O espaço é um verdadeiro torturador, por isso não poderei desenvolver a seguir senão alguns poucos pontos e de modo perigosamente sintético. Espero que sejam considerações compreensíveis, pelo menos em parte, e capazes de estimular a reflexão dos leitores.


Digo logo que considero especialmente equivocadas, ainda que sejam formuladas de boa fé, algumas teses atuais relacionadas com a nova fase atravessada pela formação social capitalista, remundializada depois da queda do “socialismo real”. Refiro-me, por exemplo, às novas narrativas de Antonio Negri que se esquecem tranquilamente do imperialismo norte-americano para predicar um improvável império difuso, todo genérico e evasivo, existente pela presença disseminada das grandes “transnacionais”. Império que suscitaria uma oposição supostamente crescente por parte de um “sujeito” também genérico, difuso, sem pontos reais de agregação e organização, etc. Ou pode-se falar das teses típicas de setores de Le Monde Diplomatique ( para além do tal “mundo” de “esquerda” ), que voltam a pregar – quantas vezes isso já ocorreu no âmbito da cultura radical das classes dominantes – a necessidade de reformar o capitalismo, golpeando ( taxando ) a “canalha” financeira, promovendo uma nova intervenção do Estado de sentido vagamente keynesiano, e por aí adiante. Há ainda aqueles que pela enésima vez retomam a necessidade de redistribuição da riqueza dos “ricos” para os “pobres” – uma mescla de cristianismo e socialismo utópico pré-marxista -, sem dizer nada sobre o modo de produção da riqueza ( na sua típica forma monetária ), isto é, sobre a estrutura das relações sociais que fundam esse modo de produção, o capitalista.


Para falar a verdade, não apenas falta espaço, como também existe a exigência de não perder tempo com polêmicas inúteis e antigas – apesar da forma nova, as teses acima são o que há de mais velho e superado -, desaconselhando uma atenta análise crítica do que é novamente difundido, aproveitando-se da catástrofe cultural provocada pelos “mestres ruins” ( ex-marxistas ) e da, consequente, ausência completa de memória histórica – em particular da história do movimento operário e de seus debates internos -, que caracterizam tantos e tantas “jovens” que dão vida ao “novo movimento”. Em vez disso, procurarei concentrar a atenção positivamente sobre algumas questões que considero cruciais. Afirmo desde já que não tentarei apresentar novidades surpreendentes, como muitas vezes  se faz com a pura invenção da “realidade”, simples reflexo de uma imaginação doentia e delirante, mas me limitarei a transformar, de modo oportuno, alguns “velhos” paradigmas para verificar se eles ainda podem sugerir algo de sensato e sobretudo de sóbrio, de bem cuidado, tal como deve ser sempre sóbria, bem cuidada,  a atividade (teórica) de quem pretende assumir uma posição minimamente científica e não de pregação, profética, visionária.

Como veremos na próxima parte deste ensaio.