Na lateral direita, é possível baixar o arquivo original da autora em formato word.

Para esse estudo, tomamos como referência a edição organizada por Andreas Dacerius de 1699, reimpressa em 2009 pela Editora Kessinger de Londres, na qual se encontram reunidas as edições de Vérrio Flacco, Sexto Pompeu Festo e Paulo Diácono, os três autores de DVS, e também usamos como apoio a tradução dessa obra para o francês, de August Savagner, Pompeius Festus – De la signification des mots, de 1846.

Os autores

1- Marcus Verrius Flaccus

Vérrio Flacco, no século primeiro d.C., foi o primeiro a idealizar De Verborum Significatu (daqui por diante DVS) e a dar-lhe concretude . Sobre a sua biografia quase não há informações. Conforme os dados disponíveis, ele talvez tenha nascido em Preneste (hoje Palestrina, na Itália). Essa suspeita se deduz do fato de ele ter elaborado, nessa cidade, um calendário das festas religiosas, conhecido como Praenestini Fasti. Mommsen (1894) afirma que Vérrio, para fazer essa compilação, baseou-se em uma versão literária perdida de tal calendário porque nessa mesma época Ovídio redigia uma versão poética do mesmo. E afirma ainda que Vérrio teve como base, para organizar DVS, a obra De rerum humanarum et diuinarum de Marco T. Varrão (47 a.C.). Sobre Vérrio o que se sabe com certeza é que ele foi um professor muito respeitado , e foi preceptor de Caio e Lúcio, netos do imperador Augusto. De todos os seus livros  apenas esse sobreviveu às intempéries do tempo – mesmo assim muito deteriorado. E do que dele restou foram organizados epítomes: primeiro por Festo e, depois, por Paulo Diácono. Para August Savagner (1846), existem duas DVS com títulos homônimos: a primeira delas teria sido preparada por Vérrio, e a segunda por Festo mais de trezentos anos depois. Epítome mesmo apenas o de Paulo Diácono. Mas para muitos historiadores, existe apenas uma obra: a de Vérrio.

Se essa obra foi escrita dentro dos cânones da época – segundo os quais a grande arte latina devia exprimir os valores tradicionais romanos, porém nos moldes da cultura grega –, então o propósito de Vérrio foi facilitar o trabalho dos gramáticos comentadores de textos antigos. Tanto assim que DVS contém explicações sobre o significado das palavras, bem como frases feitas e provérbios que se referem em sua maioria aos primeiros séculos de Roma. E para colocar em prática seu objetivo, em muitos verbetes Vérrio utiliza a etimologia como recurso, a qual tem por finalidade – para explicar o significado de uma determinada palavra – chegar àquela palavra que é sua base de formação e evolução. Dentre esses verbetes, para os quais ele usa a etimologia para esclarecer a origem, pode-se encontrar: uma justificativa etimológica sem nenhum comentário que a comprove; uma única etimologia; mais de uma etimologia; o nome de um escritor, ou escritores, de cuja obra Vérrio retirou seu exemplo; pronomes indefinidos (alii, quidam), ao invés de indicar o escritor; verbos (aiunt, dicunt), com os quais se generaliza o uso de determinada palavra. Em alguns verbetes ele cita o nome de um escritor como critério de autoridade, muito importante para justificar a escolha de tal ou qual palavra. O fato de um escritor de reconhecido talento usar determinada palavra – considerada obsoleta, ou arcaica – em sua obra por si só tornaria legítimo tal uso. Por isso, em curriculo Vérrio cita o trecho de uma obra de Plauto em que essa palavra aparece com o significado apresentado em DVS. Em consiluere traz um trecho de um texto de Ênio; em cannensem cursore, de Ticínio; em cloacale flumen, de Catão. E ao fazer isso parece que Vérrio recorre a uma espécie de método de busca para voltar no tempo, ou seja, de caráter anacrônico . Em outras palavras: por causa do caráter anacrônico dessas palavras, e para justificar tê-las incluído em sua compilação, Vérrio precisou lançar mão desse recurso, isto é precisou indicar que foram usadas por escritores renomados para tornar plausível a inclusão de tais palavras em sua edição de DVS.

2- Sextus Pompeius Festus

O segundo autor de DVS, Festo, dela fez, por volta do século quarto d.C., um resumo em 20 volumes, eliminando os termos obsoletos desaparecidos do uso e introduzindo alguns. Verifica-se que esses termos são de fato arcaicos porque os escritores citados – como Lucano em bardus, e Marcial em uespae – são de épocas anteriores à de Festo. E ele confirma esse procedimento no verbete porriciam, ao afirmar que em sua compilação, para a organização de seu resumo, teve como intenção eliminar todas as palavras obsoletas e em desuso. Festo não apenas eliminou e introduziu verbetes, mas também manteve muitos da edição de Vérrio. E em alguns desses que escolheu preservar fez comentários críticos em relação à explicação da palavra feita por Vérrio. Em porriciam, no entanto, além de sua crítica ele também informa sobre sua intenção de levar em consideração as opiniões de Vérrio porque tencionava redigir outro livro no qual iria demonstrar suas desavenças com ele. Ou seja, as afirmações de dele serviriam a Festo como argumento para que este pudesse demonstrar suas desavenças com aquele. Mas suas críticas e comentários não se dirigem apenas a Vérrio. Algumas vezes Festo censurou, ou elogiou, a explicação etimológica de outro escritor. Em outras mostrou simplesmente suas dúvidas em relação a certas explicações, sem oferecer alternativas ou mesmo fazer alguma crítica a respeito. Em oppidorum originem elogia Cícero abertamente, em scurrae desqualifica Vérrio e em orchum levanta suspeita em relação à veracidade da etimologia por este apresentada. Em outras ocasiões indica sua preferência entre duas explicações distintas para um mesmo verbete: em occare et occatorem destaca a de Cícero em relação à de Vérrio. Em todos esses exemplos, fica evidente o total desacordo de Festo para com Vérrio. Em suas explicações sobre o significado das palavras Festo não usa termos como etimologia, deriuatio, analogia, compositae uoces. No caso das etimologias apenas em nove ocasiões usa origo (origem): astu, arcani, creui, famuli, oppidorum, publici augures, riuus, romanos, suboles. Mesmo assim para assinalar a procedência dessas palavras: seis vêm do grego, duas do latim e uma do sabino. Em alguns verbetes, quando ele apresenta um processo de formação de palavras pelo qual passou determinada palavra, ele usa os termos compositum (alterum, aurichalcum, deinde) e antífrase (damium, ordinarius homo), ou o faz por meio de verbos (dicitur, appellatus, dictus, ductum), de conjunções e de preposições (a quo, unde, hinc, inde, a, ab eo uenit). Por exemplo: derivação (depeculatus, faui, frugamenta, maiestas), composição (aquagium, alterum, benignus), onomatopeia (crocatio, coturnix), analogia (lustra), prefixação (osi sunt) e antífrase (dierectum, militem). Dos processos de formação de palavras que aparecem nos exemplos dados por Festo para explicar a origem das palavras, a derivação é o mais citado como se observa em: depeculatus, euerriator, faui, frugamenta, internectio, obliteratum, grauastellus, instaurari, orchus, nare, porigam, pilat, pristinum, suspectus, pullarium, apricum, antes, armillas, caprae, dispensatores, delinquere, priuos priuasque, forum, lacit, necem.

3- Paulus Diaconus

Paulo Diácono (monge beneditino Paulo Warnefrit) também organizou um resumo de DVS no século oitavo d.C. Mas não se ocupou com comentários como Festo, simplesmente reeditou a obra. Ele submeteu a edição de Festo a uma nova síntese, fez uma nova seleção de verbetes e nela incluiu sua interpretação pessoal, como declara em sua dedicatória ao imperador Carlos Magno.

Paulo Diácono nasceu entre 720 e 735 em Friuli, Itália, de uma família nobre da Lombardia. Ele recebeu uma educação excepcionalmente boa, provavelmente na corte do rei lombardo Rachi na Pávia, e teria sido secretário do rei Desidério. Sabe-se com certeza que Paulo Diácono foi preceptor de Adelperga, filha do rei. Depois do casamento dela com o duque Arichis II, Diácono escreveu, a pedido dela, a História Romana – continuação do Breviarium de Eutrópio. E quando Pávia foi tomada por Carlos Magno, em 774, Diácono teria se refugiado na corte em Benevento. Pouco tempo depois ele entrou para um mosteiro, no Lago de Como na Lombardia, e antes de 782 passou a viver na Casa beneditina, de Monte Cassino, onde conheceu Carlos Magno. E devido a seu talento literário, Paulo Diácono teria influenciado no renascimento carolíngio. Ele retornou à Itália e a Monte Cassino, em 787 e ali morreu a 13 de abril, entre 796 e 799.

Sua intenção principal – conforme afirma no prefácio de sua edição dedicada ao imperador Carlos Magno – foi “acrescentar algo para vossas bibliotecas”. Uma das funções de Diácono quando admitido por esse imperador para fazer parte de sua equipe foi justamente cuidar da produção literária. Havia a intenção de fazer com que a cultura latina – e suas tradições religiosas principalmente – não fosse esquecida e simplesmente relegada ao passado, e então toda obra que Diácono entendeu como importante para resgatar esses valores foi editada ou reeditada, como é o caso de DVS. Ele chamou a atenção de Carlos Magno por seu grande prestígio intelectual e por isso foi convidado a lecionar nos conventos, além de cuidar da produção literária. Mas especificamente em relação à DVS, Diácono afirma ainda em seu prefácio que na preparação de sua reedição retiraria aquelas palavras que fossem consideradas supérfluas, já em desuso, se encarregaria de explicar mais bem todas as de difícil compreensão e algumas ele manteria como estavam, como ele mesmo observa. E chama DVS de compêndio, obra para ser lida e não simplesmente usada como referência. Segundo Augusto Magne (1971), Diácono em seu resumo teria eliminado palavras e explicações que Festo havia incluído em sua edição, retirado exemplos de escritores arcaicos, atribuído a Vérrio opiniões que esse gramático não admitia e escolhido entre as explicações deste em que são citados os escritores aquelas de sua preferência. No verbete amoena, por exemplo , a explicação que Diácono apresenta seria diferente da apresentada por Vérrio. Nessa época a igreja católica possuía estrutura hierárquica rígida e organização centralizada, e monopolizava a educação e a cultura. Em meio ao esfacelamento do império romano, ela consolidou sua estrutura religiosa e difundiu o cristianismo entre os povos bárbaros. “Pode-se dizer, considerando as iniciativas educativas do clero secular e do clero regular, que mudaram os conteúdos, e que dos clássicos da tradição helenístico-romana passou-se para os clássicos da tradição bíblico-evangélica” . Durante o governo carolíngio a Europa atinge avanços significativos com a construção de vários mosteiros, abadias e conventos, e também com a criação da escola Palatina. Sob o império de Carlos Magno surge o primeiro programa de educação e são trazidos vários religiosos da Europa, educando desta forma a nobreza . Carlos Magno pretendia tornar seu vasto império – disperso e se desfazendo nessa época – num único reino, numa unidade espiritual. Para tanto educar intelectual, moral e religiosamente os povos bárbaros que o constituíam se fazia extremamente necessário. Ele necessitava então de um clero culto, pois dele sairiam os intelectuais que se encarregariam dessa educação. Precisava de profissionais muito bem preparados para se ocuparem dessa tarefa nas tantas escolas que ia fundando e desenvolvendo. Essa foi uma das funções de Paulo Diácono – então muito conhecido – em seu trabalho na corte de Carlos Magno: formar o clero para que tivesse o preparo necessário para educar esses povos, e em especial os funcionários do império. Ele chegou a lecionar na famosa Escola Palatina, a qual serviu de modelo a outras que surgiriam dali para frente. Em seu programa estavam incluídas as sete artes liberais, divididas em trivium – gramática, retórica, dialética – e quadrivium – aritmética, geometria, astronomia, música e, mais tarde, a medicina.

Manuscritos

O manuscrito de DVS foi trazido da Ilíria no século XVI, do qual Pompônio Leto possuía algumas folhas. Este e Manílio Rallo confiaram-no a Anjo Politião para que o colocasse em ordem e o copiasse. Em seguida foi passado para Aldo Manuce. Em 1559 foi impresso por Antonio D’Augustin, primeiro bispo de Lérida e arcebispo de Tarragona; em 1581 Orsini dele produz uma espécie de fac-símile. Em suma, esse manuscrito está hoje na Biblioteca Farnese, agora em Nápoles. E uma nova cópia dele foi feita por Louis Arndts.

O manuscrito original possui 41 folhas em pergaminho, frente e verso, em 164 colunas. Sua margem externa está queimada e há traços de fogo na maioria das folhas. Em algumas delas a parte queimada foi cortada, e a coluna externa da folha 19 totalmente suprimida. As oito primeiras folhas estão quase ilegíveis e, além disso, o pergaminho está esburacado em algumas partes. A partir da folha 9 o texto é muito limpo e claro, mas ele contém muitas abreviaturas e vícios de linguagem e de pontuação. Nele apenas se veem as maiúsculas – totalmente tortas – no início de cada item. Cada página possui 33, 34 linhas, e algumas vezes 35. Em geral, quase não há interpolações, mas há traços de revisão.

Na edição de Paulo Diácono houve a inclusão dos fragmentos conservados por Pompônio Leto, não existentes no manuscrito da Biblioteca Farnese. Mas o original desses fragmentos não é conhecido, dele apenas havia cópias. O de Farnese foi copiado do que foi usado por Paulo Diácono – o que pode explicar as falhas reproduzidas na edição deste.

Os manuscritos do Epítome de Paulo Diácono podem ser divididos em duas categorias: primeira: os que reproduzem o texto mesmo desse autor, desfigurado mais por falhas de copistas; segunda: aqueles em que há correção ou interpolação. Na primeira, encontram-se os manuscritos de Munique e de Wolfenbüttel e na segunda, os de Leipzig e de Berlim.

O manuscrito de Munique, antes pertencente à igreja Santo Emmeron de Ratisbonne, é um pergaminho de pequeno formato, próprio do início do século XI. O de Wolfenbüttel, também pergaminho, é do século X, ou até antes. Ele pertenceu a Louis Carrion e tem por título Excerpta ex libris Pompei Festi de Significatione Verborum.

O de Berlim é do século XIII e foi examinado por Lindemann. Comparado com os de Munique e de Wolfenbüttel, neste o copista escreveu as palavras que lhe apresentassem sentido. O de Leipzig foi editado em papel de formato bem grande. Foi copiado de um manuscrito antigo e nas margens de sua edição há correções feitas por Antoine Augustin. Além desses manuscritos, usados por Lindemann em sua edição, há outros conservados em bibliotecas de Suíça, França, Inglaterra e Itália.

Considera-se como edição princeps de Paulo Diácono a que foi feita sobre o manuscrito de Wolfenbüttel: Sext. Pompeius Festus de Verborum Significatione, Mediol., 3 non. aug., 1471. Uma edição mais recente traz no final os seguintes dizeres: Festi Pompei liber peroptime emendatus expletus est: ac impensa Johannis de Colonia nec non Johannis Manthen de Gherrezen qui una fideliter degunt impressioni deditus anno a Natali Christiano 1474, die 24 decembri.

A edição de Antoine Augustin foi publicada pela primeira vez em Veneza, em 1559, por Charles Sigônio. A de Fúlvio Orsini em 1581. Os fragmentos de Vérrio, o que resta da edição de Festo e o Epítome de Paulo Diácono foram incluídos por Godefroy em Auctores Linguae Latinae, 1602, e reimpressos em edição de Dacier, ad usum Delphini (Paris, 1681, e Amsterdã, 1699). Em 1699 Andreas Dacerius organizou uma edição com acréscimo de notas de Joseph Scaligeri, Fúlvio Ursini e Augustin. Em 1832 saiu em Leipzig a de M. Lindemann, no 10º volume da Collection des grammairiens latins. M. Egger reeditou a de Orsini em 1838. E em 1839 saiu a de Ch.-Ottf Müller em Leipzig, sob o título Sexti Pompei Festi de Verborum significatione quae supersunt cum Pauli Epitome.

O dicionário De Verborum Significatu

A obra DVS foi organizada com o objetivo de facilitar o trabalho dos filólogos e gramáticos antigos em seus estudos de textos antigos – conforme já mencionado na introdução deste trabalho. Tal facilitação nesse contexto equivalia a disponibilizar a esses estudiosos o acesso ao significado do maior número de palavras possível para que assim pudessem dedicar mais tempo a seu trabalho sem se preocuparem em ainda pesquisar tal ou qual vocábulo do qual precisassem compreender o significado. E o empenho de Vérrio, de Festo e de Paulo Diácono acabou resultando na edição de DVS que pode ser considerada um dicionário. Ela é assim considerada porque dicionário é uma obra cuja característica principal é compilar palavras, com a respectiva significação em determinado idioma, ou a sua versão para outro idioma – dicionário monolíngue ou dicionário bilíngue. No caso de DVS, monolíngue.

Levando-se em conta essa tipologia descrita, DVS poderia ser considerada como dicionário histórico porque nela se apresenta o significado antigo de grande parte das palavras, com citações retiradas de obras consolidadas de autores respeitados e conceituados. Também poderia muito bem ser definida como dicionário etimológico porque demonstra a origem de muitas delas, porém sem expressar sua evolução histórica. A evolução histórica aqui parece ter ficado um tanto prejudicada dada a distância temporal entre cada uma das edições de DVS, mas ela poderia ser depreendida de uma comparação entre essas edições e da análise das obras das quais foram retiradas as citações. Esse seria um estudo sobre o qual valeria a pena se debruçar.

DVS possui ainda características de um dicionário de língua porque de muitas palavras ela explica o significado, e serviria muito bem para consulta no caso de termos hoje considerados arcaicos e que seriam úteis para o estudo de obras antigas não apenas da área de letras clássicas como também de áreas como direito, história, religião, geografia. DVS se distancia um pouco desse tipo de dicionário porque em alguns verbetes ela traz o sinônimo, ou alguns sinônimos. É um dicionário monolíngue porque ocupa-se apenas em explicar em latim o significado de palavras latinas. Em alguns casos DVS expõe sobre aspectos culturais e religiosos de tradição greco-romana e quando isso acontece se aproxima muito do propósito de um dicionário enciclopédico – mais do que de uma simples enciclopédia – porque também trata sobre coisas, pessoas, lugares, e do universo cultural de então, além de suas características de dicionário de língua. Nesse sentido, é referência para pesquisa de assuntos relacionados.

DVS não se encaixa completamente em nenhum dos tipos de dicionários descritos acima, ele possui um pouco das características de cada um deles. Mas é um dicionário. Um pouco diferente, mas dicionário. A maioria de suas definições é bem direta e bem sucinta. Em alguns verbetes elas são bastante desenvolvidas, mas também muito objetivas, como em geral acontece nos dicionários de língua. DVS apresenta substantivos, adjetivos, advérbios, preposições, conjunções, pronomes, verbos e também algumas expressões – pouquíssimas – muito usadas na época de cada um de seus autores. Mas nos verbetes não há indicação da classe de palavra como costuma haver em dicionários usuais de línguas, nem a regência nominal ou verbal. Apenas aparece o significado e/ou sua etimologia, com a presença de exemplos ou não. Quando há exemplos é possível inferir sua regência. Em alguns deles, aparecem questões referentes à fonética e à ortografia, mas DVS se ocupa fundamentalmente da semântica porque tem por objetivo esclarecer o significado das palavras.

Tradição gramatical greco-romana

Desde que entre os estudiosos do tema houve a preocupação em sistematizar a escrita por meio de regras e conceitos – no início atribuição de alguns filósofos –, a principal questão que se discute em relação à gramática se refere à pendenga entre língua e fala. Ou seja: até que ponto a norma padrão pode deixar de ser praticada na fala, no uso da língua? Até que ponto se considera como “errada” a linguagem usada na fala? Até que ponto é obrigatório observar o uso rigoroso das regras gramaticais na escrita? Até que ponto a fala é totalmente livre de regras gramaticais? Até que ponto pode-se dispensar a norma padrão na escrita?

Em relação à DVS, isso não é diferente. E para a análise da mesma se faz necessário uma breve retomada do que foram entre os gregos e os romanos – que é o que interessa nesta tese – os estudos filológicos e linguísticos.

Segundo Louis Holtz (1981), não houve logo estudos e pesquisas gramaticais de cunho propriamente científico, e nem mesmo na época dos sofistas – em que a linguagem lhes despertou interesse, em certo sentido – houve o surgimento de uma nova disciplina com esse caráter. Havia nas escolas a leitura de obras de poetas; e com essa atividade, acompanhada de um comentário sobre elas, os mestres de então acabavam de algum modo levantando questões acerca da linguagem e assuntos relacionados – mas os sofistas já começavam a buscar uma aplicação específica dessas questões. Conseguiu-se, por exemplo, perceber a correspondência das palavras com os objetos, e então o problema principal foi confirmar se a conexão dos objetos aos seus nomes teria fundamento natural – uma designação justa para cada um deles, por natureza – ou se, ao contrário, era embasada em regras. Sobre esta questão Platão trata em Crátilo. Mas para esse filósofo o estudo propriamente linguístico sobre o assunto não traria a solução para o problema – isso apenas seria possível com a dialética.

Os sofistas também voltaram as suas atenções sobre a retórica, e consideravam que por meio dela pudessem retirar da palavra uma maneira para vencer em todas as discussões. E, então, seria natural que a língua motivasse cuidados de aprimoramento, principalmente na correção e elegância de dizer, e nos efeitos fonéticos. Ao lado disso Protágoras desenvolvia estudos de certo alcance gramatical, como a classificação das preposições. Mas não havia ainda a preocupação com uma sistematização gramatical, com uma teoria – ou codificação – dos fenômenos linguísticos de uma língua. Só na chamada idade alexandrina é que especificamente foram iniciados estudos sobre tais fenômenos linguísticos. Surgiram nessa época métodos de trabalho filológico devido à fundação de bibliotecas na Alexandria, pois as obras literárias para que pudessem ser colocadas à disposição de seus leitores, antes precisariam passar por um rigoroso trabalho de edição, a começar pela disposição das palavras, primeiro em parágrafos e depois nas páginas. E para tanto foram estabelecidas regras – critérios de caráter linguístico e filológico – para uma rigorosa preparação desses textos. As bibliotecas vieram a favorecer grandemente esse resultado. E assim surgiram gerações de sábios bibliotecários, como Zenódoto de Éfeso, Eratóstenes de Cirena, Aristófanes de Bizâncio, cuja atividade – não conhecida por testemunhos diretos – tem como prova os inúmeros escólios e comentários de grandes obras literárias.

A partir desses trabalhos, os estudos filológicos e também os linguísticos se desenvolveram muito. Por causa deles, houve a necessidade da explicação das palavras com o registro de glosas ou termos de difícil compreensão, e com a escrita de termos dialetais. Houve grande empenho no estudo da prosódia e da métrica – muito necessárias para a reprodução dos textos. Mas ainda não aparecia nesses estudos a gramática como hoje a entendemos. Pode-se citar apenas a teoria de Aristarco sobre as oito partes da oração. A gramática com método e alcance preciso só foi possível com os estoicos, em grande parte por causa de sua tendência educativa. Estes, com essa orientação pedagógica, pelo valor prático e pela novidade, estabeleceram os alicerces da gramática escolar; e Dionísio Trácio, no final do segundo século a.C., elaborou um tratado no qual incluiu, além das oito partes do discurso, comentário sobre algumas espécies e variedades da língua grega. Dessa época em diante houve grande avanço na sistematização e análise das questões gramaticais. E ainda desenvolveram-se os estudos lexicológicos, com a fixação de cânones retóricos – que estabeleceram leis estilísticas, de tropos, figuras, metaplasmos.

Em Roma, quando iniciaram tais estudos, os gramáticos seguiram a doutrina estoica. Crates de Malos inclusive lecionou em Roma em meados do século segundo a.C. Élio Estilão, primeiro gramático romano, era estoico e foi mestre de Marco T. Varrão que, fiel a seus ensinamentos, dedicou-se à questão da analogia em De lingua latina, em torno do estudo da etimologia, da morfologia e da sintaxe. Essa obra sofreu mutilações pela passagem do tempo e dela restam seis dos seus vinte e cinco volumes, nos quais o autor expõe a antiga controvérsia entre anomalia e analogia. De Varrão em diante, os romanos – aprendendo com os gregos – também desenvolveram seus estudos filológicos e linguísticos: César, Cícero, Vérrio Flacco, Sêneca, no chamado século de ouro. Depois vieram: Remio Palemão, Ascônio Pediano, Probo, Quintiliano – com sua Instituição Oratória –, Festo, Aulo Gélio – com suas digressões retóricas e gramaticais em Noites Áticas –, Diomedes, Donato, Mário Victorino, Prisciano.

Passado o período clássico romano, algo parecido com o que aconteceu com o pensamento e a civilização grega ocorre em Roma: há o nascimento de uma chamada “idade de prata” nas letras latinas, de modo que os autores do século I d.C. em diante reconheciam no passado uma espécie de apogeu, ao qual não se poderia mais chegar. O advento de uma espécie de “helenismo” em Roma fez com que gramáticos e filólogos se preocupassem com a língua literária do período clássico, estabelecendo os padrões de excelência e correção nos autores do passado. Os gramáticos latinos – cujos pontos de vista eram semelhantes aos dos estudiosos gregos de Alexandria – voltaram, como estes, a atenção para a linguagem da literatura clássica, pois nesse período a gramática servia como introdução e fundamentação dos estudos literários .

Essa é a época de Prisciano, representante máximo da tradição gramatical latina. Professor de latim em Constantinopla da segunda metade do século quinto até o início do século sexto, ele proporcionou ao ocidente uma visão bastante ampla do que teria sido a gramática escrita por suas “autoridades máximas”: Apolônio e Herodiano. E sua obra Institutiones Grammaticae é uma tentativa de transmitir essa tradição. Nela há uma compilação de dados sobre a língua latina de grandes proporções, e ela serviu de base para os materiais de ensino de latim posteriores – o que causou uma influência peculiar nos filósofos e gramáticos que desenvolveram teorias mais originais na Idade Média . Esses estudiosos ficaram conhecidos como gramáticos especulativos, e desenvolveram teorias muito diferentes do que havia sido trazido pela tradição alexandrina através dos gramáticos latinos: estava de volta a especulação filosófica sobre a linguagem como a inaugurada por Platão, Aristóteles e os estoicos.

A gramática latina – com toda a sua teoria e retórica, com todas as influências recebidas dos gregos – conquistou grande prestígio para manter-se durante toda a idade média e, depois, para se revigorar nas obras gramaticais da época do Renascimento – que, de certo modo, foram as primeiras a sistematizar as línguas românicas.

Questões de fonética

DVS é ainda uma obra pouco estudada, como já foi dito, e por isso mesmo quase não há análises dela. Nos poucos estudos que existem, são feitas análises filológicas a partir de cotejos entre os manuscritos de DVS usados para a preparação das edições dela existentes. Nesta análise – que não tem por objetivo uma edição crítica –, foram estabelecidos como ponto de partida os estudos de Albert C. Clark, de Louis Havet, de W. M. Lindsay e H. J. Thomson, bem como as notas e explicações de M. A. Savagner em sua edição de DVS. O objetivo desses estudos foi fazer uma análise filológica mediante a qual são revelados trechos mal transcritos de difícil compreensão, interpolações, expressões estranhas, e até erros gramaticais. E mesmo por isso eles foram muito úteis para a definição da linha de análise desta tese. Os comentários expostos sobre esses problemas ajudaram nessa definição; em outras palavras, indicaram o melhor caminho a seguir para o estudo aqui feito: comentar as questões fonéticas e de ortografia apontadas por Festo em suas explicações sobre o significado das palavras. E também contribuíram para essa definição as notas de rodapé de M. A. Savagner em sua edição de DVS. Tais estudos ajudaram ainda a compreender e a perceber mais a fundo as questões de caráter gramatical não inteligíveis à primeira vista. Eles ajudaram a desvendar o que ali está subjacente, pronto para ser descoberto, bastando para tanto mais o preparo adequado do que qualquer outra coisa. Além de tais estudos, a leitura de Il metodo degli umanisti, de Remigio Sabbadini, também foi de grande valia para a definição da linha de análise desta tese.

Em Sabbadini, que trata sobre o método dos humanistas na idade média – época que abrange as edições de Festo e de Paulo Diácono –, há uma questão subjacente muito específica dos estudos linguísticos que permeia sua análise sobre como esses intelectuais encaravam seus estudos: a ortografia. Ele afirma que esse método possui defeitos e qualidades. Os intelectuais – tanto os brilhantes quanto os pedantes – deviam evitar esses defeitos e esforçar-se para reproduzir essas qualidades. E a maior qualidade dos humanistas seria que eles possuíam um amor desinteressado pelos estudos e uma paixão pela antiguidade que de tão grandes e sinceros os levaram a mais e mais pesquisas sobre obras mais antigas.

Os copistas da idade média para seus trabalhos de preparação do texto de obras antigas possuíam poucas fontes para consulta sobre questões ortográficas – como dicionários, por exemplo –, e precisavam confiar em sua memória. Havia apenas os léxicos medievais de Papias, Hugutio, Giovanni Balbi e o Liber glossarum que, segundo Sabbadini, já estavam ultrapassados para a época. As línguas se renovam com o passar do tempo e, por isso, há necessidade de novas obras de referência que as acompanhem. Esse fato por si só deixa evidente a necessidade de muita atenção em relação ao texto dos manuscritos que tenha sido preparado por tais copistas porque corrigiam aquelas palavras – ou mesmo simplesmente as suprimiam – a partir de seu ponto de vista próprio quando julgassem que sua escrita não estivesse correta.

Sabbadini ainda afirma que os humanistas se dedicavam a discutir sobre importantes questões da época, como: deve-se escrever em latim ou em italiano? Novas palavras podem ser cunhadas? Qual a origem e a natureza da língua latina? Ele se refere em sua obra ao italiano, mas essas questões são plenamente aplicáveis a qualquer língua românica, na época em gestação. E – segundo esse mesmo autor – eles enfrentavam essas questões com meios inadequados, mas eram os meios dos quais dispunham. Apenas em Policião encontram-se análises que podem ser levadas em consideração. Os humanistas em geral ainda não tinham maturidade suficiente – apesar de sua formação erudita – para examinar autores e fenômenos literários, mas eram bastante seguros em relação à crítica formal e tinham condições de apontar problemas gramaticais e de estilo. De qualquer modo, segundo Sabbadini, não se pode confiar cegamente nos pareceres desses antigos estudiosos; pode-se tão somente suspeitar – o que não significa não haver observações justas e novas. Novas obviamente para a época em questão, que significam mais propriamente questões atualizadas.

Os humanistas foram ativos e amorosos pesquisadores, grandes descobridores de códices antigos, e zelosos copistas – e eram instruídos para tanto, mas possuíam forte sentimento da própria personalidade. Esse preparo adequado mais esse sentimento autocentrado lhes garantiam confiança para esses trabalhos; confiança a ponto de nas cópias não seguirem a ortografia do códice, mas aplicarem a sua própria, e os trechos que não compreendiam simplesmente eram suprimidos. Com isso, há diferentes textos das obras copiadas por esse método. E também nos manuscritos de DVS se percebe essa postura da parte de copistas formados pelo método humanista.

Percebe-se que a edição de Dacerius procurou publicar o texto de DVS tal como ele aparece nos manuscritos, e quando aparecem explicações diferentes para um mesmo verbete – mesmo que de tempo verbal, ou uma conjunção diferente – ele as inclui em sequência; e ele coloca como nota de rodapé as suas observações sobre lacunas, interpolações ou erros. Já M. A. Savagner, em alguns verbetes manteve o texto do manuscrito e explicou possíveis problemas em notas; em outros inseriu a alteração que entendeu como mais correta direto no texto em latim, mas não sem também explicá-la em nota de rodapé. Essa é a diferença que salta à vista entre essas edições.

Este trabalho, trilhando caminho aberto por Sabbadini, aponta as questões fonéticas e de ortografia mencionadas por Festo em seu resumo, para evidenciar as evoluções fonéticas que influenciaram nas mudanças ortográficas dessas palavras. A questão ortográfica é crucial para o estabelecimento de texto, em uma publicação, seja em que época for – principalmente dessas obras editadas na idade média em que se procurava dar maior destaque ao latim em detrimento do grego ou de outras línguas, ou linguagens, quaisquer. Não se trata de estudo exaustivo porque não há muitas dessas questões ao longo do texto de DVS, mas sim apenas uma contribuição para estudos como este.

Apresentamos abaixo algumas questões fonéticas e de ortografia que foram indicadas por Festo – exatamente como aparecem ao longo de DVS –, sem que delas façamos uma análise.

1- Auus: veio do grego páppos, da qual algumas letras foram mudadas na transcrição para o latim, resultando em auus.
2- Amicitiae: houve a formação das palavras ameci e amecae, a partir de amic-, com a mudança da letra -e para -i no radical.
3- Ab oloes: os antigos usaram oloes ao invés de illis, para não ter de duplicar a letra -l.
4- Ancaesa: o verbo caelare ter-se-ia formado a partir de ancaesa, mudando a letra -d para -l.
5- Aulae: a palavra aula se transformou em olla.
6- Chilo: com a letra -h, Chilo é um sobrenome, e sem essa letra passa a cilo, adjetivo com o qual se caracteriza uma pessoa que possua a cabeça um tanto disforme.
7- Coctiones: os antigos escreviam essa palavra com a letra -u na primeira sílaba, cuctiones.
8- Familia: a palavra famuli (escravo) vem de familia com a letra -i mudada para -u.
9- Melicae: em melica foi substituída a letra -d por -l.
10- Medius fidius: fidius era muitas vezes usada com a letra -d mudada para -l.
11- Marspedis: essa palavra também aparece escrita sem a letra -r, maspedis; e explica ser desconhecido o significado dessa palavra.
12- Nautea: veio de nausea, tendo havido a troca da letra -t pela letra -s.
13- Nonae: nona vem de noua luna porque ela aparece no nono dia, e por isso deveria ser juntada a letra -u (de noua) na primeira sílaba de nona – que daria nouna.
14- Nobilis: os antigos escreviam essa palavra com a letra -g no início, gnobilis.
15- Odefacit: dizia-se odefacit com o sentido de olefacit por causa de costume de trocar letras.
16- Ouantes: palavra formada com a letra -o duplicada por causa do barulho que os soldados faziam.
17- Orcus: esse nome é uma interpretação de Urgus, porque se entendia a letra -u como -o e se usava a letra -c no lugar de -g.
18- Percunctatio: indica que Vérrio escrevia a segunda sílaba com a letra -o.
19- Prodigia: essa palavra era pronunciada com a letra -c ao invés de -g.
20- Pecuus: o genitivo dessa palavra de 4ª declinação dobrava a vogal -u.
21- Quincentum: os antigos escreviam com a letra -c e alongavam a primeira sílaba.
22- R: em algumas palavras se usava a letra -r ao invés de -s.
23- Refutare: veio de fari, com a letra -a mudada para -u; e recludere vem de claudere.
24- Supellectilis: algumas palavras da 3ª declinação terminadas em -x no nominativo não recebem uma sílaba a mais na declinação dos demais casos, como senex.
25- Scutilus: veio de scrutilus com a supressão da letra -r.

Conclusão

Hoje a importância de DVS gira em torno do fato de que ela é referência para estudos de áreas diferenciadas, principalmente na de letras clássicas.

A pesquisa sobre DVS se revelou muito delicada pelo fato de quase não existirem estudos ou dados em torno dela. Mas também se mostrou desafiante, e ao mesmo tempo muito estimulante, já no início da pesquisa sobre Vérrio Flacco, Festo e Paulo Diácono, que perceberam a importância dessa obra cada um em sua época. O que há de fato é a própria obra que, ao longo do tempo, revelou-se terreno bastante fecundo que por si só diz muito – uma obra extremamente rica em informações linguísticas e filológicas, e que tem muito a oferecer sobre algumas características desses três escritores não muito conhecidos por extrema falta de documentos. E hoje fundamental pelo fato de ser referência para estudos de áreas diferenciadas, principalmente na de letras clássicas.

Questões fonéticas e de ortografia ali se encontram a piscar como estrelas à noite no céu. A primeira impressão é de que quase nada se conseguiria ali, mas basta um olhar mais aprofundado e muito atento e logo as informações começam a pulular.

DVS é como uma fotografia antiga, as cores estão um pouco apagadas, mas a imagem ainda permanece ali, mostrando as características de uma língua em épocas bem distantes da nossa – o que poderia significar que ela não possui validade alguma. Mas, ao contrário, a importância dessa obra se dá exatamente por essas características estarem ali congeladas no tempo. Para muitos estudiosos elas são valiosíssimas. DVS foi escrita, e depois modificada em resumos, numa época em que houve influências de diversas outras línguas sobre o latim; e isso obviamente gerou muitas alterações sobre as palavras. E todas essas alterações estão ali preservadas apenas aguardando serem descobertas, e estudadas.

Com este trabalho se percebe que muitas das palavras apresentadas em DVS não são mais usadas em português, mas há também entre elas algumas ainda em pleno uso e com o mesmo significado de tantos séculos atrás: candelabro, capital, casta, cláusula, delícia, duelo, exemplo, exército, fanática, fórcipes, genial, gentil, ímpeto, ímpar, jugo, limites, língua, maior, masculino, naval, nervo, nexo, opaca, oval, pecúnia, perene, petulante, probo, réu, regime, regalia, salto, santo, seco, sinistro, solar, tributo, título, turma, urbano, vasto, veste. Todas essas palavras têm sua história ali contada.

DVS guarda muitas informações históricas, linguísticas, filológicas, jurídicas, religiosas. Todas elas muito valiosas, dadas por simples palavras. Palavras que foram compiladas por critérios diferenciados, pois ela foi manipulada por três escritores de épocas distantes. Apesar dessas diferenças, percebe-se ao estudá-la que eles compartilhassem valores ali indicados que não enfraqueceram nem mesmo durante a passagem de tanto tempo entre a época de Vérrio até a de Paulo Diácono. São mais de mil anos. Mesmo assim muitos hábitos e costumes perseveraram – e isso pode ser plenamente confirmado pela própria obra.

DVS está aí à disposição para que sejam desvendados esses e muitos outros segredos nele guardados.

* Maria Lucilia Ruy é doutora em Letras Clássicas, pela Universidade de São Paulo (USP). E, atualmente, pós-doutoranda na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), supervisionada pelo professor doutor Amós Coelho da Silva.

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