O secretário-geral do Hezbollah Sayyed Hasan Nasrallah fez ontem discurso televisionado, no qual tratou de questões relacionadas ao inimigo sionista, à crise na Síria e a combatentes e mártires do Hezbollah.

Nasrallah repetiu que o Hezbollah nada teve a ver com um drone que teria sobrevoado a Palestina ocupada: “Dada a situação sensível na região, e porque não enviou nenhuma aeronave comandada à distância, o Hezbollah distribuiu imediatamente uma declaração bem precisa, em que nega ter enviado qualquer tipo de aeronave comandada à distância para sobrevoar a Palestina ocupada.”

Sayyed Nasrallah continuou: “O Hezbollah sempre assume plena responsabilidade pelas próprias ações, sobretudo quando tenham a ver com o inimigo israelense”. Acrescentou que: “o que foi dito sobre esse drone não foi mais importante ou mais perigoso que a responsabilidade do Hezbollah sobre o drone Ayyoub, que voou sobre a Palestina e chegou a Dimona.”

Explicou que não nega que uma aeronave possa ter entrado nos territórios ocupados, mas “não há provas disso. Até agora, os israelenses não divulgaram nenhuma imagem, nenhum vídeo que comprove que tenham realmente derrubado o veículo aéreo que dizem ter atacado”.

Sayyed Nasrallah discutiu várias possíveis explicações sobre quem possa ser responsável por aquele drone. Excluiu a primeira, segundo a qual os Guardas Revolucionários do Irã teriam enviado o drone contra a entidade sionista; considerou-a “irrealista e fantasiosa”.

“A segunda explicação que circulou, segundo a qual algum grupo libanês ou palestino teria capacidade para enviar um pequeno drone para sobrevoar a Palestina, tampouco veio acompanhada de qualquer prova. Uma terceira explicação, de que algum lado inimigo, que não seja a entidade sionista, tenha disparado o drone de território libanês ou não libanês, foi posta em circulação apenas para que ‘Israel’ acusasse o Hezbollah e encontrasse pretexto para operação militar, caso em que o Hezbollah teria de defender-se, o que arrastaria o Líbano para uma situação de confronto, nesse caso, entre Israel e o Hezbollah.”

“A quarta explicação é que ‘Israel’ tenha enviado o drone para sobrevoar o Líbano, fê-lo voar sobre os territórios ocupados e depois o derrubou. Essa é a explicação mais razoável e mais verossímil.”

Ele disse que “estamos acompanhando de perto essa questão. Temos recebido informações preocupantes da região, e há massivo deslocamento de tropas para o norte da Palestina, mas acreditamos que estejam relacionados aos desenvolvimentos na Síria.”

Sayyed Nasrallah avisa ‘Israel’: não cometam nenhuma loucura no Líbano

“Erra quem suponha que a Resistência é fraca ou vaga. Aqui aviso o inimigo e os grupos e subgrupos que se alinham com ele: não cometam nenhuma loucura no Líbano, porque a Resistência está alerta, preparada e determinada a defender o Líbano” – disse ele. – “Com a ajuda de Deus, triunfaremos em qualquer batalha futura. Os libaneses dedicam-se atentamente e cuidadosamente à análise de todas essas possibilidades.”

“Erra quem acusar o Hezbollah, porque há muitas mãos trabalhando contra a causa palestina: norte-americanos, árabes e o Golfo trabalham aí e todos relacionam-se entre eles mesmos para impor novas condições aos palestinos. Tudo isso gera preocupação, porque nesses casos, as novas condições sempre vêm precedidas por agressão armada, para abalar a coragem e a firmeza dos palestinos.”

Nos orgulhamos de nossos mártires e os sepultamos publicamente

Sua Eminência comentou também o que chamou de “mentiras da mídia” sobre comboios e grande número de mártires”. “A imprensa inventou um leilão de mártires, disputando quem noticia o maior número de mortes; há notícias de que seriam 500. Ontem, a rede Al-Arabiya falava de 30 novos mártires e outra rede falava de covas clandestinas, enterros clandestinos e ‘em etapas’.”

Sayyed Nasrallah lembrou que “o Líbano é país de pequeno território. Onde alguém conseguiria esconder essas centenas de mártires? Nunca, em nossa história, o Hezbollah escondeu os cadáveres de nossos mártires ou os enterramos ‘em etapas’. Em todos os casos, informamos a família de todos os nossos combatentes mártires e os enterramos publicamente, no dia seguinte.”

“O enterro de nossos combatentes mártires é sempre público. Nós nos orgulhamos dos nossos mártires, especialmente dos que tombaram nos últimos dois dias.”

“As notícias sobre grande número de mortos são parte de uma guerra psicológica na qual a mentira deliberada é a principal arma: “minta, minta, minta, até que alguém acredite em você”.

Hoje, o objetivo do inimigo é destruir a Síria

Sobre a crise síria, Sayyed Nasrallah disse que “o objetivo do inimigo, em todos os eventos que se veem hoje na Síria, já não é excluir a Síria do Eixo da Resistência no confronto árabe-israelense. Já não se trata sequer de ganhar poder a qualquer preço. Pode-se dizer que o objetivo de todos que operam na guerra na Síria é destruir a Síria, impedir que se estabeleça ali um estado organizado e forte, e substituí-lo por estado fraco demais para tomar decisões autônomas sobre o petróleo, o mar, as fronteiras sírias.”

“Desde o início da crise síria, os militares já haviam decidido derrubar o governo. Para isso, massacraram civis, convocaram a intervenção estrangeira, usaram armas químicas. Houve clérigos que emitiram Fatwas bem claras, que autorizavam o assassinato de civis. De nosso lado, que é o lado da Resistência, sempre pregamos e continuamos a pregar que se construa um acordo político.”[1]

Sua Eminência acrescentou: “Por causa do que está acontecendo na Síria, a causa palestina está esquecida e corre grave risco de ser apagada. A situação na Síria também afeta o Líbano, o Iraque, toda a região.”

“A Síria tem amigos verdadeiros na região e no mundo, que não permitirão que caia em mãos infiéis de EUA e Israel” – disse o secretário-geral do Hezbollah, que revelou que “o regime sírio já informou aos negociadores russos os nomes que comporão a delegação síria que participará do diálogo com a oposição. Mas o outro lado continua a recusar qualquer tipo de diálogo.”

“O Hezbollah entende que todos que dizem lamentar o banho de sangue na Síria, os que não admitem que a causa palestina seja apagada e esquecida e os que se preocupam com o destino da Síria devem unir-se para buscar um acordo político, uma solução política para a situação síria.”

O Hezbollah tomará todas as medidas necessárias para proteger os moradores dos arredores de Al-Qusayr[2]

Sayyed Nasrallah disse que “os ataques contra as vilas nos arredores de Al-Qusayr aumentaram nos últimos dias e circulam informações de que haveria libaneses envolvidos naqueles ataques, o que forçaria o exército sírio a confrontar os agressores e proteger as vilas. Mas… O que fez o governo libanês para proteger os libaneses que vivem em Al-Qusayr? O governo libanês pode mandar o exército proteger essas pessoas?”

Nesse contexto, Sayyed Nasrallah disse que “o máximo que o governo libanês pode fazer é apresentar um protesto à Liga Árabe. De que vale apresentar protestos ao carrasco executor?”

“Já declaramos expressamente que não deixaremos os libaneses que vivem nos arredores de Al-Qusayr expostos a ataques de grupos armados e que tomaremos todas as medidas necessárias para preservar suas condições de vida”.

Sua Eminência acrescentou que há grupos libaneses “emitindo fatwas, falando e enviando dinheiro e militantes para a Síria através do Líbano e outros países. Que não digam que são inocentes nos eventos na Síria.”

A destruição da mesquita de Sayyeda Zainab[3] terá graves repercussões

O secretário-geral do Hezbollah disse que “na região de Sayyeda Zainab, onde está o santuário de Sayyed Zainab, filha do Imã Ali, há grupos armados ativos. É questão extremamente sensível, sobretudo depois que grupos infiéis anunciaram que, se chegarem ao local, a mesquita será destruída. Há combates ali e muitos mártires da Resistência. Portanto, os grupos da Resistência que combatem ali estão, de fato, impedindo que a sedição se alastre, não incitando a agitação e o tumulto.”

E acrescentou: “Não basta que a oposição e a chamada “Coalizão Síria” oponha-se à destruição daquele lugar santo. Todos os países que apoiam aqueles grupos agressores serão responsabilizados pelo crime, se chegar a acontecer.”

E Sayyed Nasrallah avisou: “Se esse crime chegar a consumar-se, haverá repercussões graves.”

Os sequestrados em Azaz nada têm a ver com o “conflito político’. Têm de ser imediatamente libertados

Sobre os libaneses sequestrados em Azaz, Sua Eminência disse que “o prolongamento desse caso é muito doloroso. Por isso os familiares dos sequestrados andam, de um lugar para outro, com seu protesto.”

Sayyed Nastallah comentou que o prolongamento desse caso, até hoje, obriga a pensar mais detidamente sobre as partes envolvidas e as causas do sequestro.

“Se queriam fazer pressão política, fracassaram obviamente, desde o início. Houve boatos de que queriam resgate, e eu declarei que iria pessoalmente a Damasco para resolver o impasse. Mas depois negaram que desejassem resgate.”

Sua Eminência disse que “Negociações conduzidas por Qatar, Turquia e Arábia Saudita não produziram qualquer resultado”. E exigiu a imediata libertação dos sequestrados, que nada têm a ver com o “conflito político”.

Não queremos que o conflito sírio mude-se para o Líbano

“Não queremos nenhum conflito no Líbano e não queremos que o conflito sírio mude-se para o Líbano. Sabemos de grupos libaneses que atacaram nos arredores de Al-Qusayr. Conhecemos todos, um a um, pelo nome. Mas nada faremos contra eles, porque nosso principal interesse é preservar o Líbano e não envolver o país em qualquer luta” – disse Sayyed Nasrallah.

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[1] Sobre isso ver “Assange entrevista Nasrallah”, 18/4/2012, em  http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/04/hassan-nasrallah-hezbollah-entrevistado.html

[2] Al-Qusayr é cidade estrategicamente importante, porque está na estrada que liga Damasco à costa. Sobre a situação ali:

          “Dizem que a oposição controla metade da Síria… Mas não dão conta de um punhado, no máximo mil, combatentes do Hezbollah? Não passa de propaganda da oposição. O Hezbollah tem todo o direito de defender as áreas sob jurisdição no Líbano e ali a oposição está sendo obrigada à retirada. Eles têm de culpar alguém. Então culparam o Hezbollah (Kamel Wazne, diretor do Centre for American Strategic Studies em Beirute, em Al-Jazeera, 28/4/2013, http://www.aljazeera.com/programmes/insidesyria/2013/04/201342872735993198.html) [NTs]

[3] Sobre a mesquita, importante santuário xiita, ver http://en.wikipedia.org/wiki/Sayyidah_Zaynab_Mosque [NTs]

Publicado em 1/5/2013, Sara Taha Moughnieh, Al-Manar TV (parte 1)
http://www.almanar.com.lb/english/adetails.php?eid=91960&cid=23&fromval=1&frid=23&seccatid=14&s1=1

Traduzido pelo coletivo Vila Vudu