O menino e a prostituta
O menino e a prostituta
— Menino!
— Senhor?
— Sabe onde fica o mulherio por aqui?
— Mu…o quê?
— Mulherio. Casa de mulheres.
— Ah, o senhor quer dizer a zona, não é?
— Isso mesmo. Pra que lado fica?
— O senhor está fora de rumo. A rua das mulheres fica praquela banda — apontou com o dedo —, lá longe. Mas eu sei onde tem mulher aqui perto. Se quiser, levo o senhor até lá.
— Onde é?
— Vira-se ali — de novo, mostrou com o dedo —, naquela esquina, depois noutra. É perto.
— Tem mulher bonita lá?
— Tem, sim.
— Então vamos.
Lado a lado, caminharam na noite da rua sem asfalto. O menino deteve-se um instante, recolheu do chão uma tampinha de garrafa e guardou-a no bolso da calça curta. Colecionava tampinhas, figurinhas, botões, marcas de cigarros e até pregos, além das bolas de gude, fascinado por elas. Mais adiante, tornou a parar, pra retirar um estrepe do pé descalço. Voltando a caminhar, indagou:
— O senhor mora lá no centro da cidade?
— Não — respondeu o homem. — Não sou daqui.
— Ah! — fez o garoto, e calou-se.
Viraram à direita, depois à esquerda, numa ruazinha obscura e meio esburacada.
— Tem mesmo mulher por aqui, moleque?
— Tem, sim. Já estamos chegando.
Chegaram. O local, um barraco branco, no fim da rua e recuado no terreno sem muro. Claridade de luz, projetada pelo vão da porta aberta. Ao lado, à entrada da casa, um canteiro de flores; suave aroma no ar fresco da noite.
— Entra, moço — convidou o menino, já do lado de dentro.
O homem entrou, percorrendo os olhos pelo ambiente. Uma sala simples, com mesa e cadeiras, no centro. Um forro plástico, estampado, cobrindo a mesa. Numa parede, um pequeno quadro com figuras de gatos. Noutra, uma velha estampa da Sagrada Família. Uma mulher de trinta e poucos anos, bonita, apareceu na sala. Esboçou um sorriso e cumprimentou o estranho. Vestia singelo vestido, cor-de-rosa, e recendia a perfume barato. O menino se adiantou:
— Este moço quer falar com a senhora, mãe.
E tornou a sair para a rua, deixando os dois sozinhos.
Valdivino Braz é jornalista, escritor e poeta. Secretário-geral reeleito da União Brasileira de Escritores – Seção de Goiás (UBE-GO), em Goiânia. Em 2011 e 2012, fez um curso de cinema na PUC Goiás, com o professor Leandro Cunha, e participou da realização do documentário “Sol Inimigo – O drama do povo de Araras” (sobre câncer de pele no interior goiano), lançado durante o 14º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), em 2012, na Cidade de Goiás. Publicou 16 livros, oito deles premiados em concursos. De sua autoria, “A trompa de Falópio — Rapsódia de Homero Canhoto” (poemas) foi vencedor do Prêmio Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte (1992). Dois de seus livros publicados são de contos: “Cavaleiro do Sol” e “Morcegos atacam o vampiro”. Seu romance “O Gado de Deus” (2009) conquistou o Prêmio Nacional Colemar Natal e Silva (2010), da Academia Goiana de Letras (AGL). Em 2011, com o romance “Redemoinho”, venceu, pela terceira vez, o concurso da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, patrocinado pela Prefeitura de Goiânia. Braz afirma que toda a sua obra é imperfeita, em múltiplos aspectos, impondo reparos para o caso de futuras edições. Em 1996, recebeu o Troféu Tiokô de Poesia, da UBE-GO. Em 2004, o Troféu Goyazes de Poesia Leodegária de Jesus, da AGL. Em 2012, foi agraciado com a Medalha de Mérito Cultural, concedida pelo Governo do Estado, por meio do Conselho Estadual de Cultura. Ainda em 2011, visitou parte da Europa: Holanda (Amsterdã e outra localidades), Londres, Paris e Bruxelas (Bélgica).