O novo primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, teve dois motivos para sorrir na semana passada. Em 29 de maio, a Comissão Europeia recomendou a retirada da Itália do processo por déficit excessivo, o “cartão amarelo” dos países que têm contas públicas inconfiáveis. Dois dias antes, o Partido Democrático (PD) de Letta saiu ileso das eleições locais, que, embora parciais, foram o primeiro teste de opinião depois de ele ter formado uma coalizão de governo com o movimento Povo da Liberdade (PDL), de Silvio Berlusconi.

A liberação pela comissão envia um sinal positivo para investidores na dívida pública, e deveria cortar os custos dos empréstimos da Itália, que já estão encolhendo. Isso deverá ajudar a economia, já que rendimentos de títulos mais baixos permitirão que os bancos emprestem mais barato.

O resultado da eleição local teve várias implicações. Ele mostrou que ligar-se a Berlusconi não foi tão prejudicial para o PD quanto temia seu ex-líder, Pier Luigi Bersani. Este renunciou depois que não conseguiu um acordo com o Movimento Cinco Estrelas (M5S) de Beppe Grillo.

Os resultados também fortalecem a coalizão. Berlusconi será tentado a retirar seu apoio assim que acreditar que poderá ganhar uma eleição. As pesquisas haviam sugerido que o PDL já estava superando o PD. Mas as eleições locais mostraram uma história diferente. Em Roma, o prêmio maior, o candidato a prefeito do PD, Ignazio Marino, terminou 12 pontos à frente de Gianni Alemanno, o atual mandatário do PDL. Como nenhum deles alcançou 50%, os dois candidatos se enfrentarão em segundo turno no próximo mês, mas parece provável que Marino vença.

Outra lição foi que a coalizão não reforçou o adversário comum, o M5S de Grillo. De fato, seu movimento recebeu apenas 12% em Roma, muito longe dos 27% que conquistou na cidade na eleição há apenas três meses. Forçar os dois partidos principais a uma aliança desnaturada foi o resultado da recusa de Grillo a negociar com qualquer um deles. A teoria era que isso salientaria suas semelhanças e diferenciaria o M5S. Na prática, significou desistir de qualquer influência na política. Em uma nação de pragmáticos, isso conta mais.

Embora ele possa agora enfrentar distúrbios entre seus seguidores, Grillo se mantém firme no rumo. A abstenção na eleição local foi enorme pelos padrões italianos, e o M5S conquista grande parte de seu apoio seduzindo potenciais abstencionistas. É cedo demais para dizer que a ameaça que ele representa para os partidos da corrente dominante desapareceu. Como indicou Grillo em seu blog, eles continuam perdendo apoio apesar de o governo Letta ainda estar em fase de lua-de-mel (o PD perdeu 250 mil votos em Roma desde 2008).

A liberação da Itália pela comissão levantará as restrições aos investimentos cofinanciados por Bruxelas. Mas não produzirá, como alguns esperavam, os 7 bilhões a 10 bilhões de euros mágicos com os quais financiar a promessa de campanha de Berlusconi de abolir um odiado imposto sobre propriedades e devolver o valor recolhido no ano passado. Esse círculo ainda não fecha.
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