Entender e atender às cartolinas e derrotar a direita
Ao contrário de 1984 e de 1992, quando eclodiram insurgências do povo que guardam semelhança em dimensão com as que agora ocorrem no país, a torrente de gente que corre no leito das avenidas expressa em cartolinas escritas à mão dezenas e dezenas de exigências para melhorar a vida do povo e tirá-lo do sufoco. Em 1984, uma única exigência continha todo o resto: Diretas-Já, contra a ditadura pela democracia. Em 1992, contra a corrupção e o neoliberalismo que se desencadeavam no país, uma cartolina unitária: Fora Collor! O que distingue também 1984 e 1992 de 2013 é que os dois primeiros tiveram à frente das mobilizações forças políticas e sociais organizadas. Agora, em 2013, na ausência desta coordenação democrática, a grande mídia, a serviço do campo político reacionário, procura assumir o comando.
No dia de ontem, 19, mais de um milhão de pessoas foram às avenidas e praças de dezenas de cidades, de vários estados, com espírito cívico e brio, tão característicos dos brasileiros. O povo gritou alto aos governos que merece e exige uma vida melhor. Isto dito nas cartolinas com mil e um dizeres, com criatividade e rebeldia. Na cidade do Rio de Janeiro, os manifestantes fixaram suas mensagens grafadas nas cartolinas numa grade de uma das avenidas. Com este gesto, o povo mandava um recado: leiam, nos entendam e nos atendam! (Posteriormente gangues de vândalos botaram fogo em tais mensagens.) Gangues que do mesmo naipe criminosamente tentaram atear fogo no Ministério das Relações Exteriores.
A grande mídia, a serviço da oligarquia financeira que está furiosa com a redução dos juros, tenta a todo custo tutelar e manipular as manifestações legítimas do povo. De modo golpista, busca induzir os manifestantes a escreverem nas cartolinas “Fora Dilma”. Mas o povo, até aqui, tem rejeitado essa ordem que vem dos “sargentões” que dos estúdios de TV tentam se colocar na condição de “comando geral” das manifestações. Com caneta, com pincel, com lápis, com batom, com carvão, as pessoas grafam um conjunto de direitos que lhe são negados: saúde, transporte, educação, segurança, fim da corrupção…
A grande mídia também dá cobertura – e quase aplaude – à ação de grupelhos inimigos da democracia, fascistóides mesmo, que no dia de ontem, nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, agrediram manifestantes tão somente porque portavam bandeiras de seus partidos ou entidades de trabalhadores. E esta violência foi dirigida contra a esquerda. Para estas truculentas hordas que nada têm a ver com o espírito democrático do povo brasileiro, bastava alguém trajar a cor vermelha para ser alvo de hostilidade. A quem interessa essa caçada aos partidos de esquerda, senão aos reacionários golpistas que ao longo da história sempre tentaram botar abaixo ciclos políticos progressistas?
A própria coordenação do Movimento Passe Livre (MPL) que inicialmente coordenava as manifestações pela redução da passagem, se pronunciou no dia de hoje, que no momento não irá fazer novas mobilizações, em razão destes atos violentos contra militantes de partidos que apoiam essa luta e também pela pauta conservadora quem vem ganhando destaque nas ruas.
A esquerda nasceu nas ruas, nas barricadas das lutas operárias, juvenis e democráticas. Ela se irmana com o povo, e repudia os vândalos e as gangues que tentam se infiltrar nas suas passeatas. E mais cabe a esquerda e ao conjunto das forças democráticas atuarem para derrotar esta tentativa da direita de manipular as manifestações com intuito de desestabilizar um governo que já demonstrou compromisso com a democracia, a soberania nacional e o progresso social.
A presidenta Dilma Rousseff, em alto e bom som, se pronunciou considerando as manifestações como resultantes da democracia que o povo reconquistou em 1985 e que se ampliam – embora sem a velocidade necessária – desde 2003, com o início do governo Lula. Trata-se agora de seu governo: ler, entender e atender aos dizeres, às exigências das cartolinas! Nelas se destacam os graves problemas das cidades cujas soluções demandam uma reforma urbana que o conservadorismo sempre obstruiu. A melhoria do Sistema Único de Saúde que hoje não consegue garantir atendimento de qualidade a quem mais precisa dele, justamente os trabalhadores e os mais pobres. Uma educação pública de qualidade que requer 10% do PIB.
Enfim, o governo da presidenta Dilma Rousseff que, assim como governo Lula , nasceu das lutas do povo tem legitimidade e deve ter sensibilidade para responder os justos anseios do povo brasileiro, melhor caminho para derrotar as forças conservadoras que sempre exploram o povo e,agora, tentar pescar em águas turvas.
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Jornalista e poeta