O Partido nas universidades
O Partido tem uma longa tradição de presença e luta no movimento estudantil universitário. Há mis de duas décadas tem sido uma das principais forças políticas com atuação nesse importante segmento da sociedade brasileira. Na maior parte desse período foi hegemônico e hoje é ainda a corrente que, isoladamente, representa o principal contingente.
Para mantermos essa posição e avançarmos ainda mais precisamos fazer em cada universidade um estudo aprofundado das transformações que estão ocorrendo em seu meio, detectar suas causas internas e externas para elaborarmos as orientações que permitam aos membros do Partido uma firme e ampla atividade junto às massas.
Seguindo a linha de enfoque desta série de artigos podemos dividir a discussão em dois blocos a relação do Partido com a massa e a nossa atuação nas entidades existentes.
Partido legal
Quanto ao primeiro problema, o que aparece em primeiro plano é a necessidade de aprofundar o debate interno com os camaradas que atuam nas universidades quanto ao caráter legal do Partido para adotarmos forma e métodos organizativos de atuação que correspondem a essa condição.
São raras exceções a organização partidária nas universidades ainda atua como no período da semiclandestinidade. Os professores, funcionários e estudantes sabem que existem comunistas atuando em seu meio. Na maioria dos casos todos os camaradas são conhecidos como tal. Há respeito e confiança de amplos setores das massas para com o Partido, sua política e suas orientações. Esse fato fica evidente ao fazermos o levantamento do número de camaradas que são diretores de entidades tanto dos professores como dos funcionários ou dos estudantes.
Se tal ocorre onde está a nossa falha?
Vida pública
Reside no fato de que nossas organizações não tem vida aberta, não se apresentam publicamente. A não ser em poucas universidades a massa não conhece os nossos dirigentes. Falta, portanto, a referência legal ao Partido.
A universidade continua afundada em grave crise. As medidas tomadas pelo governo Collor tendem a aprofundá-la. Há grande expectativa e revolta no seio da comunidade universitária. O debate floresce e se aprofunda na busca de soluções administrativas, estruturais e políticas para sair dessa crise. Nessas circunstâncias como o Partido faz ouvir a sua voz? Como transmite suas opiniões e soluções que considera mais corretas? Em geral o temos feito através de camaradas que atuam nas entidades. Pouco ou quase nada como PCdoB.
O primeiro passo é tornar o Partido público. Editar um pequeno jornal que leve nossas posições às massas. Publicar quando necessário notas, manifestos e proclamações em nome do Partido abordando questões que estejam na ordem do dia e apontando soluções.
Outra medida importante é tornar conhecidos da massa os nossos dirigentes locais. Falar em público em nome do Partido, proferir palestras, realizar debates amplos para expor nossas posições tanto sobre as questões internas da universidade como sobre a situação política nacional será uma das formas fundamentais para vincar mais profundamente a posição do Partido no meio universitário. Os acontecimentos internacionais e particularmente no momento presente, sobre a perspectiva do futuro da humanidade, capitalismo ou socialismo, são temas candentes sobre os quais os setores universitários estão interessados em conhecer nossas posições. Nessas atividades e particular, os professores que militam no Partido poderão e deverão jogar importante papel pela posição que ocupam dentro da universidade.
Nos dias que correm dificilmente consolidaremos e ampliaremos o Partido nas universidades se não enfrentarmos de forma aberta e ampla essas questões.
Posições claras
A campanha antimarxista e anti-socialista cria ao mesmo tempo uma situação contraditória para os comunistas. De um lado, dificuldades, na medida em que visa isolar o Parido das massas apresentando-nos como defensores de um sistema que está em ruínas, de idéias anacrônicas e superadas. Por outro lado, ao ficarmos como únicos defensores do socialismo e do marxismo criamos uma grande expectativa nas massas que querem conhecer as bases científicas de nossas posições, nossa fundamentação em defesa do socialismo e de crítica ao capitalismo.
Para esse embate não basta a afirmação de que é o capitalismo que está condenado pela história e que o futuro da humanidade está no socialismo. É preciso comprovar com dados irrefutáveis essas afirmativas. A defesa do socialismo não pode ser dogmática e principista. Exige uma análise profunda de sua experiência histórica e razões objetivas e subjetivas de sua derrota na URSS e nos demais países que procuram construí-lo, com exceção da Albânia.
A formação teórica, o conheciento do marxismo-leninismo, é, pois, uma exigência para a atuação junto às massas e não apenas para a formação política e ideológica de nossos militantes.
Aliando corretamente o estudo teórico com o conhecimento dos problemas que enfrentam as universidades no país, os nossos camaradas professores, funcionários e estudantes estarão capacitados para desenvolver um profundo e amplo trabalho de massas quer na defesa de seus interesses específicos, como no combate às falsas teorias que pululam no meio universitário e acadêmico. Conjugando esse conteúdo com formas amplas e abertas de atuação do Partido com as massas, sem dúvida alguma consolidaremos e ampliaremos nossas organizações nas universidades e aprofundaremos nossos vínculos às massas.
*Direção Nacional do PCdoB
In: jornal A Classe Operária nº 44 de 8 a 21 de junho de 1990