Do desejo (XVI)

 

Devo viver entre os homens

Se sou mais pêlo, mais dor

Menos garra e menos carne humana?

E não tendo armadura

E tendo quase muito do cordeiro

E quase nada da mão que empunha a faca

Devo continuar a caminhada?

 

 

Devo continuar a te dizer palavras

Se a poesia apodrece 

Entre as ruínas da Casa que é a tua alma?

Ai, Luz que permanece no meu corpo e cara:

Como foi que desaprendi de ser humana?

 

 

Hilda Hilst  – Do desejo