Fábrica de crises
Iria ficar de braços cruzados vendo a presidenta da República — em cadeia nacional de TV e rádio – vir a público anunciar amplas reduções nas tarifas de energia e nos preços dos produtos da cesta básica, demonstrando como a oposição quase destruiu o país enquanto esteve à frente do governo? O status quo determinado por uma base material assentada na troca da inflação pela dívida pública seria ameaçado sem reação, sem aguçar contradições?
Seria uma ilusão política imperdoável imaginar o contrário. Simplesmente pelo fato de o poder estabelecido estar utilizando a seu favor a própria institucionalidade criada por ele mesmo, notadamente a chamada troca do longo prazo pelo curto prazo. Estabilidade monetária como política de Estado e combate à inflação via juros como modus operandi. O círculo oposicionista joga pesado com os desequilíbrios criados pelo início de transição para uma política monetária desenvolvimentista e expansionista.
Uma transição desta envergadura, para obter êxito, deve contar com o médio e longo prazo diante das trepidações causadas por uma expansão da demanda e pelo escancaramento de um perverso modelo voltado ao consumo de alguns em detrimento das necessidades das mais amplas massas populares. A solução pela amplificação dos investimentos produtivos e de viabilização de novas cadeias produtivas é o instrumento de harmonia – no médio e longo prazo – entre oferta e demanda.
A inflação é a contradição inerente ao processo de aprofundamento da mudança de modelo. Mudança tal que se expressou em campanhas oposicionistas contra a Petrobras, a Eletrobrás e o “aumento do intervencionismo estatal”. A demanda por alimentos e seu respectivo encarecimento é a base objetiva para a criação de crises numa trama que se reproduz como uma cadeia produtiva industrial capaz de engendrar um clima em que a nossa moeda passe a ser vítima de um ataque especulativo.
A divulgação de opiniões das famigeradas “agências de risco”, inflação em alta, é a história se repetindo como tragédia e como farsa. O mesmo enredo das vésperas das eleições de 2002. A mesma farsa como condição objetiva para a volta ao programa econômico neoliberal, com os nomes indicados por eles e, se possível, com taxa de juros chegando a dois dígitos e remunerando o passe daqueles que creem terem sido ungidos pelos céus ao poder em nosso país. Eles tentam fabricar a crise e dão a solução à moda de seus próprios interesses. É assim que as coisas funcionam no raciocínio do sistema de oposição.
O Brasil vive com força o florescer de uma grande contradição entre o governo — nucleado por forças democráticas e militantes pelo desenvolvimento – e a oposição das forças conservadoras e retrógradas, que detêm boa parte do domínio financeiro e econômico e que de fato utiliza amplamente de seus poderosos instrumentos, desde o poder da mídia em formar opinião e criar crises até um judiciário que se comporta como um instrumento conservador de manutenção do atual estado de coisas. Publicam manchetes desonestas em que a capa da publicação sublinha em negrito a “queda de popularidade de Dilma” enquanto o conteúdo da matéria nega o próprio título. Não dão a mesma atenção a pesquisas de intenção onde a verdadeira popularidade da presidenta é explicitada sob forma de vitória em primeiro turno – quase acachapante – contra qualquer candidato, em qualquer cenário.
A popularidade da presidenta tira o sono deles. Porém, nosso campo político demanda por meios eficazes de enfrentamento desta campanha antinacional e perversa. O momento é de aprofundar mudanças e não estancá-las ao ponto da apostasia, da regressão e mesmo da capitulação diante de chantagens. Utilizam-se da economia para nos proscrever, nos desmoralizar. Utilizemo-nos de nossa capacidade política. Temos um país a ganhar e um futuro a construir.
*Renato Rabelo é presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)