Conclusões sobre o debate europeu: “Agir de forma solidária na Europa”
*Die Linke (A Esquerda), partido alemão
Treze anos após a introdução do euro, o desemprego na Europa atingiu um triste recorde de 12 %, e em muitos países a situação económica e social evolui de forma ainda mais dramática. Na Grécia, o desemprego jovem já superou os 64%, em Espanha subiu para 60%, em Itália e Portugal 40%. Na mesma medida, aumenta também o número de despejos, por falta de pagamento de renda e de empréstimos à habitação.
As políticas de contenção da troika (FMI,UE e BCE) levaram ao colapso dos sistemas públicos de pensões. A par disso, com os obrigatórios programas de privatizações, temos hoje Estados que se desmantelam a si próprios. O colapso do sistema de saúde grego traduziu-se já na incapacidade para assegurar o financiamento de medicamentos. O estado dos Estados piorou. Não dá para continuar assim.
Na visão de Merkel, a Alemanha é um dos poucos países que ainda fica bem na fotografia, com uma taxa de desemprego relativamente baixa (5,4%) e receitas elevadas advindas das exportações. No entanto, esta visão acarretou para os alemães elevados cortes sociais, designadamente no programa Harzt IV (comparável ao RSI em Portugal), privatizações massivas, dumping salarial, emprego precário, política essa que é exportada à custa de outros países europeus.
Merkel e Schäuble orgulham-se desta política de austeridade e apresentam-na como modelo de exportação de qualidade no seio da União Europeia, negando que uma cópia dessas políticas leve a um colapso económico inevitável da Europa. As diferenças dramáticas no seio da UE representam o oposto do que foi proclamado com a introdução do euro. A realidade de uma Europa comum, em que tudo vá bem, está ainda muito distante.
As condições na Europa deterioraram-se. A introdução de uma moeda comum sem salário coordenado e política fiscal comum contaminaram a UE desde o início. As falhas estruturais gravíssimas e os efeitos negativos das chamadas “políticas de resgate do euro” foram levadas ao extremo.
A crítica ao projeto do euro, que abriu ao salário alemão porta e portão para o dumping social, tem nos Die Linke já mais de 15 anos de história.
A linha de rejeição tem sido a mesma desde o início, aquando da introdução do euro, sob o lema “Euro – assim não”, introduzido na altura pelo grupo parlamentar PDS no Bundestag alemão em 1998. O mesmo argumento foi motivo de constituição do WASG, como resistência política ao dumping social e salarial em 2010, essa linha continua na oposição aos planos de resgate europeu na atual legislatura. Desde sempre proclamamos que as exportações continuadas das políticas de Merkel, cortes nos salários e pensões, levariam inevitavelmente à destruição do Euro.
A veracidade dessa análise prova-se na atual conjuntura. O drama da situação europeia torna urgente o desenvolvimento e posicionamento com base nessa análise, isto porque a agudização da crise é um facto consumado e o número de países na zona euro será posto em causa. Um partido de esquerda internacionalista deve, portanto, ser dado a soluções de solidariedade que levem isso em conta. Por isso, é necessário promover um amplo debate. Juntos, devemos confrontar-nos com as nossas amigas e amigos políticos no Chipre, Grécia, Espanha e outros países à mercê dos mercados financeiros e cambiais. Nós somos contra a expulsão à força de qualquer país da zona euro.
Precisamos de desenvolver soluções de solidariedade europeias. Não haverá nenhuma bala de prata. Compromissos serão necessários. Precisamos de um debate sério. Realizado de forma aberta e objectiva.
Tradução de Patric Figueiredo para o Esquerda.net