma vez no evento desta quinta-feira.

Fotos de Vitor Sion

Publicado em Opera Mundi